Muitas vezes a consciência da cor surge para nossas crianças quando elas sofrem racismo e essa é a pior maneira de despertar a sua identidade. Falaremos aqui sobre meninas negras. Não por acaso, muitas ao se descobrirem negras se acham menos bonitas e dignas de afeto, como se fosse um produto de segunda linha, sempre à sombra das meninas brancas.
Nos EUA chegaram fazer um estudo comparando meninas negras como brancas na perspectiva da receptividade social. Os números mostraram que as garotas negras são vistas de forma mais adulta que as brancas de forma que também estariam mais sujeitas a violência e assédio sexual.
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Se as mulheres negras de hoje sem referências negras na infância já movem o mundo, imagine como serão as da nova geração que já têm mães e pais mais conscientes?
Se você cria meninas negras e está perdida ou perdido na missão, vou te dar algumas dicas. Sou mãe de três meninas.
- Elogie a beleza : Falaremos sobre o interno mais para frente, mas a beleza é o externo e não temos como ser hipócritas com a forma como o mundo lida com a aparência. Meninas negras têm vários tons de pele, texturas de cabelo e traços. Os traços mais “fora” do padrão são os que mais devem ser elogiados: o cabelo mais crespo, o nariz mais largo, os lábios mais grossos, o tom mais escuro. Tudo o que é mais perto do padrão tem referência, a beleza negra ainda carece de representatividade real. No livro da Lupita Nyongo a cor da sua personagem Sulwe, que sofre por ser mais escura até dentro da sua família, se sente mais linda ao ser comparada com a noite, escura e cheia de beleza, como a garotinha.
- Enalteça o conhecimento do povo negro: A contribuição do povo negro vai muito além da nossa genialidade na música e no esporte. Das pirâmides do Egito até a Dra. Jaqueline sequenciando o genoma do coronavírus no Brasil, nosso intelecto teve imensurável contribuição para humanidade. O filme “Estrelas além do Tempo”, por exemplo, é uma história para todas as idades e conta como três mulheres negras , Katherine Johnson (Taraji P. Henson), Dorothy Vaughn (Octavia Spencer) e Mary Jackson (Janelle Monáe) que fizeram parte de uma equipe da Nasa em época de forte segregação racial. Elas foram fundamentais para que os EUA fossem o primeiro país a orbitar a Terra.
- Representatividade importa: Beyoncé, Iza, Maju , uma mulher na família que fez algo incrível. Se não formos nós mostrando aos mais jovens como somos incríveis, ninguém o fará, ao menos não da forma que sentimos que deve ser feito. Tente ter em casa referências na decoração e até no material escolar, de algo que seja racialmente representativo. Outras culturas fazem isso de forma muito natural. Sem nos enxergar na sociedade e sendo tão jovens, é fácil achar que não nos encaixamos ou pertencemos a determinado ambiente. Faça um uso sábio das redes sociais seguindo pessoas negras inspiradoras, seja por sua aparência, seja pelos seus feitos.
- Fale sobre racismo: A melhor maneira de começar a falar sobre racismo com os filhos é dando um contexto histórico antes que eles tenham que lidar com isso, porque infelizmente irão. Se começamos pela narrativa da violência e segregação, não temos a dimensão de como isso chega na criança. É importante que ela entenda que o racista está errado e que os contextos históricos fizeram com que hoje a maioria das pessoas negras viva na pobreza. Ressalte que isso não tem nada a ver com a competência dos negros e sim é fruto de um longo período da história, mais de 300 anos, onde pessoas brancas escravizam pessoas negras e que isso ainda se reflete nos dias de hoje, mas as coisas estão melhorando.
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- O cabelo crespo não é brinquedo de gente curiosa: Assim como acontece com as mulheres negras e crespas adultas, umas se incomodam de ter seus cabelos tocados, outras não. Porém como responsáveis por meninas negras temos sempre que ensinar que cabelo faz parte do corpo e o toque do outro, sem permissão não deve ser visto como algo normal. As pequenas terão dificuldade de verbalizar esse incomodo, então cabe aos adultos tomar as providências caso o cabelo da criança negra seja alvo de curiosidade alheia, piada e fofoca. Se ela quiser alisar, explique que o cabelo natural é o que a deixa mais bonita, que é também mais o saudável e busque imagens de crespas para inspirá-la.
- Sobre amor e preterimento: a solidão da mulher negra não vale somente na esfera do relacionamento amoroso. Ele nasce na infância quando a menina negra não é chamada para atividade em grupo da escola ou para ser o par do coleguinha festa junina. A nova geração evoluiu, mas ainda é criada por pessoas racistas. Por isso o amor da família é fundamental. No livro “Na minha pele”, Lázaro Ramos destaca o enfoque que ele dá em termos de carinho à sua filha Maria Antonia por entender que o mundo lá fora não será sempre gentil com ela no campo do afeto. Essa é uma decisão sábia. O amor da família é fundamental para autoestima e ferramenta indispensável que fará com que a menina negra sinta que se o outro não gosta dela, o problema está nele.
Essa é uma lista de dicas colaborativa e adoraria saber sua opinião e sugestão. Use os comentários!
*Esse é o primeiro texto da minha coluna “Nossas meninas negras” com foco na informação de pais e mães de meninas negras e também com conteúdo dedicado às pretinhas.
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