Dona de mim: uma novela de conflitos com aparência de leveza

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Dona de mim: uma novela de conflitos com aparência de leveza
Foto: Globo

A novela “Dona de mim” é instigante pois traz atores e atrizes que estão muito próximos de nossa realidade, fazem parte do nosso quotidiano. Há ainda temas que precisam ser vistos de maneira crítica pois suscitam bons debates: as relações de trabalho na fábrica e na residência, a história de mulheres idosas, o amor com uma pessoa com deficiência, a beleza e o protagonismo da mulher negra, vida dos presidiários e o papel da defensoria pública.

A protagonista Clara Moneke, que interpreta Leona (Leo), tem uma desenvoltura que alimenta o sonho de milhões de jovens, embora mantendo relações amorosas muitas vezes críticas. No Brasil, as histórias das relações sociais com as empregadas domésticas negras têm um registro triste de exploração e violência. Ainda vivemos um período de negação dos direitos fundamentais das trabalhadoras domésticas, com casos de escravidão doméstica em pleno século XXI.

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Os depoimentos das trabalhadoras domésticas no país denunciam diversas violações de direitos, incluindo trabalho análogo à escravidão, condições degradantes, suspensão de contratos sem garantia de quarentena e falta de pagamento de salários. O filme em que Regina Casé interpreta uma empregada doméstica, “Que Horas Ela Volta?”, é um bom exemplo de como as relações sociais e desigualdades se manifestam no Brasil, muito mais próximo de nossa dura realidade.

Vivemos um momento de renovação na teledramaturgia brasileira que traz novos desafios, e Clara Moneke representa este novo momento pelo desempenho monumental como atriz. Sua presença incomoda. É altiva, criativa e guerreira, uma mulher negra do século XXI. Ela incomoda.

Entre os diversos núcleos na novela “Dona de mim”, há o núcleo que envolve as famílias negras nos quais as mulheres são idosas, como Cida Moreno, que dá vida a Yara e carrega a marca da solidão da mulher negra e do cuidado com os netos. Sempre é bom destacar que elas são mulheres fortes e guardiãs da educação, que é incentivada e valorizada na família negra.

Camila Pitanga apareceu nos capítulos iniciais como um cometa. Maravilhosa, deslumbrantemente linda, divina uma atriz que pode aparecer alguns segundos e você se apaixona. Que mulher espetacular. Uma atriz que só melhora com o tempo.

Mas há uma atriz que tem despertado atenção pela beleza e delicadeza: Haonê Tinar, que dá vida a Pam, uma mulher negra que teve sua perna amputada na infância. Esta personagem já vale a existência da novela. Ela surge para romper todos os estereótipos de beleza, de independência e de sensibilidade.

A novela tem nos levados a refletir e discutir sobre o desafio de sair do sistema penitenciário e reconstruir a vida depois da prisão. O papel que a Defensoria Pública desempenha no folhetim persegue um ideal digno de registro. Uma tarefa corajosa e digna de uma epopeia grega. A vida de uma pessoa no sistema penitenciário brasileiro, não tem merecido atenção das pessoas. É como se o lugar onde são alocados devesse ser parecido com que o que há de pior nas instituições públicas.

As cenas ambientadas na prisão são duras, sem glamour. Uma viagem ao fundo do inferno a volta para a vida em sociedade. Uma realidade de milhares de famílias. Temos que exaltar a ousadia e a coragem dos diretores e redatores da novela “Dona de mim” por se esforçar em mostrar essa realidade. Não deixa de ser conflitante ver como os criminosos que desviam dinheiro da empresa, sonegam impostos, lutam pelo poder na família, vivem como se o mundo fosse feito para alguns usufruírem da riqueza e outros só trabalharem.

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