Crânio de líder da Revolta dos Malês exposto em museu de Harvard deve ser devolvido ao Brasil

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Crânio de líder da Revolta dos Malês exposto em museu de Harvard deve ser devolvido ao Brasil
Imagem: Ilustrção Harper's Weekly/Arquivo

O crânio de um dos líderes da Revolta dos Malês, levado ilegalmente para os Estados Unidos há 190 anos, pode ser repatriado ao Brasil ainda em 2025. O objeto, que integra a coleção do Museu Peabody, da Universidade de Harvard, é alvo de negociações entre o governo brasileiro, pesquisadores da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e o Centro Cultural Islâmico da Bahia (CCIB). A devolução do crânio, considerado um patrimônio histórico e simbólico da luta negra e islâmica no país, ocorreria durante as celebrações dos 190 anos da revolta, um dos maiores levantes de pessoas escravizadas nas Américas.

A Revolta dos Malês, ocorrida em Salvador (BA) nos dias 24 e 25 de janeiro de 1835, foi um movimento organizado majoritariamente por negros muçulmanos, muitos deles alfabetizados em árabe. O termo “malê” deriva da palavra iorubá “imalê”, que significa “muçulmano”. A revolta, inspirada na Revolução Haitiana, buscava a libertação do povo negro e a independência do jugo colonial. Apesar de reprimida violentamente, o levante deixou um legado de resistência e luta pela liberdade que ecoa até os dias atuais.

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O crânio em questão pertenceu a um dos líderes da revolta, cuja identidade ainda não foi totalmente esclarecida. Ele foi roubado do Brasil por Gideon Theodore Snow, um diplomata americano que atuou como vice-cônsul em Alagoas e cônsul em Pernambuco na década de 1840. Snow entregou o crânio ao Museu Peabody, onde permanece exposto como parte de uma coleção que inclui restos mortais de cerca de 19 indivíduos escravizados no Brasil e no Caribe, além de milhares de nativos americanos, que foram utilizados como ‘objeto de pesquisa’ de eugenistas.

A existência do crânio foi revelada em 2022, após a publicação do livro Masters of the Health: Racial Science and Slavery in U.S. Medical Schools, do historiador Christopher Willoughby. A descoberta mobilizou pesquisadores e lideranças religiosas, que passaram a exigir a repatriação do objeto. Em novembro de 2023, o Ministério das Relações Exteriores (MRE) formalizou um grupo de trabalho, batizado de GT Arakunrin — termo iorubá que significa “irmão” ou “companheiro” —, para acelerar as negociações com Harvard.

Próximos passos
Quando o crânio retornar ao Brasil, ele será submetido a estudos para determinar a idade aproximada do líder e realizar um teste de DNA, que pode revelar mais sobre a origem étnica dos participantes da revolta. Um escaneamento 3D também está planejado para reconstituir o rosto do Arakunrin, como é chamado o líder pelos membros do GT. Após os estudos, o crânio será enterrado de acordo com os rituais fúnebres islâmicos.

A repatriação do crânio se soma a outros recentes esforços do Brasil para resgatar seu patrimônio histórico, como a devolução do Manto Tupinambá, em 2023, após mais de 300 anos no Museu Nacional da Dinamarca, e do fóssil do dinossauro Ubirajara jubatus, restituído pela Alemanha no mesmo ano.

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