Texto: Calazans
O Brasil herdou muito da sua arte dos povos africanos. Por muito tempo a palavra arte ecoava dentro da minha cabeça como coisa de gente branca. E de uma certa forma, fomos criados ouvindo que os grandes nomes da arte eram os homens brancos europeus. Como poderia ter gente preta fazendo arte igual a eles se estávamos amarrados e amordaçados na condição de pessoas escravizadas?
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Na arte contemporânea temos vários nomes fortes e potentes, jovens negros que em sua maioria são crias das periferias e dos guetos brasileiros. Isso me deixa muito feliz.
As obras do jovem artista Emerson Rocha traduzem o que as pessoas negras vivem. Para ele “arte é alimento, um alento em meio a tanta dor, incerteza e falta de esperança que há por aí. A arte vem como algo reparador, daquilo de mais bonito e subjetivo que há dentro de cada um. Arte é renovação. Arte é esperança e mais do que isso, arte pra mim é uma conversa, entre obra e você”.
Rocha é artista visual, crítico e curador. Atualmente, suas obras estão expostas no Museu de Arte do Rio, na exposição “Um defeito de cor”, e ficarão lá até o dia 14/05. Sua arte também pode ser vista e adquirida em sua rede social. O seu trabalho é focado nas problemáticas voltadas ao lugar dos povos afro-brasileiros na sociedade.
Estamos presentes nas danças, comidas, músicas, moda, nas artes e nos costumes dessa terra diversa que é o Brasil
Concordo com o artista quando ele ressalta que viver da arte é um verdadeiro desafio. Essa percepção é nítida e podemos observá-la dentro dos grandes lugares como galerias e museus, quantos artistas negros nos representam dentro desses espaços?
Nem só de samba e feijoada é feita a nossa cultura, a religiosidade e a estética das religiões de matriz africana nos permitem fazer uma leitura mais ampla sobre o nosso povo e a nossa cultura.
Emerson teve uma infância muito difícil, sua mãe e seu pai conseguiram criá-lo com o básico, viveu em uma casa precária ao lado de suas duas irmãs. Sofreu como vários jovens negros desse país, com a falta de políticas públicas que atingem, em sua maioria, a comunidade preta.
Suas pinturas podem ser consideradas uma personificação de si mesmo, segundo ele “uma parte linda e bonita sobre a sua vida. O seu trabalho”.
Ver suas obras é como se estivéssemos dando um rolê na quebrada, a vida cotidiana das pessoas que vivem ali, aliás, pessoas que têm sonhos e vontade de viver.
Para ele o caminho é árduo, mas sem luta não teve vitória. É justamente essa vontade de desenhar e escrever que o mantém.
Encerro esse texto com uma frase que me chamou muito a atenção nesse bate papo com o Emerson “não desista, faça por você e por quem veio antes. ser feliz e próspero é nossa obrigação ancestral”.
Viva a arte!