Que as ações de diversidade têm grande impacto social, todo mundo já sabe. Que empresas com grupos diversos têm mais lucro, também não é novidade. Agora, como isso tem sido comunicado para a sociedade?
Eu tenho notado um comportamento preocupante: profissionais da área de diversidade, integrados à equipe de recursos humanos, em sua maioria negros, estão enfrentando desgastes profissionais e emocionais ao lidar com demandas complexas à mesa, e contam com um orçamento limitado para conduzir projetos. Esses projetos são estratégicos para a imagem da empresa perante a sociedade e representam um dos princípios mais evidentes quando se fala de ESG.
Vagas inclusivas, programas especiais com foco em grupos minorizados, projetos de impacto social para comunidade. Todas essas ações precisam ser divulgadas para a sociedade. Essa é a função da área de marketing e comunicação. Porém, minha experiência mostra que fica tudo a cargo de um profissional de formação diferente, com a questão da diversidade no colo, sem conhecimentos técnicos em comunicação e já sobrecarregado com as metas da área de gestão de pessoas.
Para além da sobrecarga, este mesmo profissional da pasta de diversidade, não tem orçamento. Conversei com uma fonte de uma grande multinacional sobre investir sua verba de publicidade em veículos de mídia negra para divulgar processos seletivos programados para 2023. Ele disse que sua verba anual para essa finalidade era de R$10 mil.
“Eu queria muito, precisamos falar com mais pessoas, mas o pessoal branco do marketing não libera verba para gente”, disse um supervisor de uma grande empresa brasileira, pessoa negra, deslocado para a área de diversidade e inclusão. O que vemos é a reprodução do racismo estrutural, onde o poder e o dinheiro ficam sempre concentrados nas mãos brancas.
Não há como ações diversidade e inclusão prosperarem dentro das organizações sem o poder das áreas de marketing e comunicação, seja para ações internas entre funcionários, seja na relação com a sociedade e imprensa. Falta dos líderes esse olhar mais interseccional das ações e o entendimento que orçamento para comunicação e mídia, não é “propaganda”, é prestação de contas, é promoção de ações que podem inspirar outros negócios, é mostrar que funcionários diversos são ouvidos.
O impacto social não acontece sem investimento e sem dialogar com a comunidade. Às áreas de marketing estão atrasadíssimas no reconhecimento da importância das pautas negras dentro da suas estratégias nas grandes organizações, e do outro lado da história, está o profissional negro esgotado em tentar resolver os problemas causados pelo racismo.