A palavra “consciência” remete à uma reflexão individualizada ou coletiva sobre um determinado fato, uma condição ou uma realidade. Entendo também que consciência implica no uso da razão, por mais elementar que seja a sua manifestação, em busca de um entendimento lógico, consensual ou não, sobre o universo que nos cerca e no qual vivemos. A partir de nossas razões construímos as nossas convicções pessoais e, baseados nelas, buscamos interagir em família, na sociedade e com o mundo.
O Brasil, enquanto pátria, nação, país e estado, tem um profundo conflito de identidade: tem a evidência do “sangue” e da “pele” de traços marcadamente africanos, mas estranhamente não tem uma “consciência negra” institucionalizada, se considerarmos o padrão vicioso com que o establishment tupiniquim subcondiciona a sua população negra, desde 1530. Ao longo de nossa História tem sido árdua a luta dos nossos antepassados e contemporâneos por essas terras:
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Primeiro a busca da nossa afirmação como pessoa, rejeitando o rótulo de mercadoria.
Em seguida a luta pela afirmação de nossa brasilidade, combatendo a tentativa da elite em nos transformar em “um povo” dentro de “um país”.
Depois, robustecendo a assertividade sobre a nossa etnia, repelindo as tentativas de nos transformarem em “espécie”.
E em tempos mais recentes, a nossa batalha tem sido a da cidadania plena, pois fazemos parte do DNA do Brasil e esses novos tempos globais não comportam mais a administração social de sub-classe, a qual nos manteve confinados, em nossa maioria, em um circulo vicioso de deplorável formação educacional, de sub-emprego sistemático e de distanciamento das rodas de consumo de valor da sociedade.
Por outro lado, nós afrodescendentes precisamos cada vez mais pegar a nossa História e o nosso destino em nossas próprias mãos. A era digital indica que foco, planejamento, disciplina, auto-estima, livre iniciativa e empreendedorismo são algumas das premissas legítimas, seguras e saudáveis para que nós negros consolidemos com êxito o estabelecimento de uma “consciência” negra ascendente e progressista de norte a sul e de leste a oeste deste país.
Ouso até dizer que, após os Estados Unidos nos anos 60, 70 e 80 e a África do Sul nos anos 90, o Brasil será a próxima nação com expressiva população negra a sofrer um grande e profundo questionamento sobre a sua identidade étnica. Afinal, a consciência negra “no Brasil” é a própria consciência “do Brasil”.
Zumbi do Palmares morreu sabendo disso… E nós, negros do século XXI?”
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