“Eu fiz”: por que Bozoma Saint John defende que mulheres negras assumam o crédito

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“Eu fiz”: por que Bozoma Saint John defende que mulheres negras assumam o crédito

Em entrevista à empreendedora Emma Grede, cofundadora da Good American, Bozoma Saint John compartilhou aprendizados profundos sobre carreira, poder pessoal e o que significa se posicionar com autenticidade em ambientes de alta performance. Ao longo de uma trajetória que passou por empresas como Pepsi, Apple, Uber, Netflix e Endeavor, ela aprendeu que excelência técnica não basta. Visibilidade e autodefesa são competências essenciais, especialmente para mulheres negras em espaços corporativos.

“Eu nunca tomei o crédito por nada. Sempre dizia ‘nós fizemos’”, contou, ao relembrar um momento decisivo na Pepsi. Depois de mais de uma década na empresa e enfrentando o luto pela morte de seu marido, ela esperava uma promoção. Ela não veio. “Ninguém vem para lhe dar crédito. Você tem que defender a si mesma”, afirmou.

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Para Bozoma, esse foi o ponto de virada. Ela entendeu que ser competente, leal ou comprometida não era suficiente. Ser visível era parte do trabalho. Mais do que isso: era responsabilidade individual. “Você tem que dizer o que fez, o porquê da sua entrega ter sido importante, o impacto que você gerou. Se você não fizer isso, vão agir como se você não estivesse lá.”

Essa postura de verbalizar, afirmar e reivindicar o próprio valor se tornou parte do que ela chama de autodefesa radical. E é também o cerne de sua filosofia profissional: colocar-se em primeiro lugar, não como ato de ego, mas como estratégia de permanência. “Se você quer melhorar esta empresa, você vai me contratar. Porque eu me coloco em primeiro lugar, sempre.”

Esse posicionamento direto já foi visto como arrogância. “Diziam que eu me achava maior que a marca”, relata. A resposta dela é simples: “Sou. Do que você está falando?”. Para Bozoma, não se trata de sobrepor o indivíduo à missão da empresa. Trata-se de não se perder dentro dela. “Ninguém me chamava de durona até que eu mesma comecei a me chamar assim.”

Mulher negra, ganense e filha de imigrantes, Bozoma cresceu ouvindo que a excelência era o mínimo. Seu pai, órfão, tornou-se doutor duas vezes. Sua mãe, estilista autodidata, costurava vestidos de noiva e criava coleções no quarto da família. Ela aprendeu que presença, estética e identidade caminhavam juntas. E que ser “muito” nunca seria o problema. O silêncio, sim.

Seu currículo fala por si. Mas o que ela prefere destacar são as regras que decidiu quebrar. Como quando criticou um roteiro de Spike Lee — ainda como assistente — e acabou sendo contratada por sua ousadia. Ou como quando deixou a Uber no auge da crise institucional por entender que já não era mais valorizada ali. Ou ainda quando investiu, com recursos próprios, em sua empresa de beleza, Eve by Bose, porque quis manter o controle da narrativa e da cadeia produtiva.

A lógica que guia suas decisões é clara: o que não reconhece seu valor, não merece sua energia. “Você é a primeira marca. Comece por você”, repete, em entrevistas e mentorias.

Hoje, mais do que ensinar sobre marketing, Bozoma se posiciona como uma referência sobre carreira, liderança e identidade. E talvez sua maior contribuição não seja sobre como criar uma campanha inesquecível, mas sobre como garantir que seu nome esteja nos créditos quando ela acontecer.

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