Mundo Negro

Celebrando a Amazônia no palco: Jeff Moraes e a grandiosidade cultural do Pará

Foto: Victor Takayama

Texto: Rodrigo França

No palco, o Pará se torna protagonista, e a Amazônia, com sua força e riqueza cultural, é elevada a um patamar da subversão e modernidade. Com o espetáculo Tambor & Beat, o multiartista afroamazônida, Jeff Moraes, trouxe ao Rio de Janeiro um show que vai além da música: é um manifesto cultural e político que celebra as raízes da Amazônia enquanto as conecta ao mundo.

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Os ritmos amazônicos, como carimbó, guitarrada e marabaixo, misturam-se aos beats eletrônicos contemporâneos, criando uma sonoridade singular que encanta e provoca reflexão. É impossível assistir a Jeff Moraes no palco sem sentir a potência da cultura paraense que ele carrega. Mais do que um cantor, Jeff é um contador de histórias, um embaixador da Amazônia que traduz em música, dança e poesia as vivências do seu povo.

O show, apresentado em espaços emblemáticos do Rio, como o Sesc Copacabana, foi uma experiência completa para o público. Desde o primeiro acorde, o artista e sua banda – formada exclusivamente por músicos paraenses – convidam o espectador a mergulhar em um universo onde tradição e inovação coexistem de forma harmônica. A performance é vibrante, e o público é constantemente chamado a participar, seja com aplausos, dança ou apenas entregando-se à imersão cultural que o espetáculo proporciona.

O repertório, majoritariamente autoral, traz canções como “Jambú & Dendê”, que mistura o pagodão baiano com os sabores sonoros do Pará, provando que a música brasileira não conhece barreiras regionais. Essa fusão reflete o desejo de Jeff de ampliar os horizontes da música amazônica, colocando-a no mapa das grandes produções nacionais. E ele faz isso com maestria, sem perder a essência das ruas de Belém, de onde veio.

Além da música, a presença cênica de Jeff Moraes é um show à parte. A coreografia sincronizada com os bailarinos paraenses – Hian Denis e Cinthia Tavares e os figurinos, de Vinny Araújo e Jonathan Camelo, cuidadosamente pensados são elementos que elevam a narrativa visual do espetáculo. Cada detalhe é planejado para contar a história de um Pará contemporâneo, diverso e cheio de vitalidade. É impossível não se emocionar com o diálogo entre tradição e modernidade que Jeff apresenta no palco.

Jeff Moraes, no entanto, não se limita ao espetáculo musical. Ele é um artista multimídia que transita com desenvoltura por diferentes linguagens, como teatro, audiovisual e redes sociais. Sua trajetória de mais de dez anos está profundamente enraizada na valorização da negritude amazônica e na crítica social, elementos que permeiam seu trabalho e dão profundidade às suas obras. O episódio “Ver-o-Peso”, da série Sampleados, estrelado por Jeff, é um exemplo disso, somando mais de um milhão de visualizações e reafirmando o impacto de sua arte.

Outro ponto que merece destaque é a maneira como Jeff Moraes ressignifica o conceito de pop no Brasil. Em um mercado musical muitas vezes dominado por fórmulas pré-estabelecidas, o cantor paraense quebra paradigmas ao inserir elementos regionais e identitários em suas produções. Ele não busca apenas sucesso comercial, mas também reconhecimento enquanto porta-voz de uma cultura rica, que merece estar no centro das discussões artísticas do país.

O show Tambor & Beat (produção de Sandro Santarém, Jonas Macedo) não é apenas entretenimento. Ele se torna um ato político ao reafirmar a importância de olhar para o norte do Brasil com o respeito e a valorização que ele merece. Em um país onde as manifestações culturais muitas vezes são silenciadas ou ignoradas fora do eixo Sudeste, a turnê de Jeff é uma vitória para a música brasileira e para a representatividade amazônica. Para quem teve a oportunidade de assistir à apresentação, ficou claro que Jeff Moraes não apenas carrega o Pará consigo, mas também entrega ao público uma nova visão sobre a Amazônia. Ele transforma a cultura paraense em algo tangível e universal, provando que o Brasil, com sua pluralidade, ainda tem muito a oferecer ao cenário mundial.

Ao final do espetáculo, é impossível não se sentir transformado. Jeff Moraes nos lembra que a arte tem o poder de conectar, emocionar e ensinar. Com Tambor & Beat, ele convida cada espectador a celebrar as diferenças, a valorizar o que vem das margens e a se orgulhar de um Brasil que pulsa nas batidas de um tambor e nos acordes de uma guitarrada. Assim, Jeff Moraes não apenas reafirma a potência da cultura paraense, mas também assume seu lugar como um dos grandes nomes da música brasileira contemporânea. E, ao fazê-lo, ele nos mostra que o futuro da arte brasileira passa, necessariamente, pela Amazônia e por artistas como ele.

O Pará não está na moda, porque moda é passageira. A cultura do Pará sempre existiu, firme e ancestral, mas agora, mais do que nunca, está rompendo as barreiras da hegemonia cultural que insiste em silenciar vozes periféricas. E essa revolução não tem volta.

Agenda:

12/12 – Ensaio aberto Bloco Minha Boca Treme

14/12 – Festival Psica

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