O que é preciso para se tornar roteirista? Autoras da série ‘Encantado´s’, da Globo, dão 5 conselhos para chegar lá!

Desde que a primeira temporada da série de humor “Encantado´s”, transmitida pela TV Globo, foi ao ar, ainda no Globoplay (2022), Renata Andrade e Thais Pontes viram seus nomes ganharem um alcance até então inimaginável. Para as duas cariocas, formadas em Publicidade e Propaganda, sem padrinhos ou conhecidos na área de roteiros, alcançar o status de autoras e criadoras em tão pouco tempo desde que deram os primeiros passos na emissora como roteirista foi surpreendente. Atualmente, a segunda temporada da série é exibida na Globo e elas já estão escrevendo a terceira.

Renata e Thais nunca duvidaram do próprio talento, mas isso não basta se você não sabe como criar ou aproveitar as oportunidades para ingressar nesse mercado. E para as duas amigas, mulheres negras e de origem simples, o desafio era ainda maior.  “Duas mulheres que, teoricamente, não tinham porque chegar nesse lugar, com a Renata criada no subúrbio, com pais que não eram ricos, pelo contrário, e eu, filha de empregada. Tinha a falta de grana, nunca foi fácil. Quando começamos a fazer os cursos, era pegar daqui e esticar dali para pagar”, lembra Thais Pontes. “Conseguimos nos realizar muito pela nossa persistência, porque a nossa realidade dizia que não era bem por esse caminho que a gente deveria seguir”, acrescenta Renata Andrade.

Para ajudar pessoas que têm interesse em seguir carreira na área, as autoras ensinam o passo a passo a partir das suas experiências, que vão desde fazer cursos para aprender técnicas de roteiros a acompanhar programas de aceleração oferecidos por grandes empresas.

Confira 5 conselhos das autoras e roteiristas da Globo/Globoplay para quem deseja ingressar no mercado.

1. Faça cursos para aprender as técnicas de roteiro

Thaís e Renata garantem que esse é o caminho essencial para começar. Afinal, ainda que fossem formadas na área de comunicação social, precisavam desenvolver técnicas de escrita para roteiros.

“A gente participava de muitos sorteios de bolsas de estudos para cursos de roteiros. Nunca ganhamos, mas quando tinha, nós tentávamos. E quando não dava para pagar, a gente não fazia. Estudamos muito, fazíamos todos os cursos gratuitos que apareciam”, lembra Thais. “Sempre que nos pedem dicas, eu falo para fazer cursos e para aproveitar a oportunidade para conhecer gente, é o melhor caminho”, afirma Renata.

2. Curso também é lugar de networking

Para as autoras, a grande oportunidade de entrar na Globo veio através do primeiro curso realizado pelas duas, em 2011. O roteirista Maurício Rizzo abriu a sua primeira turma, numa época em que ainda eram poucos cursos nessa área, e Renata e Thais se inscreveram.

“Maurício Rizzo foi o nosso primeiro professor e a gente não o conhecia. Foi ele quem nos indicou para fazer o teste para o ‘Zorra’. Tínhamos o hábito de escrever crônicas, geralmente bem-humoradas, do nosso dia a dia e postávamos nas redes sociais. O Maurício gostava dos textos”, conta Thais.

“Isso aconteceu porque a gente se deu a oportunidade de mostrar o nosso trabalho, de conhecer as pessoas, de fazer cursos. É não se bastar na certeza do do próprio talento. Muita gente acha que as oportunidades têm que procurar elas, mas é a gente que tem de ir atrás das oportunidades”, frisa Renata.

3. Faça das redes sociais a sua vitrine

Graças ao hábito de escrever crônicas e postar nas redes sociais, Renata e Thais sempre tiveram muitos feedbacks de colegas e conseguiram um alcance para além dos seus conhecidos. Por isso, Renata aconselha: “Divulgue o próprio trabalho!”

“A gente usou a rede social e isso chamou atenção do Maurício. Talvez se a gente não tivesse usado essa ferramenta, e fazíamos porque gostávamos, não tivesse chegado nele. Eu escrevia no ônibus, no trabalho, sempre gostei. E já tinha o desejo de ser roteirista quando comecei a escrever e postar”, explica Renata.

“Rede social é uma grande janela. Não dá para achar que todo mundo tem esse acesso à internet, mas já é um acesso muito mais democrático. E hoje, eu e Renata trocamos perfis de pessoas que a gente vê, atores que achamos legal, mandamos para o produtor de elenco. Essas pessoas são vistas”, indica Thaís, mostrando que é uma possibilidade não apenas para roteiristas, mas para quem deseja uma oportunidade como ator ou atriz.

4. Antes de divulgar o seu trabalho, registre!

Outro conselho que compartilham se refere ao resguardo da propriedade intelectual, especialmente no caso de textos. Se for postar, fazer o registro na Biblioteca Nacional pode ser um bom caminho. “Dá para fazer esse registro online. Texto é uma coisa que eu sempre digo para não me mandar. Tem que tomar cuidado dos dois lados. A rede social é uma janela importante, deve ser usada, mas também tem que ter cuidado. Tudo o que eu e Renata escrevemos, criamos juntas, a gente deixa registrado”, orienta Thais.

5. Atenção aos programas de aceleração das empresas

Thais Pontes estimula as pessoas que possam encontrar obstáculos para acessar esse mercado a buscarem programas de aceleração. Foi através da Oficina para Autores Negros e/ou Periféricos da Globo que elas conseguiram ingressar na área após realizar testes para o time de roteiristas do “Zorra”. Na ocasião, Renata passou, mas ainda assim a emissora achou melhor que, assim como Thaís, ela também fizesse a oficina.

“Atualmente existem muitos programas de aceleração em produtoras e nós entramos assim. A Globo fez uma oficina de novela das 18h com um monte de autores negros, a Netflix faz, a HBO fez também. O mercado está entendendo que precisa dar essas ferramentas para quem não pode. Muitas empresas estão percebendo que quando dá certo, dá muito certo!”

“Os autores podem escrever sobre qualquer história. É um problema quando só pessoas brancas contam histórias sobre pessoas negras. Quando estamos nesse lugar e conseguimos falar sobre as nossas vivências ou qualquer outra que não seja nossa, mas com o nosso olhar, a gente enriquece as narrativas”, ressalta Renata sobre a importância da pluralidade no audiovisual.

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