Vítimas de racismo, dois homens negros foram abordados pela Polícia Militar em uma loja do Grupo Boticário, no bairro Monte Castelo, em Fortaleza (CE), após uma denúncia anônima que os descrevia como dois suspeitos que já haviam roubado a loja anteriormente.

“Fico pensando que uma empresa como o Grupo Boticário, que é conhecida mundialmente, tem ações na Bolsa de Valores, faz campanhas de combate ao racismo, de apoio às diversidades, agir de uma forma totalmente contrária nos bastidores. No mínimo incoerente”, aponta Rënàn Sílvá.

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Ele relata que estava parado com o seu amigo, enquanto aguardava a esposa dele terminar as compras na loja, quando a polícia chegou “com tudo”, afirma ao Mundo Negro.  

O caso ocorreu no dia 18 de março de 2024, e eles registraram o boletim de ocorrência contra a loja por preconceito racial, no 34° DP da capital cearense. No entanto, só agora o terapeuta de apometria trouxe o assunto a público. 

“Não publiquei antes por medo e porque os policiais que estavam lá disseram que ‘ia dar ruim pra nós’”, relata. “Eu não sou cantor, não sou jogador de futebol, nem famoso, sou apenas mais um que veio da comunidade. E olha que não estava mal-vestido na ocasião”, desabafa Rënàn.

No B.O obtido com exclusividade pelo Mundo Negro, os homens relatam que a esposa de um deles estava com uma amiga verificando os perfumes e decidiam o que comprar. Nisso, eles ficaram cerca de 3 horas no interior da loja, quando três policiais chegaram com a arma apontada, e ordenaram que colocassem as mãos na parede. Eles foram submetidos à busca pessoal, um carro foi revistado, mas nada foi encontrado. 

Segundo o relato das vítimas, os policiais explicaram que receberam uma denúncia anônima de “dois suspeitos de roubo, um de camisa preta e outra vermelha, ambos negros, que se encontravam no interior da loja, e que ambos já tinham roubado a loja anteriormente”, aponta no boletim. 

Mas Rënàn afirma que esta havia sido a primeira vez que ele foi à loja, enquanto o amigo, diz que já foi ao local mais de três vezes com a sua esposa para comprar perfumes. 

“Eu não posso nem dizer que a polícia estava errada, até porque eles foram motivados por uma denúncia anônima que partiu das dependências da loja, do Grupo Boticário, que dava a descrição exata e minuciosa de dois suspeitos negros que já haviam roubado a loja anteriormente”, afirma. 

“Não é nada legal você simplesmente estar esperando uma pessoa que faz compras dentro da loja e de repente você ser surpreendido com uma arma na cabeça sendo colocado contra a parede como se você fosse um bandido”, completa. 

Funcionários da loja

Rënàn destaca que durante a abordagem, os funcionários demoraram para ir ao lado de fora da loja. “O gerente só saiu porque a esposa do meu amigo fez um escândalo na frente da loja. Ela começou a gritar e chamar atenção. A polícia não saía de lá e a confusão só aumentava porque ela gritava falando que ela ia denunciar e ela ia levar isso para os veículos de mídia”, diz.

Neste momento, ele e o amigo perceberam que se tratava de uma denúncia racista os descrevendo como suspeitos que já haviam roubado o estabelecimento, mas o gerente não se pronunciou a respeito, dizendo apenas: “qualquer coisa, procure os direitos de vocês”. Já a coordenadora da loja, após a abordagem da polícia, pediu desculpas apenas para a esposa do amigo, que é uma mulher branca. 

Em nota ao Mundo Negro, O Grupo Boticário lamentou o ocorrido e afirma que “não compactua e repudia qualquer forma de preconceito e discriminação, incluindo o racismo”. Leia na íntegra:

O Grupo Boticário não compactua e repudia qualquer forma de preconceito e discriminação, incluindo o racismo. Lamentamos profundamente o fato relatado e reforçamos que esse tipo de situação não condiz com nossos valores e com aquilo que acreditamos: a beleza das nossas relações. A companhia está apurando o relato e reforça o seu compromisso com a valorização e o respeito à diversidade e inclusão. Em nossa jornada nesse tema, mobilizamos, diariamente, nossos colaboradores internos, externos e parceiros para evoluírem conosco, desenvolvemos trilhas anti-discriminatórias obrigatórias para toda a força de vendas, além de ações de contratação e desenvolvimento de profissionais diversos.

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