No dia 6 de março estreia, na TV Globo, o especial “Falas” que em 2023 apresenta a antologia “Histórias Impossíveis”. Escrito por três mulheres negras, o especial que contempla o ‘Falas Femininas’, ‘Falas da Terra’, ‘Falas de Orgulho’, ‘Falas da Vida’ e ‘Falas Negras’, neste ano, trará histórias de ficção protagonizadas por mulheres.
Renata Martins, Grace Passô e Jaqueline Souza são as responsáveis pela autoria das histórias que veremos na televisão. Ao lado de um time de colaboradores, elas dão o tom ao especial que tocará em questões sensíveis relacionadas a gênero, sexualidade, raça e idade, baseadas nos medos femininos.
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E para começar o ano, na próxima segunda-feira, veremos o “Falas Femininas” que vai ao ar na semana em que é celebrado o Dia Internacional da Mulher e traz a história intitulada “Mancha”, um episódio de ficção que contará a história de Mayara (Luellem de Castro) e Laura (Isabel Teixeira). Mayara trabalha para Laura como empregada doméstica e está em seu último dia de trabalho. Ela, que passou no vestibular e decidiu investir em seu estudo, acredita que Laura, mãe solo de uma bebê, é uma patroa “diferente”. Até que Laura pede que ela desista dos estudos. Sem sucesso, pede um último favor: a limpeza de uma mancha na janela de vidro da sala, que muda o curso da história de ambas.
Os demais episódios serão exibidos ao longo do ano em datas que remetam às causas e lutas sociais abordadas na obra: Dia dos Povos Indígenas, Dia do Orgulho LGBTQIAPN+, Dia Nacional das Pessoas Idosas e Dia da Consciência Negra.
Grace Passô conta que “Histórias Impossíveis” mostrará “Um Brasil real, do tamanho da surrealidade que é ser mulher brasileira”. Jaqueline Souza dá pistas sobre o que podemos esperar do especial “Falas”. “O público pode esperar o inesperado. Há muita coisa nova, talentos imensos que se juntaram para contar histórias que vão bagunçar a gente por dentro, e depois nos abraçar”, revela.
Ao Mundo Negro, a cineasta Renata Martins contou em entrevista sobre como foi dividir a autoria das histórias do projeto com outras duas mulheres negras e falou sobre suas expectativas quanto à recepção do projeto pelo público negro.
“Histórias impossíveis” estará dentro do especial Falas Femininas? Como essas histórias estarão divididas e o que elas retratam?
Histórias (Im)possíveis, é uma antologia de gênero em cinco episódios que será exibida ao longo do ano dentro do projeto Falas. Teremos “Falas Femininas”, em Março, “Falas da Terra”, em Abril, “Falas do Orgulho” em Julho, “Falas da vida”, em Outubro e “Falas Negras”, em Novembro. Os episódios são autocontidos, eles começam e terminam no mesmo dia e todas as histórias são protagonizadas por mulheres de várias etnias, identidade de gênero, classe social e idade. A cada episódio uma história diferente, cuja premissa é o medo das personagens e como elas lidam com ele, ou não, ao longo da narrativa.
Temos visto a Globo anunciar o episódio “Mancha”, que será exibido no dia 6 de março, e que mostra a personagem de Luellem de Castro caindo de uma sacada. Como levar ao entendimento do público a complexidade da relação entre patroas e empregadas domésticas no Brasil?
‘Mancha’ é o primeiro episódio da série e ele abre a temporada de discussões sobre temas urgentes em nossa sociedade. É sempre bom lembrar que é uma série ficcional de gênero e isso nos permite falar sobre as várias camadas que a temática pede. Não à toa, esse episódio foi escolhido por nós para ser o abre-alas do especial. É através dele que pretendemos estabelecer um contrato com o público sobre as leis que regem a nossa narrativa e também por ser uma das relações mais perversas que herdamos dos tempos coloniais.
A relação de trabalho entre Laura (Isabel Teixeira) e Mayara (Luellem de Castro) é uma das mais complexas em nossa sociedade. Elas são mulheres de classe social e melaninas diferentes, que vivem no mesmo espaço onde há uma relação clássica de micro poder. De um lado, uma mulher madura, progressista, sensível, mas que não quer abrir mão de seus privilégios. Do outro, uma jovem universitária, no seu último dia de trabalho, que se demitiu e decidiu alçar novos voos. Tudo parecia caminhar bem, mas esse caminho foi interrompido por um capricho de Laura e a tensão veio. É a partir dessa tensão que começa a discussão sobre relações de poder, não apenas sobre a da patroa com a empregada doméstica, mas das relações que interseccionam raça, classe e gênero na sociedade.
Qual mensagem o projeto quer passar esse ano contando “Histórias impossíveis”? Em especial a história da personagem Mayara?
Eu acho que a maior mensagem é que o tecido que separa o real do irreal é muito fino e que muitas de nós, mulheres, em especial mulheres negras, vivemos situações reais, mas que parecem impossíveis aos olhos da sociedade e mesmo assim encontramos formas de ressignificar a nossa própria existência. A personagem Mayara é a continuidade das mulheres que vieram antes. Ela é a voz das que não puderam falar em algum momento de suas vidas. Ela é o olhar fresco para o futuro, com seus desejos, medos e desafios. A Mayara somos nós.
Como foi a experiência de dividir o processo de escrita dos roteiros do projeto com Grace Passô e Jaqueline Souza?
Jaqueline Souza e Grace Passô são parceiras criativas muito especiais. Eu já desenvolvia trabalhos de criação com Jaque e tive a honra de ter a Grace como protagonista de meu curta-metragem “Sem Asas”. Foram três meses de desenvolvimento na conceitualização da série, escrita das sinopses e do piloto. Nos encontrávamos todos os dias via Zoom e assim nasceu a série. O nosso encontro nesse projeto foi muito poderoso, inspirador e muito reflexivo, pois as discussões nos moviam internamente… não só como autoras, mas como mulheres negras que vivem e observam a sociedade.
Mas é muito importante ressaltar a segunda fase do desenvolvimento da série, com a abertura da sala de roteiro e a entrada das roteiristas Thais Fujinaga, Hela Santana, Graciela Guarani, Renata Tupinambá e da pesquisadora Jaqueline Neves, que seguiu conosco ao longo do projeto. Um encontro de talentos, respeito e muito afeto.
Como vê a recepção de seu trabalho pela comunidade negra?
Eu espero que o meu trabalho chegue na comunidade negra com a potência e respeito que foi desenvolvido. Sou uma cineasta, autora negra e que me sinto muito orgulhosa por utilizar meu talento e minha arte para ampliar a nossa voz no território nacional. Quero também, que ele chegue em toda sociedade, pois sei que há discussões e reflexões que precisam ser compartilhadas com todo mundo e acho que a tv aberta é o melhor lugar para isso acontecer.
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