Empreendedoras negras são as que mais enfrentam barreiras no acesso ao crédito, aponta pesquisa

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Empreendedoras negras são as que mais enfrentam barreiras no acesso ao crédito, aponta pesquisa
Ana Fontes, fundadora da Rede Mulher Empreendedora e do Instituto RME (Foto: Divulgação)

Mulheres negras são as que enfrentam os maiores obstáculos para acessar crédito e impulsionar seus negócios no Brasil, segundo a 10ª edição da pesquisa “Empreendedoras e Seus Negócios 2025”, realizada anualmente pelo Instituto Rede Mulher Empreendedora (IRME) por meio do seu Laboratório de Gênero e Empreendedorismo, e execução da Ideafix. O estudo revela dados sobre acesso a crédito no Brasil e se dedicou a compreender os principais desafios e oportunidades para o crescimento dos pequenos negócios femininos e também revelou a desigualdade racial no acesso.

“Mulheres brancas têm 23% dos pedidos negados, contra 29% das mulheres negras. Além disso, os valores obtidos por mulheres negras tendem a ser menores: 37% delas receberam até R$2 mil, frente a 22% das mulheres brancas. Apenas 6% das empreendedoras negras acessaram empréstimos acima de R$20 mil, ante 20% das empreendedoras brancas”, explica Ana Fontes, empreendedora social e fundadora da Rede Mulher Empreendedora e do Instituto RME.

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A pesquisa, que ouviu 1.043 mulheres de todas as regiões, revela que 57,3% das empreendedoras afirmam não ter dívidas em 2025 — um movimento que pode refletir tanto a cautela diante das incertezas econômicas quanto o esforço para manter as contas em dia. Ainda assim, a realidade financeira é marcada por contradições: 72,1% estão negativadas como pessoa física, indicando que muitas recorrem ao crédito pessoal enquanto mantêm seus CNPJs sem restrições.

Mesmo com a necessidade de investimento para crescer, 65,5% das empreendedoras nunca solicitaram crédito para o negócio, enquanto apenas 21% tentaram mais de uma vez. Entre as que buscaram recursos, os bancos privados lideram a procura (52,4%), seguidos por fintechs (39,6%) e bancos públicos (33,2%).

O estudo também evidencia que a informalidade segue como barreira para muitas mulheres: 74,5% acessam crédito como pessoa física, e apenas 35,3% como pessoa jurídica. As fintechs aparecem como alternativa para empréstimos menores e liberação rápida, enquanto bancos públicos e cooperativas atendem negócios formalizados e valores mais altos.

O perfil racial das participantes se divide entre mulheres negras (49%) e brancas (48%). A maioria está entre 30 e 59 anos, com concentração na faixa dos 40 aos 49 anos. Em média, elas têm renda mensal de R$ 2.400, são chefes de família (58,3%) e sustentam outras pessoas com essa renda (69,4%). Pela primeira vez, o desemprego superou a busca por independência financeira como principal motivação para empreender.

Discriminação no processo de crédito

Entre as mulheres que tiveram o crédito negado, 30,5% relatam ter sofrido algum tipo de discriminação, enquanto esse percentual sobe para 35,5% entre aquelas que ainda aguardavam resposta. Questões como gênero, raça/cor, classe social, território periférico ou rural e escolaridade aparecem como motivadores do tratamento discriminatório.

No total, 26,3% das empreendedoras tiveram o pedido de crédito negado, e 8,6% ainda esperam retorno. A negativação do nome foi o principal motivo apontado para a recusa (58,5%). Para muitas, a falta de crédito dificultou o planejamento dos negócios (23,4%) e até impactou a renda familiar (5,3%).

Setores onde essas mulheres atuam

A área de alimentação e gastronomia concentra a maior parte das empreendedoras (19,6%), seguida pelos setores de beleza, estética e bem-estar (16,7%). Já segmentos como tecnologia (2,4%), transporte (1,8%) e turismo (1,5%) permanecem com baixa participação feminina — especialmente negra — evidenciando a necessidade de investimentos, inclusão e formação para ampliar o acesso dessas mulheres a setores mais lucrativos e valorizados.

Em 2025, o setor de beleza perdeu espaço, enquanto os negócios ligados a arte e cultura registraram crescimento.

A metodologia da pesquisa combina dados quantitativos e qualitativos e inclui entrevistas com representantes de instituições financeiras que atuam no Brasil e na América Latina. A coleta foi realizada em agosto de 2025.

Novo fundo para apoiar empreendedoras — com foco no Norte e Nordeste

Junto com a divulgação da pesquisa, o IRME anunciou o lançamento do FIRME – Fundo de Impacto e Renda para Mulheres Empreendedoras, que vai disponibilizar R$ 2,5 milhões em crédito orientado para mulheres à frente de pequenos negócios. O fundo prioriza empreendedoras das regiões Norte e Nordeste, além de negócios com impacto social e sustentável.

A iniciativa combina financiamento, capacitação e mentorias individuais, fortalecendo negócios desde o planejamento até a execução. O FIRME é realizado pelo Instituto RME com apoio da Rede Mulher Empreendedora e parceria do Banco Pérola, instituição com mais de 16 anos de experiência em microcrédito produtivo orientado.

Pesquisa completa: https://institutorme.org.br/lab-irme/

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