
Após a recente repercussão de uma adolescente negra que foi vítima de racismo no Colégio Presbiteriano Mackenzie, em São Paulo, um novo caso de ofensa racial na unidade escolar veio à tona, desta vez contra uma menina de 8 anos.
Segundo o boletim de ocorrência que a equipe do Mundo Negro teve acesso exclusivo, no dia 22 de abril, dentro da sala de aula, foi iniciada uma discussão entre quatro crianças, a respeito de uma atividade escolar, quando um garoto se direcionou a duas meninas negras e disse: “bem tipo de empregadinha pobre”, em referência depreciativa ao cabelo crespo das crianças.
Notícias Relacionadas



A fala foi ouvida por uma assistente de sala, que também é negra, e logo interveio e alertou o menino que se tratava de racismo. Porém, antes do início da discussão, a menina chegou a procurar pela professora de inglês, que teria orientado que as quatro crianças resolvessem o conflito entre si, sem a intervenção de qualquer adulto ou mediador, o que resultou posteriormente em um episódio racista.
Ainda de acordo com o boletim, também não houve nenhuma providência imediata de responsabilização por parte da escola. A família afirma que não houve mediação com os pais depois do ocorrido.
Eles pediram que a coordenadora pedagógica, cuja figura causa desconforto e insegurança emocional na criança, devido a um histórico com o irmão mais velho, não tivesse contato direto com ela, mas a escola manteve-a como figura central no encaminhamento do caso.
“Por experiências anteriores, já enfrentamos diversos problemas com a atual coordenadora pedagógica, que durante três anos foi responsável pelo acompanhamento de nosso filho mais velho. Nossa filha sente-se intimidada e tem receio dessa profissional”, diz um trecho da representação enviada à Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, sobre comentários racistas proferidos por parte da própria diretoria contra o ex-aluno.
Em entrevista ao Mundo Negro, a advogada da família, Thais Proença Cremasco, contou que a diretoria do colégio fez a menina pedir desculpas para o colega que a insultou, pois entendeu que houve ofensas mútuas. “O Mackenzie não estava preparado. Quando o racismo não é combatido com intencionalidade, as violências vão se reproduzindo de forma infinita”, afirma.
Para a família, houve omissão institucional grave e foi solicitada uma apuração da conduta da escola diante do episódio de racismo explícito, que “afetou profundamente a dignidade e o bem-estar” da criança.
O que diz o Mackenzie
Em nota encaminhada para o Mundo Negro nesta sexta (9), o Colégio Presbiteriano Mackenzie relatou que “durante uma atividade em sala de aula, foi registrado um desentendimento verbal entre alunos do 4º ano do Ensino Fundamental Anos Iniciais. A situação foi prontamente percebida pelas professoras responsáveis, que intervieram no momento e acionaram a equipe de orientação educacional”.
A nota diz ainda que os alunos foram ouvidos de maneira individual “ambiente acolhedor”. O colégio também alega que os alunos receberam orientação pedagógica adequada à sua faixa etária e que os pais foram chamados paralelamente para reuniões presenciais: “Por se tratarem de crianças de aproximadamente 8 anos, ainda em processo de desenvolvimento emocional e social, a sanção aplicada foi uma advertência formal, acompanhada de um plano de acompanhamento contínuo, com foco no acolhimento, na mediação de conflitos e na formação de atitudes respeitosas no convívio escolar”, descreve a nota.
Implementação de programa antirracista
Diante das denúncias, a família entrou com uma ação, solicitando que os acusados sejam citados para se defenderem e condenados a pagar uma indenização por danos morais no valor de R$100 mil cada — ou outro valor que a Justiça considere justo. O processo está sendo movido sob representação das advogadas Thais Cremasco e Flávia Marino.
Além disso, os pais pedem que a coordenadora pedagógica seja imediatamente afastada do contato com a criança e que a aluna possa ser transferida de turma. Também solicita que a escola apresente um plano urgente de combate ao racismo. A ação exige que a escola, o município e o Estado de São Paulo implementem um programa antirracista e ofereçam apoio psicológico aos alunos, com acompanhamento da Justiça. O processo inclui o pedido para produção de provas, como depoimentos e documentos.
Thais Cremasco ficou conhecida por representar o caso da Samara Felippo, que resultou na primeira condenação por injúria racial em escola no Brasil, e na defesa do próprio filho, que garantiu a primeira expulsão em escola particular por racismo no país.
Confira a nota completa do Mackenzie
O Colégio Presbiteriano Mackenzie informa que, no dia 22 de abril, durante uma atividade em sala de aula, foi registrado um desentendimento verbal entre alunos do 4º ano do Ensino Fundamental Anos Iniciais. A situação foi prontamente percebida pelas professoras responsáveis, que intervieram no momento e acionaram a equipe de orientação educacional.
Todos os alunos envolvidos foram ouvidos individualmente em ambiente acolhedor, com escuta ativa e orientação pedagógica adequada à sua faixa etária. Em paralelo, a escola convocou os pais e responsáveis para reuniões presenciais, nas quais prestou todos os esclarecimentos sobre o episódio, as providências adotadas e os caminhos pedagógicos a seguir.
Por se tratarem de crianças de aproximadamente 8 anos, ainda em processo de desenvolvimento emocional e social, a sanção aplicada foi uma advertência formal, acompanhada de um plano de acompanhamento contínuo, com foco no acolhimento, na mediação de conflitos e na formação de atitudes respeitosas no convívio escolar.
A escola reforça que a participação ativa das famílias é essencial nesse processo, permitindo o diálogo transparente, o fortalecimento da parceria entre escola e lar e a construção de soluções conjuntas orientadas pelo cuidado, pela escuta e pela formação integral dos estudantes.
O episódio também reafirma a importância dos projetos já implementados pelo Colégio Mackenzie, como o “Fala Sério!”, que estimula a comunicação consciente e empática, e o “Projeto Respeito – Um Caminho para o Bem Viver”, que promove valores como diálogo, escuta e convivência ética desde os primeiros anos da Educação Básica.
O Colégio repudia qualquer forma de desrespeito ou violência e segue comprometido com um ambiente escolar seguro, inclusivo e formativo, no qual situações como esta sejam sempre tratadas com seriedade, empatia e responsabilidade compartilhada.
Notícias Recentes


