Regulação da gestão de sustentabilidade e o desafio de pensar ESG sem Equidade Racial

Texto: Rosana Fernandes

Como a nova resolução da CVM pode ajudar a engajar o ESG Racial

Recentemente o mercado vem trazendo grandes transformações e pressões olhando para a urgência de repensar o modelo de desenvolvimento de forma mais sustentável. Uma das provas é a recente resolução da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) que enfatiza a importância da sustentabilidade nas empresas.

Como um passo fundamental na direção mais assertiva do modelo de gestão, essa iniciativa visa promover uma maior transparência e responsabilidade no mercado de capitais brasileiro, alinhando-se com o crescente movimento global em torno da sustentabilidade. No entanto, embora a ênfase na sustentabilidade seja crucial, é fundamental alertar gestores para que não deixem de olhar para o risco real de que essa nova frente possa desviar a atenção das empresas das preocupações relacionadas à gestão da diversidade.

Apesar de terem todos muitos avanços no Brasil sobre a pauta de diversidade, ainda é possível constatar cenários desafiadores, especialmente em setores altamente estratégicos como o financeiro. Conforme um levantamento realizado pela ANBIMA em parceria com consultoria Goldenberg Diversidade, 63% das instituições dos mercados financeiro e de capitais ainda têm um engajamento baixo em relação aos temas de diversidade e inclusão.

Além disso, entre 2022 e 2023, diante de cenários desafiadores, como a onda de layoffs que atingiu o mercado, em especial startups e algumas empresas de tecnologia, não foram raros os casos reais em que as prioridades nos deslocamentos foram os perfis de profissionais diversos e setores de diversidade e inclusão.

Caminhos para alinhar Sustentabilidade, Diversidade e Inclusão

No contexto do Brasil, onde a equidade racial é uma questão crítica, as empresas devem manter um compromisso contínuo com a promoção da diversidade racial. Ainda há um gap muito grande no volume de contratação de profissionais negros, em especial mulheres.

Diante do cenário nacional atual, que permanece tendo 60 % da população negra em idade ativa no mercado de trabalho em condições de sub utilização, atuando de modo informa; presença de 6,3% de pessoas negras em posições de liderança, menos de 5% em cargos executivos, conforme dados do IBGE, além de apenas 4 % de mulheres negras em posições de conselho, de acordo com o levantamento feito pela Mc Kinsey, para o país se tornar uma referência em sustentabilidade, é vital que as empresas brasileiras demonstrem seu compromisso não apenas com questões ambientais, mas também com a igualdade racial e a inclusão social.

Uma das estratégias para as organizações investirem em sustentabilidade, sem desengajar a pauta de diversidade é adotar a inclusão de indicadores relacionados à equidade racial e à diversidade nos relatórios de sustentabilidade. Este olhar estratégico pode ajudar a direcionar o foco para essas preocupações cruciais e agregar ainda mais valor à geração de impacto e posicionamento estratégico frente ao mercado.

É essencial reconhecer que a sustentabilidade e a gestão da diversidade não são objetivos mutuamente exclusivos, mas sim complementares. O pilar “S” (Social) do ESG (Ambiental, Social e Governança) é de igual importância, e a equidade racial e a diversidade são componentes vitais dessa dimensão social. Ignorar a questão da diversidade pode minar os esforços de sustentabilidade, uma vez que uma empresa verdadeiramente sustentável deve ser inclusiva e representativa de todos os setores da sociedade.

O novo relatório anual especial, seguindo as normas padronizadas do International Sustainability Standards Board (ISSB), oferece uma oportunidade significativa para as empresas brasileiras destacarem seus esforços na gestão da diversidade racial, juntamente com os esforços de sustentabilidade. A inclusão de informações sobre governança, estratégia e métricas relativas à equidade racial pode ajudar a sensibilizar os investidores sobre o compromisso das empresas com a diversidade, garantindo que essa dimensão social do ESG não seja negligenciada.

Portanto, enquanto a resolução da CVM é um marco importante para a promoção da sustentabilidade no Brasil, é fundamental que as empresas mantenham seu compromisso com a diversidade e a equidade racial, reconhecendo que o sucesso a longo prazo depende de uma abordagem holística que englobe tanto as questões ambientais quanto as sociais. A integração efetiva desses dois pilares fortalecerá o mercado de capitais brasileiro e contribuirá para a construção de um futuro mais sustentável e igualitário.

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