Você já parou para pensar em quem são as pessoas que mais sofrem com discursos de ódio na internet? A jornalista premiada Luciana Barreto, atualmente âncora da CNN, lança o seu primeiro livro: “Discursos de ódio contra negros nas redes sociais“, resultado da sua dissertação de mestrado, com uma contribuição pública por documentar a dimensão digital do racismo no Brasil.
“Uso no livro uma pesquisa do professor Luiz Valério Trindade que mostra que 81% dos discursos de ódio racistas são direcionados às mulheres negras com características semelhantes a minha: profissional com curso superior, cabelo crespo etc”, diz Luciana Barreto, em entrevista ao Mundo Negro, com a editora Isadora Santos.
Notícias Relacionadas



Na análise dos discursos contra pessoas negras, a jornalita observa que “palavras que remetem a eliminação, morte, aparecem com frequência. Isso é muito grave porque está projetando uma conjuntura de ódio mas também de eliminação”, completa.
Neste sábado, dia 2 de dezembro, às 15h, a autora receberá o público na Livraria e Edições Folha Seca, no Centro do Rio de Janeiro; e no dia 7, a partir das 18h30, na Martins Fontes da Consolação, Na Consolação, São Paulo. O livro custa R$ 45.

Leia a entrevista completa abaixo:
Com a exposição de casos de racismo e de comentários racistas na internet, como analisa o comportamento dos usuários de redes sociais atualmente?
É um momento ainda muito delicado. Veja bem, todo “hater” ou, como eu prefiro dizer, todo “odiador” tenta incansavelmente derrotar o seu alvo. Ele quer derrotar ideias mas quer também, acima de tudo, a conversão do seu alvo. O discurso de ódio contra negros aparece de uma maneira muito mais complicada, neste sentido. É o que chamamos de “inconvertibilidade do sujeito”. De uma maneira simples e direta: “um preto nunca vai ser branco”. Isso é fundamental para entender as marcas discursivas do hater racista. Em resumo, no discurso de ódio contra negros, palavras que remetem a eliminação, morte, aparecem com frequência. Isso é muito grave porque está projetando uma conjuntura de ódio mas também de eliminação.

Já existem medidas judiciais eficazes para punir usuários que publicam discursos de ódio?
Tenho um capítulo do livro dedicado a questão jurídica. Penso que talvez seja o aspecto mais bem resolvido do problema. Quando comecei a estudar discurso de ódio percebi que a literatura sobre o tema se resumia à questão jurídica, inclusive. Faço no livro uma leitura do tema sob o ponto de vista da Análise do Discurso (AD), que nos permite uma reflexão mais profunda sobre interferências desses discursos que ultrapassam à questão jurídica.

No que ainda precisamos avançar para proteger pessoas negras no ambiente digital?
Precisamos avançar muito ainda. Estamos na fase de reconhecimento e aceitação de que existe um problema grave. Cobrar das grandes empresas de tecnologia mecanismos eficazes para coibir a circulação desses discursos. Ainda não temos a responsabilização de quem realmente distribui esses discursos. Precisamos com urgência entender a força do que está acontecendo e, mais ainda, como esses discursos estão interferindo na sociedade. Sem isso, não avançaremos.

Você poderia compartilhar alguma experiência pessoal sua relativa a ataques online?
Sou uma estudiosa do tema então faço uma análise dos discursos direcionados a mim também. Uso no livro uma pesquisa do professor Luiz Valério Trindade que mostra que 81% dos discursos de ódio racistas são direcionados às mulheres negras com características semelhantes a minha: profissional com curso superior, cabelo crespo etc. Tem uma intencionalidade muito evidente quando analisamos estes casos: o hater quer minar o emocional, quer atingir e distrair a vítima. De certa maneira, o hater quer “eliminar” a vítima daquele espaço, daquele local que ele julga não pertencer a ela. Brinco quando falo sobre isso: “não vou dar este gostinho ao hater”.
Notícias Recentes


