Em cartaz no Sesc Bom Retiro, a exposição “Qual é o seu legado? 30 anos de Museu da Pessoa no Brasil” traz como um dos eixos temáticos o tema “Vidas Negras”, que tem como curadora a educadora social Bel Santos Mayer.
O recorte feito por Bel apresenta as histórias de pessoas negras em diferentes gerações. Ela apresenta em igual importância pessoas conhecidas nacionalmente, como é o caso de Emanoel Araújo, falecido recentemente, artista plástico e fundador do Museu Afro Brasil, e outras conhecidas localmente, como é o caso de Dona Edith, da Cooperifa, cujo sarau de poesias já acontece há mais de 20 anos no Bar do Zé Batidão, no Jardim Guarujá, próximo ao Capão Redondo, em São Paulo.
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Para o Mundo Negro, Bel Santos Mayer contou detalhes sobre a exposição, que tem como base sua pesquisa de campo e acadêmica, formada por três conceitos fundamentais de colo, casa e quilombo.
Em seu trabalho de curadoria, você traz Emanoel Araújo como um dos homenageados. Fazendo um paralelo entre o papel de Emanoel na valorização da história e cultura negra e no conceito de colo paterno a que você se refere, esse lugar de aconchego. Qual a importância de ter o artista retratado na exposição?
A escolha de Emanoel Araújo se dá tanto para trazer essa importância e referência que ele tem para nós negros e negras ao colocar o Museu Afro Brasil no centro, em um dos parques mais importantes da cidade e trazendo a nossa história, a nossa cultura e não apenas em um lugar de dor, mas um lugar de produção intelectual, de produção cultural. Ao escolhe-lo eu quis fazer uma homenagem a ele que nos deixou precocemente, repentinamente, e agradecer, trazer essa referência. Ele fala do pai, ele fala das mulheres importantes em sua vida. Então também reforçar essa importância que tem nós reverenciarmos quem veio antes de nós, os colos recebidos, os cuidados que nos foram dados. Emanuel Araújo é alguém que sintetiza na sua luta pra criação e manutenção do Museu Afro Brasil os três eixos da minha curadoria, ao mesmo tempo que ele cria para nós uma casa cultural, ele nos dá o colo, porque ali a gente encontra as nossas ancestralidades, os nossos referenciais artísticos, literários, culturais e históricos e também nos dá o quilombo, esse lugar da reivindicação, da busca de um lugar da construção de uma sociedade que não seja pautada, atravessada pela desigualdade imposta pelo racismo.
Por que é tão importante apresentar ao público as histórias e legados de diferentes pessoas negras?
A importância de trazer as histórias e os legados de pessoas muito diversas. Desde pessoas que são referência, não só no Brasil, mas internacionalmente como Emanoel Araújo, Sueli Carneiro, Hélio Menezes, mas também trazer pessoas do cotidiano, pessoas as que estão lá na sua produção literária, que estão contando suas histórias de famílias, histórias dos seus territórios. Mais que garantir, propor que a gente olhe para as vidas pretas do nosso entorno, para esses lugares. Para os lugares em que estão as pessoas, em que estão os seus espaços, em que essas pessoas criam para as nossas existências e as manifestações culturais.
O seu trabalho de promoção da leitura é um incentivo à educação e busca por conhecimento. Quais referências deixaram um legado que influenciou nesse trabalho?
As minhas referências literárias são muitas para o meu legado desse encontro com o colo, a casa e o quilombo. Desde Conceição Evaristo que vem valorizar as escrevivências. A escrita das nossas vivências, essas vivências que são marcadas por amor, por dor, por desejos. Então Conceição Evaristo, Edmilson de Almeida Pereira que vem trazer na sua poesia, na sua literatura para crianças, nos seus romances, as questões desse universo masculino, mas também esse universo religioso e esse lexo, as nossas palavras, o nosso universo semântico. Então esse é um outro lugar muito importante, é um outro legado. Carolina Maria de Jesus, sem dúvida, inclusive por todo o apagamento que tentaram fazer da sua produção literária, da construção da sua carreira como escritora e apagando mesmo toda essa história como se ser escritora fosse um acaso e não um projeto em sua vida e também, eu traria aqui Sueli Carneiro, sem dúvida alguém com uma escrita não ficcional, mas discutindo o epistemicídio negro, o quanto se que tentou apagar esse nosso lugar de construção de um pensamento, de uma produção, de um pensar negro, e as jovens autoras. Então tem aí as autoras contemporâneas como Cidinha da Silva, Anelis Assumpção e tantas outras jovens negras, como Jarid Arraes, que estão aí escrevendo, honrando as suas ancestrais, mas também colocando as suas novas palavras no mundo. Tem uma lista grande pra trazer. Oswaldo de Camargo, Ricardo Aleixo e suas palavras ao vento. Então tem uma lista aí que quem for visitar a exposição pode verificar na biblioteca.
Serviço
Exposição Qual é o seu legado? 30 anos de Museu da Pessoa no Brasil
Período expositivo: Até 02 de abril de 2023
Visitação: terça a sexta, das 9h às 20h; sábado, das 10h às 20h; domingo e feriado, das 10h às 18h
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