Racismo ambiental: Em 2024, precisamos buscar soluções para a distribuição desigual dos impactos ambientais

Texto: Priscilla Arantes

O ano de 2024 inicia com o desafio de ampliar e fortalecer ações com foco na redução das desigualdades raciais ainda mais evidentes no cenário atual de crise climática. 2023 foi marcado por uma série de acontecimentos que trouxeram à tona a urgência de abordar e combater o racismo ambiental em escala global. Questões relacionadas à distribuição desigual dos impactos ambientais, o acesso a recursos naturais e a vulnerabilidade de comunidades marginalizadas e racializadas ganharam destaque, proporcionando um espaço vital para reflexões e ações.

Em novembro, o mundo bateu, pela 1ª vez, a média global de temperatura, que ultrapassou os 2°C acima da média histórica e atingiu exatos 2,07°C, superando os 1,5° de previsão de aquecimento global no futuro próximo.

No Brasil, por exemplo, a Amazônia experimentou uma crise preocupante de seca. Os rios, vitais para a sobrevivência de ecossistemas e comunidades ribeirinhas, atingiram níveis historicamente baixos. É inegável que o problema seja resultado da combinação de mudanças climáticas, desmatamento e práticas inadequadas ao ecossistema, como o garimpo ilegal, denunciado no início do ano e principal causa por trás da destruição de territórios indígenas.

O papel das organizações sociais na amplificação dessas questões foi notável em 2023. Movimentos populares, campanhas de conscientização e denúncias de práticas prejudiciais à saúde ambiental em comunidades marginalizadas tiveram impacto significativo, gerando discussões que transcenderam fronteiras geográficas.

O reconhecimento de que a justiça climática é uma parte intrínseca da luta pelos direitos humanos ganhou força, impulsionando a necessidade de mudanças sistêmicas em políticas públicas e práticas empresariais. Nunca se falou tanto em ESG e durante a COP 28, líderes de diferentes nações reconheceram a interseção entre questões ambientais e sociais.

Os discursos enfatizaram a necessidade de abordar o racismo ambiental como uma violação dos direitos humanos. Mas a falta de representação significativa das comunidades mais vulneráveis nas negociações da COP levanta questões sobre a eficácia das políticas climáticas na mitigação das disparidades existentes.

A COP 28 é um evento crucial no cenário global, onde líderes de diversos países se reúnem para discutir estratégias e compromissos para lidar com as mudanças climáticas. À medida que a COP 28 acontecia, ficou cada vez mais evidente e urgente a necessidade de uma agenda inclusiva e equitativa para os próximos anos.

Lamentavelmente, a justiça racial é um elemento central que muitas vezes é negligenciado nas discussões sobre mudanças climáticas. As comunidades afetadas frequentemente não têm voz na elaboração dos acordos, resultando em decisões que podem perpetuar desigualdades.

Ao lado da justiça racial, também não há consideração adequada à justiça de gênero nas políticas climáticas. Mulheres, especialmente, periféricas, quilombolas e indígenas, frequentemente enfrentam impactos desproporcionais das mudanças climáticas devido a papéis sociais e econômicos específicos, e ainda ficam distantes dos espaços de tomada de decisão. 

No final da COP, representantes de 195 países assinaram o documento final que delineia os compromissos globais para enfrentar as mudanças climáticas. O acordo enfatizou a importância da inclusividade e justiça social nas ações climáticas, mas poucos foram os representantes de comunidades historicamente excluídas que contribuíram em sua redação.

O documento renovou a importância de um financiamento climático, com implementação de projetos de adaptação e resiliência em comunidades propensas a desastres climáticos, com destaque para a necessidade de projetos de capacitação e educação que promovam práticas sustentáveis e ferramentas úteis diante das dificuldades impostas pela crise. 

No entanto, enquanto 2023 marcou um progresso significativo na conscientização sobre o racismo ambiental e justiça climática, também ressaltou a complexidade e a amplitude do desafio. A jornada rumo à equidade ambiental é um compromisso a longo prazo que exige colaboração internacional, educação contínua e ações concretas para 2024 e os próximos anos.

*Priscilla Arantes é gerente de comunicação do Sistema B Brasil, e articuladora do Coletivo
Pretas B, um projeto que apoia mulheres negras na rede do Sistema B Brasil por meio de
mapeamento, mentoria, consultoria e capacitação, e fundadora do Instituto Afroella.

Comments