
Com o objetivo de enfrentar o racismo e a violência obstétrica nos serviços de saúde, a formação “Doulas Ikunle – Acolhimento Ancestral” anuncia a sua primeira turma pensada por e para mulheres pretas, indígenas e afroindígenas. O curso une ciência, espiritualidade e tradição para fortalecer o cuidado perinatal em territórios urbanos, rurais e comunitários.
Idealizado pelas doulas Alice Vitória e Mariana Borges, a formação começa no dia 31 de julho, data em que se celebra o Dia Internacional da Mulher Africana. O Ikunle tem a proposta de formar mulheres racializadas que desejam atuar de forma ética, segura e conectada com seus saberes no acompanhamento de gestantes, partos e puerpérios.
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A jornada formativa inclui certificação de até 280 horas. São 31 aulas online ao vivo, uma imersão presencial de 4 dias na Kasa de Maat (RJ) e mentoria com estágio supervisionado. As participantes aprendem com um corpo docente formado por parteiras tradicionais, enfermeiras obstetras, psicólogas, fisioterapeutas e lideranças espirituais — todas pretas e indígenas —, oferecendo uma experiência profunda de aprendizado, acolhimento e cura coletiva.
“Eu vejo o curso de formação para Doulas Negras como um território de partilha, cuidado e construção coletiva. Um espaço feito por nós e para as nossas, onde valorizamos os saberes ancestrais e as práticas baseadas em evidências científicas. Aqui, reafirmamos o poder da comunidade no acolhimento das nossas histórias, dos nossos corpos e dos nossos nascimentos”, destaca Mariana, doula, coordenadora, docente e mentora da formação.
A formação também abre espaço para práticas tradicionais como o uso de ervas, rebozo, massagens, ginecologia natural, medicina chinesa e rituais ancestrais. O objetivo é promover uma formação integral, que reconhece a sabedoria de quem historicamente sempre cuidou, mas nem sempre foi valorizada como profissional.
Além de combater o racismo estrutural na saúde, o Ikunle atua na redução da mortalidade materna e infantil e fortalece redes comunitárias de cuidado. Para ampliar o acesso, a organização ofereceu bolsas para mulheres quilombolas, indígenas, periféricas e assentadas.
“O Curso de Formação de Doulas Ikunle é uma iniciativa revolucionária, concebida por e para mulheres negras e indígenas — aquelas que mais sofrem com a violência obstétrica e lideram as estatísticas de mortalidade materna no Brasil. Para além desse gesto curador de transformar nossos maiores desafios em fonte de potência, o curso coloca os saberes ancestrais do partejar africano como parte fundamental do conhecimento, promovendo um encontro entre tradição e ciência. Assim, fortalece-se a união entre o conhecimento científico atualizado e o resgate da subjetividade feminina como um elemento essencial no ciclo gravídico-puerperal”, afirma Laís, aluna afroindígena, mãe e assentada do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
Houve uma seleção de bolsas para mulheres quilombolas, indígenas, periféricas e assentadas, garantindo acesso à formação e ampliando o impacto nas comunidades, mas já foi encerrada.
As inscrições estão abertas pelo Sympla, com valores a partir de R$65.
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