
O espanhol Ignacio Sánchez Villares, CEO da Leroy Merlin no Brasil, foi acusado de injúria racial pela jornalista Ana Paula, de 27 anos, uma das poucas pessoas negras selecionadas para o Programa de Trainee 2024. O caso aconteceu durante a integração do grupo em março do ano passado, quando o executivo afirmou que “a Leroy Merlin teria tudo para utilizar trabalho escravo em suas lojas no Brasil, o que traria significativa economia de impostos, mas não o faz porque é uma empresa muito boa.”
Em uma entrevista recente à Voz da Diversidade, Ana Paula contou que a fala racista foi dita quando ela questionou a ausência de pessoas pretas entre os trainees selecionados, que não refletia a divulgação do programa com imagem de pessoas negras. A resposta do CEO veio acompanhada de outra fala ofensiva: “Ele me perguntou se eu ligava para cor de pele. Eu respondi que não, mas que a sociedade sim, e então ele me respondeu que ‘a gente’ [negros] precisávamos esquecer esse negócio de escravidão e pensar no que vamos construir daqui pra frente.”
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“Não tem como eu esquecer isso. Olha para essa sala. Temos duas pessoas pretas no meio de 32. Você acha que essa sala representa o país?” rebateu Ana Paula na ocasião. Ela relata que, após o episódio, ela e a outra trainee negra choraram e foram levadas para fora da sala por outros membros da equipe.
O caso foi levado ao setor de compliance da matriz francesa, e, segundo Ana Paula, após quatro meses, a empresa informou que Ignacio havia sido apenas “alertado” a não repetir esse tipo de fala. A recomendação era que ele pedisse desculpas, o que não aconteceu.
Ainda de acordo com o relato da ex-trainee, uma diretora de RH da empresa teria minimizado o caso: “Você acha que a companhia vai levar em consideração o que ele fez ou os 32 anos de empresa que ele tem?”, disse a ela.
Ao final do programa, Ana Paula foi direcionada a assumir um cargo em Sorocaba (SP), mas recusou a transferência por falta de informações claras. Após negar a mudança, pediu demissão e decidiu acionar a Justiça contra a Leroy Merlin.
Em nota enviada à imprensa, a empresa afirmou que “não tolera qualquer forma de discriminação, assédio ou prática que viole os direitos humanos e trabalhistas”, e afirma que há mais de 10 anos, “a Leroy Merlin tem implementado ações concretas e contínuas para a promoção da diversidade, da equidade e da inclusão, hoje alcançando 44% de mulheres e 29% de negros em posições de liderança”.
Leia a íntegra a nota da empresa
A Leroy Merlin reafirma o seu compromisso inegociável com a ética, a transparência e o respeito a todas as pessoas que fazem parte do seu ambiente de trabalho. A companhia não tolera qualquer forma de discriminação, assédio ou prática que viole os direitos humanos e trabalhistas. A cultura da empresa é pautada na valorização das pessoas, na diversidade e na construção de um ambiente de trabalho justo e inclusivo. A empresa esclarece que o caso em questão e todos os relatos no Canal de Escuta Ética são analisados e tratados em sigilo e máxima seriedade. Reforça que para esse caso dará continuidade quando citada oficialmente na esfera judicial, e acompanhará os seus desdobramentos com o devido respeito às partes envolvidas.
Em relação ao programa de trainees, esclarecemos que sua estrutura contempla, desde o início, a possibilidade de movimentações geográficas (em média 20% dos participantes mudam de loja), como parte do plano de desenvolvimento profissional. No caso citado, a colaboradora foi aprovada para uma vaga de Gerente Comercial em outra loja, na mesma regional e Estado, a mesma agradeceu formalmente por todo o desenvolvimento profissional, porém declinou a promoção e, ao final do programa de trainee, seu contrato foi encerrado.
Ao longo de mais de uma década, a Leroy Merlin tem implementado ações concretas e contínuas para a promoção da diversidade, da equidade e da inclusão, hoje alcançando 44% de mulheres e 29% de negros em posições de liderança (um crescimento de 15 e 11 pontos percentuais respectivamente, nesse período). A companhia revisita permanentemente as suas políticas internas, seus mecanismos de escuta e seus protocolos de governança. Temos convicção de que promover um ambiente de trabalho respeitoso e plural é uma construção contínua e um compromisso da companhia.
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