
Amo minha raça, luto pela cor.
— Racionais MC’S
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Não sei você, mas cheguei num nível de estafa com o rumo das discussões nas redes sociais. O pior é que hoje o ambiente virtual tornou-se um espaço importante, tanto para a busca de informações no campo de estudos, profissional, política, etc. Não tem como abandonar definitivamente. Atualmente, a discussão está em torno de uma pauta que não soma em nada com as lutas e conquistas históricas na agenda política dos movimentos negros. Numa sociedade como a nossa, onde discursos reacionários se potencializaram na onda do governo Bolsonaro, a vigilância se tornou necessária em todos os aspectos.
De maneira irresponsável, surgiram pessoas negras defendendo e aplaudindo teses que, se olharmos criticamente, estão alinhadas com o sistema racista. Tenho certeza de que a branquitude está festejando! Como pode a ousadia dessas pessoas, que estão muito longe de ter legitimidade no campo do conhecimento, estimular as pessoas pardas a reivindicarem um campo político dissociado da categoria racial “negro”?
Sabemos que no Brasil os negros são considerados a junção de pretos e pardos, uma conquista histórica dos movimentos negros e inclusa em diferentes pesquisas sociais, desempenhando papel fundamental na elaboração de políticas públicas de combate ao racismo estrutural. No entanto, estão querendo esfacelar o consenso construído com muito custo. A armadilha “dividir para conquistar” é antiga, não podemos cair nisso. Nesse contexto, é como se as lições e informações produzidas pelos movimentos, intelectuais, políticos e ativistas negros não servissem de nada.
É um tamanho retrocesso darmos as costas para os valiosos ensinamentos de Lélia Gonzalez, Abdias Nascimento, Clóvis Moura, Beatriz Nascimento, Sueli Carneiro, Hélio Santos, Nilma Lino Gomes, Jurema Werneck, Solano Trindade, entre tantas outras pessoas comprometidas com a autonomia e emancipação do povo negro.
A militância irresponsável ignora os problemas concretos. Negros agonizando nas filas dos hospitais, morando em condições habitacionais precárias; educação sem qualidade, crianças negras sofrendo racismo nas escolas, negros desempregados e explorados, mulheres negras no topo das vítimas de feminicídio, letalidade policial ininterrupta. A lista de problemas é imensa.
Por outro lado, eu entendo que exista tratamento ligeiramente distinto entre pretos e pardos na sociedade. Não há dúvida. Mas, as questões para a sobrevivência da comunidade negra clamam por solução. Devemos nos conscientizar que a marginalização nos abraça independentemente da variação da tonalidade de nossa pele. Vamos acordar para isso, irmão, antes que seja tarde!
Encerro este texto com as palavras de Kabengele Munanga, importante intelectual congolês que muito contribui para a luta negra: “Conheço muitas pessoas pardas, homens e mulheres, que assumem a sua negritude, lutam como negro para transformar a sociedade. Embora tenham consciência que são geneticamente mestiços, mas politicamente elas assumem sua negritude na luta contra o inimigo comum.” E continua: “Nossa luta não vai ganhar com esse colorismo e essa divisão entre os pardos e os pretos (…)”.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MUNANGA, Kabengele. Rediscutindo racismo, negritude e mestiçagem. Entrevista concedida a Nilma Lino Gomes et al. Teoria e Debate, São Paulo, 14 nov. 2023. Disponível em: https://teoriaedebate.org.br/2023/11/14/rediscutindo-racismo-negritude-e-mesticagem. Acesso em: 28 ago. 2025.
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