Pesquisa da Datafolha aponta que 43% dos estudantes negros na rede pública de educação básica correm risco de abandonar os estudos por causa da pandemia. Entre os alunos brancos, o percentual é de 35%. Os dados foram conseguidos a partir da perspectiva das famílias. Para pais e responsáveis os estudantes não têm evoluído na aprendizagem e admitem que podem abandonar os estudos.
Em relação às diferenças socioeconômicas, o problema afeta quase metade dos estudantes das famílias que vivem com apenas um salário mínimo, em contraste com os 31% daquelas com renda entre dois e cinco salários mínimos. O risco é ainda maior nas áreas rurais (51%) do que nas urbanas (39%) e incide mais na região Nordeste (50%) do que na Sul (31%).
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Outro ponto relevante da pesquisa diz respeito ao impacto da pandemia na alfabetização. De acordo com os pais e responsáveis, 88% dos estudantes matriculados no 1º, 2 º e 3 º ano do ensino fundamental estão em “processo de alfabetização”. Dessa proporção, mais da metade (51%) das crianças ficou no mesmo estágio de aprendizado, ou seja, não aprendeu nada de novo (29%), ou desaprendeu o que já sabia (22%), segundo a percepção dos responsáveis.
Mais uma vez, as desigualdades chamam atenção. No Nordeste, 28% dos familiares disseram que a criança desaprendeu, enquanto no Sul esse percentual é de 17%. A pesquisa mostra ainda que 57% dos estudantes brancos aprenderam coisas novas durante a pandemia na percepção de seus responsáveis – índice que cai para 41% entre os negros. “Em um ano de acompanhamento, os dados mostram esforços importantes das redes públicas para oferta do ensino remoto. Entretanto, as desigualdades em relação à qualidade dessa oferta se acentuaram, assim como os riscos de abandono escolar. É urgente para o país estabelecer uma estratégia compartilhada, que traga coerência ao processo, com o compromisso de ampliar as oportunidades aos mais vulneráveis, de modo a recuperar o que foi perdido agora e melhorar os resultados educacionais para as próximas gerações”, avalia a gerente de Pesquisa e Desenvolvimento do Itaú Social, Patrícia Mota Guedes.
Aprendizado na Pandemia — A pesquisa identificou que 96% dos estudantes receberam algum tipo de atividade escolar neste ano, mas isso não se reflete necessariamente na percepção dos responsáveis sobre o desempenho. Para 86% dos pais e responsáveis, o desempenho escolar dos seus filhos antes da pandemia era ótimo ou bom e, agora, esse índice caiu para 59% — uma diferença de 27 pontos percentuais. O baixo desempenho escolar é a principal preocupação deles no caso de alunos que não estão em processo de alfabetização.
Reabertura Desigual das Escolas — Segundo os pais e responsáveis entrevistados, apenas 24% dos estudantes tiveram as escolas reabertas (mesmo que parcialmente), mas na região Norte esse índice é ainda mais baixo, de apenas 6%. Somente 16% dos estudantes de baixo nível socioeconômico tiveram escolas reabertas, ante 38% daqueles que estudam em unidades de alto nível socioeconômico.
Outro dado do Datafolha mostra que, entre os estudantes que tiveram a escola reaberta, 40% não foram para a aula presencial. O principal motivo para isso foi algum fator ligado à pandemia. No retorno às escolas, 63% dos estudantes estão sendo avaliados para identificar as suas dificuldades, mas só 29% estão recebendo aulas de reforço.
Entre os estudantes que têm aulas a partir de casa, a dificuldade de manter a rotina aumentou de 58% em maio de 2020, para 69% um ano depois. O aumento foi em todos os ciclos, sendo mais expressivo entre as crianças dos anos iniciais (1º ao 5º ano do ensino fundamental) e da região Nordeste (que passou de 58% para 74%).
Sexta Onda — Em um período de um ano (de maio de 2020 a maio de 2021) foram realizadas seis pesquisas Datafolha na série “Educação não presencial na perspectiva dos estudantes e suas famílias”. Esta sexta onda registra a evolução de alguns indicadores da educação remota neste período. As pesquisas anteriores foram em maio, junho, julho, setembro e novembro de 2020. A pesquisa quantitativa foi realizada entre os dias 22 de abril e 21 de maio de 2021, com abordagem telefônica, com responsáveis por crianças e adolescentes com idades entre 6 e 18 anos da rede pública, em todas as regiões do país.
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