Na última semana o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou novos dados sobre a autodeclaração racial no Brasil. De acordo como último censo realizado pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, em 2022, o número de autodeclarados pretos subiu para 10,6% nos últimos dez anos, o que na opinião da Ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, “é uma conquista que as pessoas estejam se declarando como pretas no Brasil”.
A ministra ainda lembrou que por muito tempo as pessoas tinham vergonha de se autodeclarar negras: “Passamos por um longo período da nossa história em que as pessoas tinham vergonha de ser negras e hoje isso tem se transformado”, pontuou. “Esses dados produzidos pelo IBGE são fundamentais para que a gente tenha um retrato da população, que orientam as políticas e mostram para onde o estado brasileiro deve olhar no momento de elaborar essas políticas”, ressaltou.
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Os dados do IBGE mostram que em 2012, apenas 7,4% da população se identificava como preta, enquanto em 2022 esse número saltou para 10,6%, tornando-se o grupo racial de maior crescimento no período. Já o número de pessoas que se autodeclaram pardas não teve variações significativas. O número passou de 45,6% em 2012 para 45,3% em 2022. Além disso, foi observado que houve uma diminuição no número de pessoas autodeclarada brancas, de 46,3% em 2012 esse número passou para 42,8%.
O debate dentro do grupo de negros sobre a classificação correta de pretos e pardos tem se intensificado, principalmente nas redes sociais. Em maio, quando a cantora Vanessa da Mata afirmou ser uma mulher preta durante sua participação no programa “Saia Justa” do GNT, a doutora em Estudos de Gênero, Mulheres e Feminismos da UFBA, Carla Akotirene destacou que era importante o reconhecimento correto para não prejudicar os indicadores sociais. “Minhas irmãs, olha, vocês são mulheres negras. E não pretas!! Preta é subgrupo de cor que não sofreu miscigenação, dentro da Raça. Infelizmente precisamos reformular essas falas, pois que prejudicam os indicadores sociais e a coleta do quesito cor nos equipamentos públicos. Um beijo afetuoso.❤️”, disse. “Se fosse pra coletar a cor vocês seriam pardas/ Negras. Eu Carla, Preta/ Negra”, explicou ela.
Em entrevista para a jornalista Silvia Nascimento, o professor e vice-diretor da UNESP, Juarez Xavier explicou a origem da autodeclaração racial no Brasil. “A autodeclaração se constituiu, sendo parte de um grande processo de debate, de discussão que consumiu parte do final dos anos 70, 80 e a partir dos anos 90, porque a ditadura civil militar tirou os dados relativos à questão racial do censo”, explica o professor Juarez. “Foi necessário então se criar um mecanismo, muito bom, pautado na autodeclaração e optou-se em trabalhar com os conceitos étnico-raciais.Por exemplo: preto, pardo, branco e amarelo são questões étnicas, e indígenas questões raciais. Isso foi definido depois de várias testagens feitas pela equipe do IBGE”, disse.
Para Anielle Franco, a autodeclaração é fundamental para que o Brasil tenha um “retrato fiel”de sua população “É fundamental que as pessoas de autodeclarem de acordo com o seu pertencimento racial, para que a gente tenha um retrato o mais fiel possível de quem são, quantas são e onde estão as pessoas negras no Brasil”, finaliza.
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