Mundo Negro

Dia do Estudante: escolas falham em proteger alunos negros do racismo, apontam especialistas

Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil

O que deveria ser um dia de celebração, o Dia do Estudante é ofuscado por discussões urgentes sobre o racismo estrutural nas instituições de ensino brasileiro. A luta pelo direito à educação se estende para a luta contra o racismo sofrido por inúmeros alunos negros dentro das salas e aula e em ambientes escolares que deveriam ser espaços de acolhimento, mas que em muitos casos se tornam desafiadores e violentos.

Um estudo realizado pelo Instituto de Referência Negra Peregum (IPEC) em parceria com o Projeto SETA e publicado, revelou que 64% dos jovens consideram o ambiente escolar como o local em que mais sofrem racismo. Outros dados coletados pelo IPEC mostraram que 44% dos entrevistados consideram raça, cor e etnia como o principal fator gerador de desigualdades. Além do grande número de casos, a punição ou medidas corretivas aplicadas para as pessoas que cometem esse tipo de crime dentro do ambiente escolar ainda é questionável: “Quando a vítima é negra e o agressor branco, muitos juízes consideram a condenação criminal ‘severa demais’. É o oposto do que ocorre quando o réu é negro”, critica o advogado Hédio Silva Jr., responsável pelo caso sofrido pela filha mais velha da atriz Samara Felippo, destacando que escolas podem ser processadas por omissão.

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Entre os casos que ganharam destaque na imprensa, estão o episódio vivido em fevereiro deste ano, pelo ator Ygor Marçal, de 11 anos, conhecido por novelas da TV Globo, e que precisou trocar de escola após sofrer racismo no Colégio Batista, na Barra da Tijuca (RJ). Outro caso é o da adolescente de 15 anos, bolsista no Colégio Mackenzie (SP), que foi internada em ala psiquiátrica após sofrer bullying, ataques racistas e homofóbico. A mãe revelou que a filha era chamada de “lésbica preta” e “cigarro queimado”. O caso piorou quando um vídeo íntimo da jovem foi gravado e ameaçado de vazamento por um colega.

Para além dos muros da escola, estudantes negros também convivem com o racismo nos grupo de WhatsApp formado pelos alunos das instituições, muitas delas de elite. Em denúncia publicada no mês de janeiro de 2025, a imprensa noticiou que o Colégio Santa Cruz, uma das instituições de ensino mais tradicionais e caras de São Paulo, havia suspendido 34 alunos do ensino médio depois que denúncias de bullying, ameaças e mensagens com conteúdo racista, homofóbico e misógino foram feitas em grupos de WhatsApp com mais de 150 integrantes. Os agressores eram estudantes do segundo e terceiro anos, que vitimaram calouros do primeiro ano.

No mês de agosto de 2024, ex-estudantes beneficiados pelo Ismart (Instituto Social para Motivar, Apoiar e Reconhecer Talentos) publicaram uma carta de repúdio contra as declarações feitas pelo ex-diretor e assessor do Colégio Bandeirantes, Mauro Salles Aguiar, que classificou como “agressividade” a cobrança de bolsistas por respostas e apoio psicológico após o suicídio de um colega vítima de bullying e homofobia na escola. Um trecho da nota reforçava: “Ao destacar a ‘agressividade’ dos estudantes bolsistas sem considerar as dinâmicas raciais e sociais, ainda mais em um momento de luto, o ambiente escolar perpetua o racismo estrutural e falha em formar cidadãos conscientes e empáticos”.

Já em novembro de 2023, um vídeo comovente mostrou um menino de 7 anos, aluno da Fundação Fito (Osasco/SP), pedindo aos pais para colocá-lo numa escola “boazinha” após sofrer discriminação. O caso ganhou visibilidade, mas a família não relatou mudanças significativas na postura da escola.

No mesmo período, Patrícia Santos, fundadora da EmpregueAfro, também havia denunciado o caso de racismo sofrido pelo filho, então com 12 anos, na EMEF Ângelo Raphael Pellegrino, em São Caetano do Sul (SP). Apesar de já ter levado o caso para o Ministério Público, Patrícia denunciou que não houve melhora no acolhimento do jovem, que já havia passado por quatro episódios de violência racista. Como resolução, mãe solicitou a transferência do adolescente para outra escola. 

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