A discriminação racial com base em estilos de cabelo voltou à tona no Estado do Texas, nos Estados Unidos, com o recente caso de um estudante negro do terceiro ano da Barbers Hill High School, Darryl George, que foi suspenso por violar o código de vestimenta do distrito por conta do uso de dreadlocks. Os funcionários da escola afirmaram que o cabelo de George ultrapassava as sobrancelhas e os lóbulos das orelhas.
O caso aconteceu na semana passada e segundo a mãe de George, Darresha George, o adolescente de 17 anos usa seus dreads torcidos e amarrados no topo da cabeça. O estudante cumpriu a suspensão e planejava voltar às aulas usando o penteado de rabo de cavalo, ainda que isso resulte no jovem ser obrigado a frequentar uma escola alternativa. Na família de George, o uso de dreadlocks é uma tradição de várias gerações, com profundo significado cultural e religioso. “Nosso cabelo é onde está nossa força, são nossas raízes. Ele tem seus ancestrais presos em seus cabelos e sabe disso”, comentou Darresha.
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A mãe do adolescente afirmou que Darryl cultiva seus dreads há quase 10 anos e que a família nunca havia recebido reclamações a respeito dos seus cabelos. A mãe explicou que os cabelos do filho quando estão soltos ficam pendurados acima dos ombros e que não entende como poderiam ter violado o código de vestimenta já que o jovem usava o cabelo preso. “Eu até tive uma discussão sobre a Lei CROWN com o diretor e o vice-diretor”, disse ela. “Eles disseram que o ato não cobre o comprimento do cabelo dele.”
O superintendente distrital, Greg Poole, defendeu a política do código de vestimenta, argumentando que ela é legal e ensina os alunos a se conformarem como um sacrifício que beneficia a todos. No entanto, a aplicação rigorosa dessas políticas está gerando debates e levanta questões sobre os direitos dos estudantes e a necessidade de sensibilidade cultural no ambiente escolar.
O Distrito Escolar Independente de Barbers Hill estabelece diretrizes que incluem a proibição para alunos do sexo masculino de manter cabelos que ultrapassem as sobrancelhas, lóbulos das orelhas ou a parte superior da gola de suas camisetas, conforme especificado em seu manual do aluno. Além disso, o manual diz que todos os alunos devem manter seus cabelos ‘limpos’, ‘bem-cuidados’, com um estilo geométrico e sem cores ou variações não naturais. Importante destacar que a escola não possui um código de vestimenta específico com uniformes.
A discriminação sofrida pelo adolescente desencadeou uma série de debates sobre a discriminação contra o cabelo de pessoas negras nas escolas e no local de trabalho, especialmente considerando a recém-promulgada Lei CROWN do estado, que entrou em vigor em 1º de setembro. A lei, cujo acrônimo significa “Criar um mundo respeitoso e aberto para cabelos naturais,” tem o objetivo de proibir a discriminação racial baseada na textura do cabelo ou penteados protetores, incluindo afros, tranças, dreadlocks, torções. O Texas é um dos 24 estados que adotaram uma versão da Lei CROWN, enquanto uma versão federal foi aprovada na Câmara dos Representantes no ano passado, mas não passou no Senado.
Os dreads têm uma significância cultural profunda, representando uma conexão com a história, a herança e até mesmo a espiritualidade. Candice Matthews, ministra nacional da política da Nova Nação dos Panteras Negras, afirmou que “Dreadlocks são percebidos como uma conexão com a sabedoria, não é uma moda passageira e não se trata de chamar atenção. O cabelo é a nossa ligação com a nossa alma, a nossa herança e a nossa ligação com Deus.”
Historicamente, tranças e outros estilos de cabelo desempenharam papéis cruciais na comunicação e identidade nas sociedades africanas, servindo para identificar a filiação tribal, estado civil e até como pistas de segurança e liberdade para aqueles que foram capturados e escravizados.
Após a abolição da escravidão, o cabelo afro-americano tornou-se uma questão política, já que os padrões de beleza eurocêntricos continuaram a perpetuar o estigma profissional e social para aqueles que não aderiam a eles. Embora a Lei dos Direitos Civis de 1964 tenha proibido a discriminação racial, os desafios persistem.
O caso de Darryl George não é o primeiro confronto do Distrito Escolar Independente de Barbers Hill com um estudante negro em relação ao código de vestimenta. Em 2020, um caso anterior envolveu um estudante que também foi instruído a cortar seus dreadlocks para continuar frequentando a escola. A determinação gerou polêmica e repercutiu nacionalmente.
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