Estão prontos para acompanhar os atletas negros e brasileiros que devem fazer história nos Jogos Olímpicos? A cerimônia de abertura das Olimpíadas de Paris 2024 foi realizada hoje, 26, mas a seleção feminina brasileira de futebol e handebol já deram um show nas estreias das modalidades, ontem, garantindo as primeiras vitórias.
Em entrevista ao Mundo Negro, o Diego Moraes, um dos principais nomes do esporte na TV Globo, fez uma análise dos competidores negros e brasileros que estão gerando muitas expectativas de levar medalhas. “Quando a gente pensa nesses atletas, nessas chances a gente consegue perceber o quanto que o povo negro tem chegado com força”, diz o repórter.
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“Onde está a maior expectativa do Brasil de medalha, é na Rebeca Andrade, na Rafaela Silva, e na Beatriz Souza do judô. Ketleyn Quadros, que foi a primeira medalhista mulher, no individual, do Brasil, em Pequim, 2008. Ela conquistou o bronze no judô. A gente tem três mulheres negras fortes e com potencial de medalha no judô e com potencial de ouro”, inicia a reflexão com atletas que competem no individual.
Citando Rebeca Andrade, Diego também aponta como a disputa com Simone Biles na ginástica artística deve atrair a visibilidade mundial. “A Simone já até revelou que a maior adversária dela é a Rebeca. Tem um certo medo. É uma das disputas que o mundo vai querer ver”, aponta.
“Na canoagem, a gente tem o Isaquias Queiroz. Já ganhou as três cores de medalha e vem como favorito de novo na canoagem de velocidade”, diz. “No skate, tem a Rayssa Leal, com chances de ganhar o ouro”, completa.
Enquanto no atletismo, o repórter cita a expectativa com Alison dos Santos, o Piu. “Ele teve uma lesão no ano passado, mas esse ano está arrebentando, está indo muito bem. Apesar da última Premier Diamond League ele não ter ganhado, mas ele tem tido bons resultados nessas etapas mundiais do atletismo, que são bem importantes. Vem como favorito à medalha de ouro”, conta.
“Pensando num coletivo, eu vou destacar o vôlei brasileiro, que é uma modalidade que realmente traz muita expectativa de medalha. A gente tem no vôlei feminino a Ana Cristina, saque superpotente, ela realmente é um dos destaques da equipe feminina. E na equipe masculina tem o Luccarelli, que já vai para mais uma Olimpíada, um dos líderes dessa equipe masculina”, afirma.
Engajamento em causas sociais
Diego Moraes aponta como a comunidade negra precisa compreender os limites dos atletas para se engajarem em causas sociais, em especial no combate ao racismo.
“A gente às vezes fica pesando muito nos atletas, para ter um engajamento. A visibilidade é maior, eles podem alcançar mais gente quando eles falam sobre isso, só que eles estão num ambiente completamente adverso, que não propicia isso”, explica.
“Quando eu fui no meu último Pan-Americano como atleta de karatê, teve uma reunião antes e a confederação pediu pra Federação Pan-Americana de Karatê para não haver nenhum tipo de manifestação religiosa, nem protesto contra o racismo, em nenhum momento de vitória de algum atleta, senão o atleta seria desclassificado. Eu não podia, por exemplo, fazer sinal do punho cerrado”, completa.
O carateca também destaca como os atletas dependem do esporte para ganhar dinheiro. “É o trabalho deles para sustentar a família, mudar o futuro dessas famílias. Muitos atletas não vão se engajar completamente nas redes sociais, no grande evento ou numa entrevista por conta disso. Mas eu acredito que muitos atletas estão se engajando nos bastidores, estão fazendo acontecer, mas de uma outra forma”, diz.
“A Rebeca não fala muito, mas ela já trançou o cabelo, já consegue mostrar a africanidade dela de outras formas. Isso também consegue dar um recado. Pra quem tá acompanhando a Rebeca, sabe o quanto ela tá querendo mostrar a sua própria identidade”, exemplifica.
“Simone Biles até relatou alguns casos no documentário dela da Netflix sobre impressões que as pessoas tinham sobre o cabelo e ela simplesmente ouve e deixa passar porque ela sabe que isso pode prejudicá-la”, lamenta.
“A gente é a maioria em números, mas a gente não tem força, a gente não tem poder, a gente não está liderando as grandes organizações, as grandes federações para a gente ter esse aval, para a gente ter esse suporte quando a gente for se manifestar. E quem acompanha eles acabam percebendo que existe uma preocupação de ter mais pessoas negras, mas falar com tanta clareza, eu acho que vai ser difícil”, finaliza.
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