Um oceano de diferenças volta a ser palco de tragédias ignoradas para povos não ocidentais. Enquanto o mundo para para olhar e comentar a busca pelos 5 bilionários a bordo do submersível que desapareceu no oceano em uma expedição aos destroços do Titanic, mais de 300 pessoas morreram em um naufrágio no Mar Mediterrâneo.
São pessoas que saíram de seus países em uma traineira de pesca lotada com cerca de 750 ocupantes, crianças e mulheres em sua maioria. O barco de pesca saiu da Líbia em direção à Europa e afundou em Pylos, na Grécia, no dia 14 de junho, de acordo com informações da Organização das Nações Unidas (ONU).
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O governo paquistanês acredita que mais de 300 cidadãos do país estão entre os mortos. Mas no barco também levava cidadãos sírios, egípcios e palestinos. Segundo informações das autoridades gregas, o número de mortos era de 82 pessoas até agora e quase 500 ainda estavam desaparecidas. Além disso, eles afirmam que 104 pessoas sobreviveram à tragédia, sendo 12 delas de nacionalidade paquistanesa.
A tragédia na Grécia seria uma das maiores dos últimos tempos na região e chama atenção a importância dada pela população mundial ao assunto, frente ao que está acontecendo com os bilionários na expedição ao Titanic, outra tragédia, mas que em diferente medida, mostra quem ganha relevância em uma sociedade que tende a esquecer a necessidade de olhar para o mundo além das questões do ocidente.
Em uma publicação no Instagram, a jornalista Rosane Borges criticou a fetichização da tragédia por esses mesmos super ricos que se colocaram em risco para visitar os destroços de um barco naufragado há anos em meio a uma tragédia “No caso desta expedição, tem ainda o adicional do fetiche à tragédia, de uma rememoração da dor, da barbárie, sem que ela seja transformada em algo que emancipe e mude o curso da história.”, disse ela.
O jornalista Leonardo Sakamoto, ao comparar a atenção dada ao naufrágio na Grécia e à atenção dada aos bilionários que desapareceram no submersível ressaltou que não se trata de uma “disputa de tragédias, mas revela nossas prioridades como sociedade”. “É impossível comparar tragédias pelo número de mortes, uma vez que uma única morte pode compor uma tragédia. E a indignação por algo não exclui a indignação por outra coisa. Mas jogar para baixo do tapete as realidades que também dizem respeito a todos nós, não fazem elas desaparecerem. Pelo contrário, mais cedo ou mais tarde, elas reaparecem. E cobram o preço de nossa inação”, destacou.
Ainda agregado aos diferentes pesos e medidas atribuídos às tragédias e aos refugiados que foram ludibriados por contrabandistas, está a falta de esforços das autoridades gregas na ajuda à embarcação, que foi avistada pela guarda costeira da Grécia antes do naufrágio. Eles afirmam que os passageiros recusaram ajuda, mas fotos da embarcação mostram que os passageiros estavam com os braços levantados quando foram avistados.
A pergunta que resta, que estamos cansados de repetir e que sabemos a resposta é “quais vidas são valorizadas?”. É uma questão que não deveria existir já que toda vida deve ser valorizada, mas o mar que foi palco das tragédias de pessoas negras em muitos momentos, hoje é de novo aquele que traz a resposta sobre as vidas que infelizmente parecem importar mais.