Por Nathália Arruda*
Não pense que a periferia não lê jornal, assiste noticiário ou ouve pronunciamento de presidente. Ela sabe interpretar e também teme pelo futuro, aliás lidar com a perspectiva de um futuro melhor e ter fé que as coisas irão melhorar lhe ajuda a seguir um dia após o outro.
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A periferia está tensa em meio a epidemia, com o que será do amanhã se é que ele irá existir. Sem emprego, sem recursos, sem assistência, ninguém ali está fugindo do trabalho, fazendo corpo mole, sendo vagabundo. A questão é que os que podem ficar em casa em meio a crise do coronavírus, não podem fazer carreata.
Sim aos que podem, pois tem gente aí no corre que nunca nem ao menos se isolou, não tem direito a homeoffice ou reserva de emergência para pedir demissão. Afinal, o dinheiro da janta se ganha no almoço, a luta pela sobrevivência é diária e muitas vezes uma corrida contra o tempo para não encarar (outra vez) a fome.
Essa periferia que muitos chamam de desinformada, mal qualificada, massa de manobra está preocupada com a vida dos seus. Tentando por comida na mesa de desconhecidos, pois possuem empatia e sabem que a fome dói. Se mobilizando para levar cestas básicas a famílias carentes, como o #Sobrevivendo ao Coronavírus a São Paulo ou Corona no Paredão,Fome não a todo o Brasil. Costurando máscaras na garagem de casa e distribuindo de graça entre os seus e a população de rua já que ninguém o faz, reafirmando que toda vida importa e deve ser protegida.
Ela também está na frente de combate, assistindo aos infectados, tentando frear o contágio, honrando um juramento de proteger a vida enquanto tenta proteger os seus. Como o técnico de enfermagem Josenildo que dormia no terraço de casa por falta de escolha e em uma tentativa de proteger a mãe de 73 ano e mais quatro familiares que residem em dois cômodos em uma casa em Campina Grande.
Impressiona né, como tanta gente pode caber em um espaço tão pequena. Essa é a realidade de muitas gente que vive nas periferias pelo Brasil. Pessoas que dividem dois cômodos com seis, oito, doze pessoas, sem a possibilidade de manter a distância segura.E ainda precisa lidar com as ofensas e cobranças de gente que tira o domingo para fazer carreata no conforto de seus carros de 60 mil reais para cima, usando máscara, na porta de hospital, onde pessoas estão entre a vida e a morte, para protestar contra uma quarentena que quer preservar a vida.
Não em nome da Periferia, essa que muitos chamam de desinformada, mal qualificada, massa de manobra não vai a carreata em meio a uma pandemia, até porquê geralmente usa transporte público. Ela sabe a muito tempo que acesso e qualidade dos recursos de saúde podem ser determinantes para determinar quem vai viver ou morrer, pois a tempos vem perdendo os seus em corredores lotados de hospitais públicos.
Então, essa periferia que a tempos lida com escassez de recursos, com filas em hospitais, falta de médicos e precariedade do SUS, faz a única coisa que está ao seu alcance para diminuir a curva de infectados e preservar a vida : fica em casa!
Nathália Arruda é criadora de conteúdo voltado a empoderamento de pretos e periféricos dentro do mercado corporativo no Linkedin e discussões econômicas e raciais no medium
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