Pesquisa revela que apenas 47% dos homens negros se sentem representados pela indústria da beleza

Uma pesquisa inédita realizada pelo Painel Bap, empresa especializada em consumidores afrobrasileiros, revelou novos dados sobre o mercado de cosméticos voltados para a população preta. Dentre números, o documento piloto chamado ‘Nossa Beleza’ (LEIA AQUI), concluiu com base em metodologias qualitativas e quantitativas que apenas 47% dos homes negros se sentem representados pela indústria da beleza. O número sobe para 79% quando o assunto diz respeito às mulheres negras.

“Quando a gente fala de indústria de beleza, a gente tá falando de mulher, então o público alvo é feminino em geral, isso porque essa indústria ela foi criada por um determinado grupo de que tem essa determinada cultura“, diz Luanna Teofillo, fundadora da Doorbell Ventures e CEO do Painel BAP. “Quando a gente fala de população preta, a gente tá falando de outras culturas de beleza. Então, o homem preto que tem cabelo comprido, trança, dread, ele nunca vai sentir representado. Porque os produtos são feitos para a mulher. Quando na verdade deveria ser para o cabelo. O xampu, ele deveria ser pro cabelo, mas o xampu é pra mulher e é um determinado tipo de mulher”.  

Luanna diz ainda que observa os 47% de homens negros que se sentem representados pela indústria de beleza como um número expressivo, apesar de parecer baixo numa primeira análise. “Porque nesse tipo de pesquisa muitas vezes a gente está trazendo ideias pras pessoas que elas não tinham antes, então de repente não é uma coisa que a pessoa refletiu”, explica ela. “Quando eu vi esse número eu achei alto e eu fiquei pensando o que será que significa. Será que essa pessoa frequenta, por exemplo, um barbeiro específico, um cabeleireiro, então ele acha que naquele ambiente, ele se sente pertencente e aí ele sente representado, ou é uma pessoa que vai no mercado, comprar o xampu e aí acha um um xampu que é pro cabelo dele?”.

O mercado não investe em pesquisa para consumidores negros

Apesar de homens gastarem tanto quanto ou mais do que mulheres em cosméticos, as lojas especializadas são muito mais focadas em produtos femininos e brancos. A pesquisa conclui ainda que as tecnologias, equipamentos e profissionais já estão totalmente preparados para atender peles claras e cabelos lisos, porém adaptá-los para a produção de produtos voltados para o público preto custa tempo e dinheiro.

A pesquisa ‘Nossa Beleza’ indicou que as pessoas à frente do desenvolvimento e escolha dos produtos que chegam até as prateleiras são em grande maioria brancas e nem sempre conseguem entender as necessidades da população preta. Como resultado, os ingredientes acabam seguindo um caminho clichê sem muita inovação e os consumidores não encontram variedade nem qualidade o suficiente nas lojas.

Luanna explica que o consumidor negro é exigente, amplo e que não basta apenas criar um produto com representatividade vazia. “A população preta consome muitos produtos porque a gente tem a necessidade, tem a carência afetiva”, diz ela. “Homens e mulheres pretas compram muito. O homem preto consome muito, porque a gente não está falando do homem branco que tem um cabelo de dez centímetros e que lava com xampu dois em um. A gente está falando de homens que tem cabelo crespo black power, dread, cabelo comprido, trança. Então quer dizer mercado é ainda maior. Então no decorrer dessa jornada a gente vê a quantidade de marcas e produtos que não que não deram certo e que que viram que não era simplesmente fazer um xampu e colocar uma pessoa black power na capa, não era suficiente“.

 

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