Mundo Negro

Conheça o festival de Salvador que hackeou o sistema

Foto: Divulgação

Festival Afrofuturismo se consolidou unindo ancestralidade, resistência e a construção do futuro negro

Sigo reverberando toda a experiência que fui exposta no Festival Afrofuturismo – Ano VI, que, agora em 2024, se ergueu como um marco de resistência e celebração da cultura negra. Nos dias 29 e 30 de novembro, Salvador testemunhou a sexta edição do festival, que trouxe como tema central “Adinkras – O Código Fonte da Liberdade”, uma homenagem aos símbolos originários do povo Asante, em Gana.

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Em um ano marcado por desafios para a realização de eventos afrocentrados por falta de patrocínio, fez  acender um alerta para quem trabalha na área, e com a pauta racial, mas o FAF reafirmou sua relevância ao promover uma celebração transformadora da cultura negra, como um espaço essencial para a valorização da ancestralidade africana, discutindo caminhos para um futuro mais inclusivo e representativo.

Com uma programação diversificada, o festival ocupou o coração da capital baiana, distribuindo suas atividades por locais emblemáticos como a Casa Vale do Dendê, o Museu Eugênio Teixeira, o Teatro Sesc Pelourinho e a Casa do Olodum. Cada espaço simbolizava a fusão entre o passado e o futuro, entre tradição e inovação.

O tema escolhido, “Adinkras – O Código Fonte da Liberdade”, trouxe à tona a profundidade filosófica dos símbolos africanos, que carregam significados ligados à espiritualidade, ética e governança. Essa reflexão permeou todas as atividades, conectando a ancestralidade africana às inovações contemporâneas em tecnologia, arte e educação.

Os debates foram o ponto alto do festival, reunindo especialistas, ativistas e lideranças negras em mesas de conversa que abordaram questões como racismo estrutural, representatividade e inovação. Destaques incluíram:

“Ancestrais do Futuro: Construindo uma Nova Cosmovisão para o Amanhã”, com Grazi Mendes, reconhecida como uma das 100 futuristas negras mais influentes do mundo.

“A Influência Digital no Combate ao Racismo”, explorando a tecnologia como ferramenta de transformação social.

“Construindo uma Escola de Marketing Antirracista – Unilever Brasil”, que apresentou estratégias corporativas para transformar práticas de comunicação sob uma ótica inclusiva e diversa.

Esse último debate, promovido pela Unilever, contou com a presença de Vinícius Araújo e Ana Carolina Valentim, destacando iniciativas práticas para a promoção da equidade racial no setor corporativo. Ainda temos muito o que falar sobre isso.

Ainda sobre marcas, novidades deste ano foi a Casa Dove, um espaço que uniu cuidado pessoal, representatividade e autoestima. Localizada no coração do festival, a Casa Dove promoveu oficinas de autocuidado, workshops sobre padrões de beleza e discussões sobre como a estética pode ser um ato de resistência. Mas isso é pauta para um outro artigo.

Foto: Divulgação

Arte e cultura afrocentradas

O festival não apenas educou, mas também encantou com uma programação artística e musical diversa. Performances como o espetáculo “Koanza no Futuro”, de Sulivã Bispo, e apresentações de dança do Projeto Marias trouxeram ao público o impacto visceral da cultura afro-brasileira. Cada performance foi uma celebração da história negra, mas também um grito de resistência e orgulho.

O sucesso do Festival Afrofuturismo, por outro lado, evidenciou que, com o apoio adequado, iniciativas afrocentradas podem não apenas sobreviver, mas prosperar. A parceria com instituições como a Unilever, a Prefeitura de Salvador e o SEBRAE foi fundamental para viabilizar o evento, mas também ressaltou a urgência de mais empresas e órgãos públicos apoiarem essas iniciativas.

O evento não é apenas um acontecimento cultural – é um movimento que une inovação, ancestralidade e resistência. Sob o tema “Adinkras”, o festival propôs reflexões profundas sobre liberdade e identidade, usando os símbolos do povo Asante como fio condutor.

Prêmio AYA: Uma noite de celebração e homenagens

O Prêmio AYA, realizado na cerimônia de abertura, simbolizou o ponto de partida do Festival Afrofuturismo 2024. Inspirado no símbolo Adinkra que representa independência, resiliência e perseverança, o prêmio destacou personalidades que preservam e fortalecem o legado cultural afro-brasileiro.

A cerimônia, realizada na Casa das Histórias de Salvador, contou com a presença de autoridades, artistas e lideranças culturais. Paulo Rogério Nunes, cofundador da Vale do Dendê e do festival, abriu o evento enfatizando seu crescimento e impacto ao longo dos anos.

Os homenageados da noite foram:

Categoria Griô

Abena Busia: Embaixadora de Gana no Brasil por sete anos, ovacionada por sua contribuição às relações culturais e diplomáticas.

Tamoase Dantas (Sr. Escurinho): Líder cultural do Centro Histórico de Salvador.

Mário Nelson: Pioneiro no afroempreendedorismo.

Categoria Artística

Regina Casé: Atriz e apresentadora, reconhecida por sua contribuição à valorização da cultura negra no audiovisual.

Categoria Executivo Destaque

Grazi Mendes: Futurista e autora do livro Ancestrais do Futuro, lançado durante o festival.

Samantha Almeida: Executiva da Rede Globo, reconhecida por sua liderança no setor criativo.

Regina Casé emocionou o público ao destacar a importância de integrar passado e futuro, afirmando que Salvador é um exemplo vivo dessa conexão. Já Abena Busia, em sua despedida como embaixadora, reforçou o papel de iniciativas que conectam o legado africano às diásporas.

O legado do Festival Afrofuturismo

O Festival Afrofuturismo 2024 não foi apenas um espaço de celebração, mas também um grito de resistência e um chamado à ação. Em tempos de retrocessos e desafios, ele reafirmou a importância de preservar e promover a cultura negra como um motor de inovação e transformação social.

Como disse Pedro Tourinho, Secretário de Cultura de Salvador:

“Para a cidade, é obrigação apoiar, mas é uma inspiração também. O Festival Afrofuturismo e a Vale do Dendê inspiram muito a nossa cidade.”

Que o sucesso desta edição seja um lembrete da força da cultura negra e da necessidade de mais apoio a eventos que, como o Festival Afrofuturismo, têm o poder de transformar o presente e projetar um futuro onde a liberdade e a ancestralidade negra sejam celebradas em toda sua plenitude.

Em suas palavras e ações, o Festival Afrofuturismo encarnou o espírito de seus ancestrais: resistência, resiliência e criatividade. Que essa celebração seja também um chamado para que a sociedade brasileira invista mais no presente e no futuro da sua maior riqueza – a cultura negra.

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