
Disponível no Disney+ com o título em português Furacão Katrina: Corrida Contra o Tempo, a nova série documental da National Geographic resgata uma das passagens mais traumáticas da história recente dos Estados Unidos sob um ponto de vista que desafia a narrativa oficial. Com produção executiva de Ryan Coogler (Pantera Negra), a obra parte de relatos de moradores e socorristas para mostrar como o desastre natural ocorrido em 2005 expôs o racismo estrutural que atravessa o país.
Ao longo de cinco episódios, a série reconstitui os bastidores da tragédia com base em arquivos inéditos, vídeos caseiros e depoimentos de sobreviventes. Um dos episódios mais impactantes mostra como a Guarda Nacional da Louisiana tratou a população negra durante os resgates. Em vez de receberem assistência humanitária, muitas pessoas foram abordadas de forma agressiva e conduzidas “como gado”, segundo reportagem do Wall Street Journal. “Houve momentos em que a sobrevivência foi tratada como crime”, resume uma das vozes da produção.
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A direção é de Traci A. Curry, que também assinou Attica, indicado ao Oscar. Segundo ela, a série adota um tom de investigação forense, traçando a cadeia de decisões que agravaram a tragédia. Não se trata apenas de um relato do desastre natural, mas de uma denúncia sobre a forma como a resposta pública ignorou — ou agravou o sofrimento de comunidades historicamente negligenciadas.
Produzida ao longo de dois anos, a série envolveu o acesso a centenas de horas de material bruto e conversas com moradores que nunca haviam sido ouvidos pela grande imprensa. Entre os personagens centrais está o poeta e sobrevivente Shelton Alexander, que registrou em vídeo sua experiência no Superdome, estádio onde milhares de pessoas foram abrigadas em condições insalubres. As imagens de Alexander, combinadas a imagens de helicópteros, mostram famílias inteiras vivendo dias sem água potável, comida ou assistência médica e sob vigilância armada.
Ryan Coogler, responsável pela produção ao lado da equipe da Lightbox, explica que o objetivo do projeto era garantir que a narrativa partisse de quem realmente viveu a tragédia. “Queríamos contar essas histórias através das vozes das pessoas que viveram o desastre moradores, socorristas e líderes comunitários”, afirmou, em entrevista ao portal Black America Web.
Lançada vinte anos após o Katrina, a série funciona também como um acerto de contas com a forma como desastres são geridos — e com quem mais sofre quando os sistemas falham. Em um dos trechos, um entrevistado aponta: “Durante duas semanas, vidas negras na Costa do Golfo foram destruídas. E ninguém parecia se importar”.
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