Mundo Negro

Conceição Evaristo reflete como a estética negra é uma ferramenta política: “nunca fomos considerados belos”

Foto: Divulgação

“Estética não é desligada da política.” Aos 78 anos, a escritora e intelectual Conceição Evaristo refletiu através de memórias da sua juventude, o impacto negativo da ausência de produtos pensados para pessoas negras. “Quando a gente fala de política, está falando também dessa política que nos insere dentro de uma comunidade. Se há uma produção de produtos de beleza, ela vai interferir diretamente na estética das pessoas, naquilo que inclusive se considera como belo”, disse durante o evento de lançamento do “Código de Defesa e Inclusão do Consumidor Negro”, realizado nesta segunda-feira (29) no Rio de Janeiro.

“A minha juventude todinha, mesmo parte da minha maturidade, a gente não tinha produto de beleza. Eu me lembro inclusive de meias, coisas básicas, a gente não tinha um tom de meia que combinasse com a nossa pele. Em 73, quando eu cheguei aqui no Rio de Janeiro, eu não tinha batom que me agradasse”, relembrou.

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O relato de Conceição Evaristo reforça um Brasil que ainda lida com as consequências da exclusão racial no mercado de consumo. “A gente faz muito esse elogio da mestiçagem brasileira. Nós sabemos como povo negro que nós nunca fomos considerados como belos. O máximo que a gente foi considerado é exótico. Exótico também é uma classificação que nos colocava à margem da beleza brasileira, principalmente nós mulheres negras”, afirmou.

Para Conceição, “pensar sobre estética ou em em produtos que valorizam o meu tom de pele, o meu tom de cabelo, ultrapassa a um discurso ou uma potencialidade do mercado. Eu acho que isso está diretamente ligado à nossa identidade como brasileiros.”

Ao encerrar sua fala, ela celebrou a juventude negra que hoje se vê e se afirma com orgulho. “Eu fico muito feliz de hoje pensar que tem aí uma juventude que se insere na característica variável que forma a nação brasileira e que tenha essa possibilidade de se sentir belo, se sentir como sujeito constitutivo de uma nação a partir de uma identidade negra.”

Conceição Evaristo foi uma das convidadas do lançamento do “Código de Defesa e Inclusão do Consumidor Negro”, documento resultado de uma parceria entre a L’Oréal Luxo, divisão do Grupo L’Oréal no Brasil, e o MOVER (Movimento pela Equidade Racial), desenvolvido em parceria com a Black Sisters in Law — rede global de advogadas negras —, que apresenta 10 normas sem validade jurídica, mas com “enorme efeito moral”.

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