
David Oyelowo, estrela dos filmes ‘Selma’ e ‘O Mordomo da Casa Branca’, protagoniza a nova série da Apple TV+, ‘Vidas Processadas’, que estreou na última quarta-feira, 16 de abril. Diferente destas tramas que abordam histórias reais da luta pela igualdade racial nos Estados Unidos, agora o ator nigeriano-britânico interpreta Hampton Chambers no final dos anos 1960, que faz de tudo para se reaproximar emocionalmente da esposa e dos dois filhos adolescentes após passar um período em cárcere privado, e tenta lançar a sua invenção no mercado para ficar rico.
Em entrevista à editora Halitane Rocha do Mundo Negro durante uma coletiva de imprensa, o ator e produtor executivo da série, falou sobre o processo para construção de uma família que entregasse a emoção da comédia dramática para o telespectador. “O verdadeiro desafio era que precisávamos de atores que não fossem apenas comédias óbvias para ter sutileza, mas também atores que não fossem apenas drama e intensidade, sem permitir leveza. Atores têm energias diferentes. Também precisamos de atores que se encaixem no período”.
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“Simone (Missick), Jah (Di’Allo Winston) e Evan (Ellison) eram a combinação perfeita, porque todos esses elementos estavam lá. Dava para vê-los no período. Então, havia espaço para realmente arriscar com os elementos mais dramáticos, porque é um tom muito específico que estamos tentando atingir com a série”, elogia o elenco.

“Se você os considerasse como personagens individualmente, não sei se diria instantaneamente: ‘Ah, todos eles pertencem àquela família’. Mas eu diria que há muitas famílias em que você tem filhos muito diferentes, pais que não concordam, mas de alguma forma há um amor no meio das coisas que os une. E se drama é conflito, essa é a receita perfeita”, completou o ator entusiasmado.
Apesar de ser uma série de época, uma das inovações na produção é o protagonismo de uma família negra que não gira em torno dos conflitos raciais. Astoria Chambers (Simone Missick), por exemplo, esposa do Hampton, entra em uma jornada de autodescoberta ao precisar cuidar dos filhos sozinha, descobre novos interesses pessoais e profissionais, inclusive mantém uma boa relação com pessoas brancas no trabalho e na vizinhança.
“Para mim, foi revigorante poder abordar essa personagem dessa família, essa mulher, Atoria Chambers, que é mãe e cuida de dois meninos em crescimento no final da década de 1960, sem a presença do marido, até que ele retorne. Mas poder abordar isso sem ter que lidar com o trauma do que normalmente vemos retratado em famílias negras naquela época, sem ter que navegar pelo equilíbrio do componente racial, as lutas raciais do movimento pelos Direitos Civis. Havia uma verdade nisso”, disse a atriz na entrevista.

Missick mergulhou em como era a vida familiar naquela época. “Tive a oportunidade de falar com meus familiares, minha mãe e minha tia. E quando eles falavam sobre sua criação em Detroit na década de 1960, não estavam falando sobre marchas e brutalidade policial ou disparidade racial. Eles tinham vizinhos que eram brancos e multiculturais, o que achei muito interessante, porque não era isso que eu tinha visto retratado na tela nos mais de 30 anos que assistia televisão e filmes. E então, algo que parecia tão distante estava, na verdade, mais próximo de mim do que eu imaginava, sendo a vida dos meus familiares”, relatou.
“Poder compartilhar isso e mostrar que essa verdade também era realidade naquela época, e fazer isso em uma série engraçada, leve, fantástica, que lida com elementos, temas e tons tão únicos, pensei que fosse um presente não só para mim, mas para o público, saber que existe mais de uma perspectiva para aquele período e para a nossa realidade”, conclui.
Aeysha Carr, co-showrunner e produtora executiva, completou sobre como essa abordagem na série foi revigorante. “David interpretou Martin Luther King Jr. (em ‘Selma’). Há ótimos filmes sobre a população negra e não estou dizendo que não há espaço para mais, mas acho que queríamos mostrar uma família negra nessa época, porque havia dias ruins da revolução, havia dias em que você simplesmente existia, e queríamos permitir que esses personagens tivessem uma vida que às vezes não fosse restringida por esse tipo de dor”, contou.

“Você vê isso nos pequenos momentos em que o cara diz: ‘o que eu ganho por contratar uma mulher com filhos?’. Havia muitas famílias negras, mães solteiras com filhos. Introduzimos isso em pequenas doses, mas não queríamos que essa fosse a história que estávamos contando. Queríamos mesmo mostrar uma família sob uma luz diferente, naquele período”, concluiu.
Inspirações para os adolescentes negros
Jahi Di’Allo Winston e Evan Ellison interpretam os irmãos adolescentes Harrison e Einstein, respectivamente. Harrison entra numa jornada para tentar manter uma boa relação com o pai diante do retorno dele, inclusive seguindo o conselho cultural de um povo indígena da região. Enquanto Einstein, como o próprio nome sugere, é muito inteligente, se preparando para ingressar em uma universidade de prestígio, porém o mais peculiar é o seu interesse no salto com vara. Seus personagens são inspirados na infância de Paul Hunter, co-showrunner, e o seu irmão.
“A história dos nativos americanos aconteceu na vida de Paul. Ele tinha um vizinho nativo americano que o apresentou a essa cultura e ele achou real, ele tirou algo daquilo e isso ficou com ele. Então, acho que essas histórias e a questão do salto com vara são estranhas e bizarras, e é um esporte de verdade. Você pode ir às Olimpíadas para o salto com vara, mas não é algo sobre o qual muitas pessoas falem. Então, era apenas uma questão de tentar encontrar maneiras de pegar momentos reais da história e da vida de Paul enquanto crescia e colocá-los neste programa”, contou Aeysha Carr.

Os jovens exploraram muito a vida de Hunter para entender seus personagens. “Muitas das coisas mais animadas e selvagens da história estão enraizadas em alguma história real que surgiu na infância de Paul. E então, esses pequenos pedaços de informação foram realmente essenciais para construir a dinâmica familiar e, especificamente, meu personagem”, contou Jahi Di’Allo Winston.
“Eu acho que foi realmente muito legal e quase inspirador ver alguém tão certo do que quer fazer. Eu só queria descobrir por que ele queria fazer isso. Foi emocionante descobrir sua vibe e quem ele era. O relacionamento dele com o pai é bem legal porque ele, assim como o pai, Hampton, é que os dois são otimistas, eu diria. Foi muito divertido interpretá-lo”, disse Evan Ellison sobre as características que mais gostou de Einstein.
Já para Winston, um adolescente negro como Harrison foi muito atrativo para querer o papel. “Nós o descrevemos como uma espécie de cínico da família, mas ele também é muito inteligente e tem uma empatia inata por outras pessoas além de si mesmo. E isso meio que transparece na compreensão dele sobre diferentes culturas e pessoas além dele. Às vezes, pode parecer que ele está tentando ter uma superioridade moral, mas na verdade está enraizado nele ser intensamente apaixonado por qualquer coisa com a qual ele realmente se importe. E eu amei isso. Você consegue ver um ponto de vista diferente sobre um jovem adolescente negro. Para mim, isso é diferente de qualquer personagem que eu já interpretei”, relatou.

O timing cômico da série
Bokeem Woodbine, famoso por seus papéis na série ‘Fargo’ e ‘Queen e Slim’, integra o elenco interpretando Bootsy, o amigo do Hampton. Eles formam uma boa dupla na trama e nos bastidores.
“Trabalhar com o David foi muito divertido. Ele é um grande profissional, um ótimo ser humano e foi simplesmente incrível trabalhar com ele. O trabalho que fazemos é desafiador, então é revigorante e gratificante desfrutar da companhia da pessoa com quem você está trabalhando e se dar bem com alguém, especialmente se vocês estão atuando como amigos. Deveria ser assim, mas nem sempre é assim. Então, a experiência foi fantástica e tranquila”, contou Woodbine.
O desafio para o ator, estava na dinâmica da comédia da série. “O timing cômico para entender onde está a piada, mas não se inclinar demais para isso. Você sabe o que está buscando, mas não quer forçar demais. É um equilíbrio. E tentar alcançar isso tem sido um desafio constante”, disse. “Tem momentos no episódio cinco que eu achei muito difíceis, porque achei tão engraçado que me fez rir enquanto lia”, lembrou.

Com essa excelente produção de comédia dramática, Woodbine está seguro da recepção do público. “Tenho muita esperança de que as pessoas sejam receptivas ao que fizemos e que talvez vejam um reflexo de pessoas que conhecem em suas vidas, ou talvez de suas próprias famílias, e do nosso projeto”, concluiu.
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