“Cinema negro afetivo e verdadeiro”: diretor e protagonista falam sobre a potência de ‘Kasa Branca’

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“Cinema negro afetivo e verdadeiro”: diretor e protagonista falam sobre a potência de ‘Kasa Branca’
Foto: Divulgação

Aclamado pela crítica, o filme ‘Kasa Branca’, protagonizado por Big Jaum, estreia nos cinemas dia 30 de janeiro, e já tem feito história no audiovisual negro, periférico e brasileiro. 

O longa venceu quatro prêmios no Festival do Rio 2024, incluindo como Melhor Direção, com Luciano Vidigal se tornando o primeiro diretor negro premiado na competição principal de longa de ficção da premiação. 

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“A gente tem uma responsabilidade de representatividade. Nossa arte se torna uma referência para uma geração preta que está chegando e fazendo barulho também. Mas, eu me sinto sozinho. Eu acho uma pena essa trajetória de ser o único diretor preto a ganhar em 2024 o melhor diretor no Festival do Rio. Deveriam ter mais diretores ganhando. A gente tem que ter uma relação horizontal com o audiovisual brasileiro e eu espero que milhões de diretores ganhem, que a gente normalize essa relação”, diz Luciano Vidigal, que também assina o roteiro do longa, em entrevista para o Mundo Negro. 

Diretor Luciano Vidigal (Foto: Divulgação)

‘Kasa Branca’ acompanha Dé (Big Jaum), morador da periferia de Chatuba, que passa a viver com sua avó Dona Almerinda (Teca Pereira), diagnosticada com Alzheimer e com pouco tempo de vida. Dé, ao lado de seus dois amigos inseparáveis Adrianim (Diego Francisco) e Martins (Ramon Francisco), tenta aproveitar a convivência com a avó da melhor forma. 

Apesar do filme ser inspirado em uma história real, Luciano fala sobre a liberdade para poder reinventar a realidade, mantendo a origem do Kasa Branca. 

“Eu gosto muito da história real. Eu acho a rua e a favela extremamente cinematográfica. É muito dramatúrgico o povo brasileiro, o cotidiano. É uma coisa que me atrai muito. Eu me apeguei a muitas coisas reais, mas a gente está falando de uma ficção. Minha metodologia é muito em cima do que os atores também me oferecem ali no processo de pré-produção, de preparação do filme, com a vivência dos atores”, conta. 

Big Jaum e Teca Pereira no filme ‘Kasa Branca’ (Foto: Divulgação)

“Foi um desafio muito legal porque a gente fala de um cinema negro afetivo, um cinema jovem, preto, mas que é um cinema verdadeiro e verossímil. Ao mesmo tempo que a vida real me dá essa base, mas na liberdade da dramaturgia e da ficção também é interessante ter essa mistura”, reflete Luciano. 

Um filme sobre valorização da família 

Para Big Jaum, protagonista do filme, uma das principais mensagens de ‘Kasa Branca’ é sobre a valorização da família. 

“O que eu aprendi muito com o filme que eu trago para a minha vida são esses valores que o Dé não negocia ali, independente de qualquer coisa. Ah, o amigo está pegando a mulher, o outro está fazendo isso, o outro está fazendo aquilo, mas ele tem que cuidar da avó dele. O foco em valorizar a família dele, seguir os princípios dele. Então, é um filme que além de tudo, todas essas camadas, fala muito sobre valor”, afirma Big Jaum em entrevista para o Mundo Negro. 

Big Jaum e Teca Pereira no filme ‘Kasa Branca’ (Foto: Divulgação)

“O Dé, quando ele vira para a avó e fala que está tudo bem, não é uma questão de otimismo, mas nesse sentido de tentar jogar para o universo, não aceitar tão fácil a derrota. Ele tem a total noção da realidade, que não está tudo bem, e ele sente aquilo ali, a gente consegue ver. Pouquíssimas vezes ele acaba expressando, como aquela frase que é bem marcante no trailer, que é ‘a minha avó está morrendo’, meio que a ficha caindo”, completa. 

O ator relata que consegue se identificar com o seu personagem em alguns aspectos. “O Dé é bem introspectivo e, apesar da imagem de comediante, a gente tem nossas camadas e a nossa vida tem muito mais profundidade do que a gente consegue demonstrar, de repente, em uma rede social. Então, o Jaum, já saindo do Big, ele também é muito esse cara de acabar retendo alguns sentimentos e algumas situações”, comenta o ator e comediante. 

“No caso, até a comédia ajuda a maquiar essa parada, mas, às vezes, a gente passa por muita situação e só vai absorvendo tudo e tenta filtrar, de alguma forma, para quem está no nosso entorno, que era o que Dé tentava fazer com a avó. Tudo dando merda, mas ele estava ali tentando amenizar, tentando fazê-la parar de sentir dor. Então, isso é algo que eu me identifico muito com o personagem”, conta. 

Big Jaum, Diego Francisco e Ramon Francisco no filme ‘Kasa Branca’ (Foto: Divulgação)

A potência de ‘Kasa Branca’ 

O personagem Dé, para mim, foi um grande presente que o Luciano me deu quando me fez o convite para o teste e me aprovou. A experiência de gravar esse filme foi muito enriquecedora, um aprendizado absurdo pela troca que eu tive, pela oportunidade de troca com atores já consagrados, com patrimônios nacionais do cinema. E um primeiro drama dentro da minha carreira desse porte, com o papel desse porte, é algo muito significativo e eu fico muito feliz. Tenho certeza que já mudou muito a minha vida e ainda tem muita coisa para acontecer. KASA BRANCA certamente vai ter vida longa”, celebra Big Jaum. 

Para o diretor, fazer cinema independente no Brasil perseverar, faz parte da premissa como cineasta. “As coisas demoram a acontecer. É um projeto que demorou muito tempo, mas ao mesmo tempo também eu espero que se acelere através de políticas públicas, que facilitem para que a gente tenha mais urgência nessa democratização do nosso espaço com protagonismo preto no audiovisual”, diz Luciano Vidigal. 

“Mas foi um filme que eu fiz com conforto, com estrutura, e eu aprendi muito nesse processo, não só de roteiro, mas aprendi muito com os atores, com essa juventude potente. Então, hoje eu tenho a dizer que o diretor precisa ter escuta. Não ter certeza do que ele quer como diretor, mas saber filtrar, porque pode vir muita coisa interessante do que você escuta”, aconselha. 

Diego Francisco e Big Jaum no filme ‘Kasa Branca’ (Foto: Divulgação)

Além da carreira de ator, Luciano Vidigal também já coleciona créditos como diretor, de longas como “5x Favela: Agora por Nós Mesmos” e o documentário “Cidade de Deus: 10 Anos Depois”, todos em parceria com outros cineastas. Mas com o drama ‘Kasa Branca’ que ele estreia na direção solo.

O elenco de ‘Kasa Branca’ também conta com Babu Santana, Roberta Rodrigues, Diego Francisco, Ramon Francisco, Gi Fernandes, Otavio Muller, Guti Fraga, além de marcar a estreia de L7nnon e Dj Zullu no cinema.

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