
A Rock World, empresa responsável pela organização dos festivais Rock in Rio e The Town, foi incluída na “lista suja” do Ministério do Trabalho e Emprego, que reúne empregadores responsabilizados por submeterem trabalhadores a condições análogas à escravidão.
A inclusão ocorre após a conclusão de processo administrativo aberto a partir de uma operação realizada em setembro de 2023 por auditores da Superintendência Regional do Trabalho no Rio de Janeiro, com apoio do Ministério Público do Trabalho. Na ocasião, 14 pessoas foram resgatadas em condições degradantes durante a montagem do Rock in Rio.
Notícias Relacionadas



Segundo os fiscais, os trabalhadores — contratados por meio da empresa terceirizada FBC Backstage Eventos — eram submetidos a jornadas exaustivas, chegando a trabalhar 21 horas seguidas e dormir apenas três. Dormiam no chão, sobre papelões, usavam mochilas como travesseiros e tinham acesso precário a banheiros e alimentação. Parte das mulheres tomava banho com caneca no banheiro feminino, sem porta com maçaneta, para impedir a entrada de homens.

Os resgatados atuavam na carga e descarga de equipamentos, montagem de estruturas e limpeza. Receberiam diárias entre R$ 90 e R$ 150, mas parte dos valores não foi paga.
Auditores lavraram 21 autos de infração contra a FBC Backstage e 11 contra a Rock World, que foi responsabilizada por não fiscalizar adequadamente as condições oferecidas pela contratada, como exige a legislação trabalhista.
A chamada “lista suja” não prevê punições diretas, mas é usada por bancos e empresas para avaliação de risco. Por isso, é considerada referência internacional no combate ao trabalho escravo contemporâneo pelas Nações Unidas.
Em nota enviada ao UOL, a Rock World afirmou repudiar “as acusações de trabalho análogo à escravidão e qualquer forma de trabalho que desrespeite a dignidade do trabalhador e a legislação vigente”. Alega ainda que os problemas foram causados exclusivamente pela terceirizada, já incluída na lista em abril, e que teria tomado providências assim que soube do caso.
A empresa também afirmou colaborar com as autoridades e reforçou que, em mais de 40 anos de atuação, sempre zelou por padrões rigorosos de contratação, gerando “impacto positivo na economia” e cerca de 20 mil empregos diretos e indiretos.
Essa não é a primeira ocorrência de trabalho análogo ao escravo em festivais organizados pela Rock World. Em 2013, 93 trabalhadores foram resgatados no Rock in Rio em ação envolvendo o Bob’s, que usava mão de obra terceirizada em condições precárias para vender bebidas. Dois anos depois, 17 pessoas que vendiam batatas fritas também foram resgatadas em situação semelhante, com dívidas superiores ao que recebiam.
Na época, a organização do Rock in Rio afirmou que a contratação de funcionários era de responsabilidade dos operadores de alimentos e que tomava providências ao ser notificada.
Notícias Recentes


