Mundo Negro

Com mais de 200 obras de 80 artistas negros, Museu Nacional da Cultura Afro-brasileira abre nova exposição em Salvador

Foto: Luan Teles

Recuperar tecnologias ancestrais através da temporalidade do sagrado africano. Sob esse conceito, o Museu Nacional da Cultura Afro-brasileira (Muncab) abre, nesta sexta-feira, 19, às 18h, a exposição “Raízes: Começo, Meio e Começo”. Com mais de 200 obras de 80 artistas negros, como Emanoel Araújo, Heitor dos Prazeres, Lita Cerqueira e Juarez Paraíso, a exposição enaltece as tecnologias das matrizes africanas que moldaram a construção identitária do Brasil.

Na cultura iorubá, que chega ao Brasil no século XVIII pelos povos originários da Nigéria, Daomé e do Togo, o tempo é recorrente, com padrões e eventos que se renovam, indo de encontro à linearidade ocidental irreversível que se prende ao início, meio e fim. Dessa forma, “Raízes: Começo, Meio e Começo” propõem-se a mostrar a circularidade do tempo e a conexão do presente e do futuro com os antepassados, bem como evidenciar que nascimentos, euros de passagem e mortes são ciclos de continuidade e não de perdas, lutos ou eventos isolados.

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Com curadoria de Jamile Coelho e Jil Soares, a exposição é dividida em cinco eixos temáticos, que preenchem os dois andares do Muncab: Origens, Sagrado, Ruas, Afrofuturismo e Bembé do Mercado. “‘Raízes: Começo, Meio e Começo’ entrelaça a circularidade do tempo, para refletir sobre as tecnologias ancestrais. Presente, futuro e passado formam as raízes de um grande baobá. Para algumas etnias originárias africanas, essa espécie vegetal de grande porte é a árvore da vida. Reconhecemos a diáspora afro-brasileira como uma das ramificações dessa raiz ancestral”, explica Jamile Coelho, que também é diretora do Muncab, sobre a pesquisa para a exposição.

Exposição

O núcleo “Origens” parte do princípio de tudo. Salvador é descrita como o útero da raça negra na diáspora. Narrativas visuais guiam o público pela travessia identitária das águas oceânicas que moldaram a formação dos quilombos a partir dos navios negreiros. Já o território “Sagrado” aprofunda as tradições espirituais. Mesmo dispersas, elas foram capazes de reatualizar e ritualizar suas conexões existenciais de pertencimento, por meio do culto aos orixás, nkisis e voduns juntados aos caboclos encantados da terra. Artefatos, músicas e danças celebram a força dos espíritos.

“Os visitantes são convidados a refletirem sobre a diáspora afro-ameríndia e a continuidade das tradições ancestrais, baseando-se na experiência visual como um testemunho contemporâneo. A exposição é uma jornada imersiva para contemplar esse berço civilizatório sob a perspectiva das manifestações artísticas, dos rituais religiosos e do modo de organização social e política, transmitidos entre gerações”, destacou Jil Soares.

O espaço “Ruas” abraça o “pretuguês,” neologismo que define o simbólico universo linguístico, artístico, gastronômico, político, social e cultural enraizado nas matrizes africanas. A paisagem urbana das cidades de Salvador, Luanda, Montevidéu, Porto Novo, Havana e Lagos carregam semelhanças dessa identidade sinônimo da resistência. O ambiente “Afrofuturismo” promove o encontro entre ficção científica, tecnologia, realismo fantástico e mitologia para retratar a vida plena da população negra nas artes visuais e na moda. Desta forma, recupera a autoestima de povos historicamente subalternizados, para projetar futuros libertários por meio da inserção da estética negra nas artes consideradas contemporâneas.

O eixo “Bembé do Mercado” registra os patrimônios culturais imateriais expressos na musicalidade, na língua, nos versos, nos sotaques e nos saberes sociais. A cidade de Santo Amaro, no Recôncavo da Bahia tornou-se palco do maior culto do candomblé de rua do Brasil, tendo sido realizado pela primeira vez em 1889 em celebração à Abolição da Escravatura. Um símbolo da manifestação da fé dos povos negros. “Raízes: Começo, Meio e Começo” também reverencia o princípio dinâmico de todas as coisas de Exu, o orixá regente de 2024. A exposição é uma produção do Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira em parceria com a RCD Produção de Arte.

A exposição segue até 9 de março de 2025. O Muncab funciona de terça a domingo, das 10h às 17h (com acesso até às 16h30). Os ingressos custam R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia), com gratuitidade aos domingos e quartas-feiras.

Serviço:

Exposição – “Raízes: Começo, Meio e Começo”

Local: Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira (Muncab)

Endereço: Rua das Vassouras, 25, Centro Histórico de Salvador, Bahia

Período: 19 de julho de 2024 a 9 de março de 2025

Horário: Terça a domingo, das 10h às 17h (acesso até 16h30)

Ingressos: R$ 20,00 (inteira) e R$ 10,00 (meia) | Gratuidade: Quartas-feiras e domingos

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