Protestos contra um novo projeto de lei que prevê o aumento de impostos no Quênia resultaram na morte de pelo menos 14 pessoas e deixaram dezenas de feridos na capital, Nairóbi, de acordo com informações compartilhadas pelo portal Deutsche Welle. A polícia abriu fogo contra os manifestantes que invadiram o Parlamento e a Prefeitura da capital queniana na última terça-feira, 25. A Comissão de Direitos Humanos do país fala em 22 vítimas fatais.
Os protestos começaram de forma pacífica na semana passada, com milhares de jovens em Nairobi e em outras cidades do país com a população descontente com o projeto de lei que o Governo pretende usar para arrecadar cerca de US$ 2,7 bilhões, visando pagar dívidas do Estado. Os manifestantes temem que os aumentos de impostos agravem a pobreza no país.
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As manifestações ganharam força nas redes sociais com a hashtag #OccupyParliament e, ao contrário de protestos anteriores liderados por membros de partidos da oposição, foram impulsionadas por cidadãos comuns, principalmente jovens. De acordo com várias ONGs, entre elas a Anistia Internacional no Quênia, a polícia disparou contra os manifestantes na tentativa de controlar a situação, o que teria incitado a multidão a romper as barreiras de segurança e invadir o Parlamento.
Durante a invasão ao parlamento, os manifestantes pediam a saída do presidente William Ruto, além de quebrarem móveis e janelas e incendiaram algumas áreas. Em resposta, a polícia disparou contra a multidão. A agência noticiosa EFE confirmou as mortes e relatou os vários feridos no local.
A violência suscitou reações da comunidade internacional. A União Africana expressou “profunda preocupação” com os eventos e apelou à calma no país. Embaixadas de 13 países ocidentais, incluindo Estados Unidos e Alemanha, lamentaram a “trágica perda de vidas” e o uso de munições reais, pedindo contenção de todas as partes e incentivando soluções pacíficas através do diálogo.
Diante da pressão dos protestos, o Governo anunciou que iria eliminar muitas das disposições mais polêmicas do projeto de lei, como os impostos sobre o pão e os automóveis. Apesar disso, a desconfiança e a insatisfação popular permanecem altas.
Impacto e Análises
Desde a pandemia de COVID-19, o Quênia enfrenta um aumento do custo de vida, e os críticos alertam que a situação pode piorar com os novos impostos propostos. Wanjiru Gikonyo, do Instituto para a Responsabilidade Social, destacou que os jovens protestam de forma pacífica e sem o envolvimento de partidos políticos, diferentemente do passado. Zaha Indimuli, da Organização Amali, criticou o uso da força contra manifestantes pacíficos e instou o governo a dialogar com a população para resolver a crise.
Auma Obama, ativista e meia-irmã do ex-presidente americano, Barack Obama, estava entre os manifestantes na frente do Parlamento, na terça-feira, e foi atingida por gás lacrimogênio, de acordo com a CNN. Em entrevista, ela contou o motivo de estar no protesto: “Estou aqui porque veja o que está acontecendo. Os jovens quenianos estão se manifestando por seus direitos. Eles estão se manifestando com bandeiras e faixas. Não consigo nem enxergar mais”, disse ela enquanto começava a tossir por conta do gás jogado pela polícia. “O colonialismo nunca acabou no Quênia”, dizia um cartaz carregado por um homem atrás de Obama.
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