“Prezo pelo tempo de qualidade”: Rachel Maia revela os desafios e a rotina de uma executiva negra

Quando falamos aqui sobre executivas negras, sempre destacamos os grandes feitos profissionais que elas têm realizado, os eventos que participam e movimentos em que estão envolvidas para impulsionar seus negócios e pares, mas pouco paramos para pensar sobre como elas conseguem conciliar a rotina profissional com a vida pessoal.

Uma das vozes mais influentes do universo corporativo e da luta pela equidade racial nesses ambientes, Rachel Maia, fundadora e CEO da RM Consulting, é uma referência. Conhecida por ser a primeira mulher negra a comandar uma grande empresa no Brasil, ela agora dedica sua carreira à consultoria em Diversidade e Inclusão e ao desenvolvimento de lideranças, além de presidir o Conselho do Pacto Global da ONU.

Com tantas atribuições profissionais, equilibrar os pratos para ter tempo para cuidar da vida pessoal, dos filhos, Sarah Maria e Pedro Antônio, além do autocuidado, essencial para a saúde mental e física, pode ser desafiador. Em uma entrevista para o Mundo Negro, Rachel abriu as portas da sua rotina multifacetada: “Eu prezo pelo tempo de qualidade em tudo que me proponho a fazer e isso significa que, em alguns momentos, é preciso abdicar de algumas demandas e prezar pelo redesenho da semana”, contou.

Como é um dia típico na sua vida?

É um dia-a-dia muito corrido e desafiador, eu me desdobro entre uma reunião e outra. São em torno de cinco, seis reuniões por dia. Fora os demais compromissos que como conselheira preciso cumprir, como palestras e entrevistas, atrelado também aos estudos – iniciei há algum tempo um MBA em sustentabilidade – e tempo com os meus filhos e família. No final do dia, há um sentimento de dever cumprido, mas nem sempre é assim e tudo bem.

Quais são os maiores desafios que você enfrenta ao equilibrar suas responsabilidades como mãe, executiva e Presidente Conselho do Pacto Global da ONU?

Eu prezo pelo tempo de qualidade em tudo que me proponho a fazer e isso significa que, em alguns momentos, é preciso abdicar de algumas demandas e prezar pelo redesenho da semana. Ou seja, remarcar uma reunião que em uma lista de prioridades, não ocupa o topo e até mesmo delegar algumas funções, que não precise que eu esteja full time. Já tive momentos em que quis estar 100% à mercê dos meus filhos e das minhas atividades do trabalho ao mesmo tempo, e aprendi que essa dinâmica não era justa com eles e nem comigo.

A lição de casa foi tentar aproveitar as minhas 24h do dia de maneira saudável e consciente, esse foi o maior desafio, sem que os compromissos profissionais engolissem os momentos de lazer com a família e vice-versa. Eu parto muito do princípio que tudo bem errar nos negócios, faz parte, altos e baixos, mas com os meus filhos, Sarah Maria e Pedro Antônio, é sempre um desafio, uma caixinha de surpresa. Quero dar o melhor, surpreender, mas nem sempre é assim.

Como organiza seu tempo para garantir que haja espaço para momentos de lazer e autocuidado? Existe algum ritual ou hábito diário que considera essencial para manter sua produtividade e bem-estar?

Posso dizer ainda que sou uma privilegiada, conto com uma rede de apoio e uma equipe eficiente, que me auxiliam e me ajudam a ter tudo, minimamente, sobre o controle. Inseri na minha rotina agenda e aplicativos que me dão um panorama completo do que precisa ser feito e onde devo focar a minha força e energia, sem comprometer qualidade e a minha saúde, seja física ou mental. Quanto aos rituais, gosto muito de caminhar, viajar e cozinhar, são momentos que eu desligo e humanizo a minha imagem, a mulher que eu sou. Sair para encontrar amigas próximas e o famoso almoço de família também são alguns lazeres, dos quais não abro mão.

Quais são as maiores lições que você aprendeu em sua trajetória e que você aplica diariamente em sua vida e trabalho?

Desde muito nova, os estudos foram postos para mim como algo catalisador, algo que abre portas e mudam vidas. Sigo acreditando nisso e assim como meu pai fez comigo e os meus irmãos, passo isso para os meus filhos – é quase como um legado de família, e que bom que é por essa perspectiva. Alcancei e conquistei grandes oportunidades, e devo isso às formações e muito trabalho duro, me colocando sempre em posição de aprendizado contínuo. Essa é a maior lição que eu poderia ter aprendido em toda a minha vida, estudar nunca é demais, seja para mim, enquanto pessoa física, seja para a Rachel profissional.

Quais livros, autores, leituras ou personalidades te inspiram e por quê?

Me senti muito tocada com a biografia da atriz Viola Davis, e não canso de dizer. É uma história forte, com tantos desafios e conquistas, uma inspiração para mim e para tantas outras mulheres negras, independente da geração. A ex-primeira dama dos Estados Unidos, Michelle Obama, também é uma referência e posso dizer que sou fã, estou sempre atenta às suas postagens e posicionamentos. Há alguns meses, tive a oportunidade de ouvir, de perto, Oprah, em sua passagem pelo Brasil. Não poderia deixar de citá-la, assim como a Graça Machel, referência na luta pela igualdade de gênero.

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