Cultivar corpo e mente: nutrição e saúde mental da população negra além do mês de setembro

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Cultivar corpo e mente: nutrição e saúde mental da população negra além do mês de setembro
Foto: Divulgação

Mais que reforçar Setembro Amarelo, entender como fatores nutricionais aliados a medidas de equidade podem melhorar a saúde mental das pessoas negras, com evidências reais e urgentes.

Por: Dr. Saulo Gonçalves – Nutricionista Clínico

A população negra no Brasil enfrenta, diariamente, desigualdades estruturais que impactam profundamente sua saúde mental. Racismo, discriminação, exclusão e violência são estressores psicossociais que aumentam a vulnerabilidade a quadros como ansiedade, depressão e suicídio. Estudos apontam que experiências recorrentes de discriminação racial afetam comportamentos alimentares — como comer por impulso ou buscar comidas ultraprocessadas — levando a disparidades no consumo de alimentos saudáveis e maior risco de obesidade. Além disso, evidências demonstram que negros e pardos têm acesso reduzido a serviços de saúde mental e piores desfechos clínicos, mesmo entre populações de baixa renda.

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Alimentar-se de forma saudável não é apenas uma questão de escolha: é ferramenta de cuidado mental. No Brasil, estudos revelam que negros consomem menos frutas e verduras, enquanto a população branca consome mais insumos frescos e minimamente processados. Essa diferença não se deve só a preferências, mas à combinação de acesso limitado, infraestrutura inadequada e carga de estresse crônico — que afetam a qualidade da dieta e, por consequência, o equilíbrio mental.

Universitários brasileiros, indivíduos negros e pardos consumiam menos vegetais, mas mais bebidas açucaradas do que os brancos. No panorama nacional, não branca, menos escolarizada e sem plano de saúde são fatores associados a menor ingestão de frutas, vegetais e maior prevalência de comportamentos não saudáveis. Mulheres negras e pardas apresentam maior prevalência simultânea de obesidade e desnutrição do que mulheres brancas, refletindo vulnerabilidades acumuladas.

Por que isso importa na saúde mental?

Dieta ruim e insegurança alimentar geram estresse físico e emocional, piorando sintomas ansiosos e depressivos — especialmente em grupos historicamente marginalizados. Entretanto, incorporar nutrientes favoráveis ao cérebro — fibras, vitaminas do complexo B, magnésio — por meio de legumes, verduras, feijões e chás pode ser uma forma de empoderamento e promoção de bem-estar, especialmente quando aliado a reconhecimento da realidade racial.

Chás e ervas como prática acessível

Incluir chás calmantes como camomila, erva-cidreira ou maracujá na rotina pode aliviar sintomas de ansiedade e facilitar o sono. Cultivar essas plantas em casa — como hortelã, alecrim ou manjericão — torna o autocuidado mais acessível, simbólico e emocionalmente fortalecedor.

Promover acesso a alimentos saudáveis e permitir o cultivo doméstico não são apenas ações de saúde pública: são estratégias de justiça racial. Políticas afirmativas, quando conectadas à segurança alimentar, fortalecem a resiliência emocional da população negra e combatem determinantes sociais de saúde mental.

Cuidar da saúde mental da população negra — seja em setembro ou o ano inteiro — passa por enxergar a alimentação como ferramenta de
transformação. Nutrir o corpo e a mente é também confrontar desigualdades e cultivar esperança, pertencimento e resistência.

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