O Dia de Iemanjá, celebrado em 2 de fevereiro, é uma data super importante para as religiões de matriz africana no Brasil. A tradicional festa do Arpoador, no Rio de Janeiro, criada pelo estilista William Vohees, 55, e pelo maestro João Nabuco, retorna para 22º edição, nesta quinta-feira a partir das 14h, depois de dois anos sem realização devido à pandemia do Coronavírus.
“Precisamos nos abraçar novamente, a sorrir, a despertar o amor no olhar”, diz Vohees, em entrevista exclusiva ao Mundo Negro, sobre o tema “União” da festa deste ano, que chega a reunir cerca de cinco mil pessoas. “Do evento em si fica o legado do encontro. Pessoas que jamais se conectariam, eu faço questão de apresentar um ao outro”, conta.
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“Eu e o maestro João Nabuco achamos que teríamos que homenagear Iemanjá pelos encontros que ela promoveu no passado e unir a cidade do Rio. Resolvemos que a festa seria uma grande homenagem tendo como tema a mulher”, explica William sobre a ideia de fazer da festa a primeira dedicada a orixá em 1999, inspirados na tradicional celebração que acontece no bairro do Rio Vermelho, em Salvador.
O estilista explica que no Rio de Janeiro tudo ocorre de forma embrionária, e não foi diferente no período de pandemia. “Utilizei a grana que já vinha separando para ajudar barraqueiros em sua maioria pretos e favelados. Uma campanha que deu certo. ‘Pague agora e consuma quando a pandemia passar”‘, conta. Sempre contando com o apoio de todos, William explica que “vários amigos depositaram 100 [reais] e agora, com o verão, tem o retorno em consumo, [mas] a maioria colaborou e não faz questão agora de consumir”.
Nos últimos dias, William viu um homem branco sendo anunciado como organizador da festa de Iemanjá no Arpoador e ficou muito ofendido com o apagamento histórico, sendo um homem negro.
“Todos os anos a festa teve como base o voluntariado para tudo. Por vários anos o babalorixá Guru Anderson, nosso patrono, veio de São Paulo e ajudou para que a festa acontecesse. Já teve ano que o artista plástico Vik Muniz doou uma obra para fechar a conta. Esse ano, gentilmente recebemos apoio da prefeitura através do apoio FOCA. E esse ano fui surpreendido por um homem branco dizendo que a festa é de autoria dele”, reclama.
“Me fez lembrar a época em que minha mãe me levava para praia escura no final do ano com suas bolsas e comidas para esperar a entrada do Ano Novo. Copacabana era tomada por terreiros de Candomblé e Umbanda, onde só se via as luzes de velas formando um grande clarão. Hoje um dos maiores espetáculos do mundo. O Brasil infelizmente ainda não aceita preto coordenando ideias, festas e afins”, desabafa.
“Estou trabalhando a festa esse ano com muitas mulheres e em sua maioria preta. Tem preta designer, tem preta de comunicação visual e por aí vai…. A festa que organizo somos nós desde dos tempos de senzala”, diz William que faz o convite. “Convido mulheres de todo o segmento da sociedade. Desde artista até andina de casa preta que nunca veio à praia mesmo morando no Rio de Janeiro”.
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