O poder de consumo da comunidade negra nos Estados Unidos voltou a ser um instrumento direto de pressão social. Nas palavras do pastor Jamal Harrison Bryant, “eles despertaram um gigante adormecido”. Foi assim que ele descreveu, em entrevista ao The Guardian (11/06/2025), o impacto do boicote que lidera contra a gigante varejista Target, após a empresa recuar em compromissos assumidos com a diversidade e o investimento em negócios negros.
O movimento começou como um “jejum de 40 dias”, batizado de #TargetFast, uma resposta à decisão da Target de reduzir seus programas de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI). Em 2020, em meio aos protestos após a morte de George Floyd, a empresa havia prometido investir 2 bilhões de dólares em empreendedores negros. Para Bryant, o recuo da Target é um desrespeito com uma comunidade que movimenta aproximadamente 12 milhões de dólares por dia nas lojas da rede. “Quando percebemos que nosso gasto diário tem esse peso, entendemos também o poder de escolha que temos”, disse o pastor ao The Guardian.
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O impacto do boicote já é visível. Segundo o próprio pastor e dados divulgados na reportagem do The Guardian, a Target registrou uma queda superior a 500 milhões de dólares em vendas no primeiro trimestre de 2025, e uma redução de cerca de 1 bilhão de dólares em seu valor de mercado, com as ações da empresa caindo de 145 para cerca de 93 dólares. O número de clientes também caiu de forma expressiva. O CEO da empresa, Brian Cornell, chegou a se reunir com Bryant e com o reverendo Al Sharpton, em encontro intermediado pela Casa Branca, mas até agora, segundo o pastor, não houve avanços reais que revertessem o esvaziamento dos compromissos da empresa. “Eles pensaram que poderiam simplesmente mudar o nome do programa ou apagá-lo do discurso corporativo. Mas a comunidade negra está atenta”, afirmou Bryant à publicação britânica.
O movimento ganhou adesão rápida: mais de 200 mil pessoas assinaram petições de apoio ao boicote; cerca de 50 mil consumidores se comprometeram formalmente a não comprar na Target; e um diretório com mais de 150 mil negócios negros foi criado para estimular que o dólar negro circule em empresas comprometidas com a inclusão. “Não se trata apenas de punir a Target, mas de construir redes que fortaleçam os nossos próprios empreendedores”, destacou o pastor.
Entre as exigências feitas pelo grupo, estão um investimento de 250 milhões de dólares em bancos negros, o apoio a seis HBCUs (Historically Black Colleges and Universities) com programas de formação empresarial e a revisão completa da política de DEI da empresa. Até o momento, segundo a matéria do The Guardian, apenas a promessa original de 2 bilhões de dólares em compras com empreendedores negros foi reafirmada pela Target.
O próximo alvo da mobilização já está definido. A rede Dollar General, amplamente presente em regiões de baixa renda e com histórico de práticas predatórias, será objeto de um “protesto eletrônico”, conforme detalhado pelo pastor. Segundo Bryant, não se trata de um boicote tradicional, uma vez que muitas comunidades dependem das lojas para acesso a alimentos. A estratégia será concentrar pressão via e-mails, telefonemas e redes sociais, exigindo maior responsabilidade da empresa em suas práticas de contratação e investimento social.
O uso estratégico do dólar negro como ferramenta de pressão não é novidade na história americana, mas ganha novo fôlego neste contexto de retração corporativa em ações afirmativas. “Durante anos, fomos ensinados a pensar que nosso dinheiro não tinha poder. Esta campanha mostra exatamente o contrário”, conclui Bryant.
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