O isolamento da liderança feminina negra que representa apenas 3% dos cargos

Apenas 3% de mulheres negras ocupam cargos de liderança, de acordo com o estudo ‘Representatividade, Diversidade e Percepção – Censo Multissetorial da Gestão Kairós 2022′.

Frequentemente se diz que estar à frente em posições de liderança pode ser uma experiência isolada, especialmente quando se trata de liderar enquanto se navega pelas complexidades de raça e gênero. Falando abertamente, e como a única mulher negra em muitos dos espaços que ocupei e ocupo, vejo essa afirmação como verdadeira.

Costumamos idealizar um líder perfeito, à frente de uma equipe diversificada e empoderada, crescendo sob a orientação de uma líder quase mítica, capaz de manter tudo em equilíbrio. Mas será que essa visão corresponde à realidade?

Para nós, mulheres negras, a solidão se manifesta de maneira sutil no cotidiano, pois raramente encontramos outros líderes com experiências semelhantes às nossas e que estejam disponíveis para troca. Claro, aprender com os colegas é valioso, mas muitas vezes precisamos adaptar esses aprendizados à nossa própria realidade e essência.

Considerando que muitas líderes também são mães, essa responsabilidade se intensifica. Cresci em uma época que afirmava que a maternidade era um obstáculo para a carreira de uma executiva, mas hoje percebo que ser mãe me tornou uma líder melhor e é um impulsionador para nossa carreira.

Frequentemente, questionamos as escolhas que fizemos, sabendo que o caminho para a liderança, para uma pessoa negra, é marcado por muito esforço, insegurança e pela responsabilidade de inspirar e apoiar aqueles que ainda estão chegando.

No Brasil, atualmente, nosso quadro funcional é composto por 32% de mulheres e 33% de negros. No entanto, ao analisarmos a interseccionalidade, observamos que apenas 8,9% são mulheres negras. Em posições de liderança, como gerentes e cargos superiores, temos 25% de mulheres e 17% de negros. A interseção dessas categorias revela que apenas 3% são mulheres negras.

De maneira estruturada, tenho me dedicado a desenvolver ações, tanto interna quanto externamente, com o objetivo de promover as carreiras de mulheres negras e outros grupos minorizados, através de situações práticas, exposição da realidade e a necessidade de combater o machismo e racismo estrutural, integrando vida pessoal e profissional, entre outros desafios que enfrentamos diretamente.

Como virar o jogo?

É crucial fortalecer e acolher aqueles que vêm de situações de vulnerabilidade, garantindo que as oportunidades sejam justas e criando uma rede de apoio.

Para aumentar a presença de mulheres negras em cargos de alta liderança, as organizações precisam adotar ações efetivas como:

Mentoria e Patrocínio: Estabelecer programas de mentoria e patrocínio para mulheres negras, conectando-as com líderes experientes que possam oferecer orientação, apoio e exposição a oportunidades de crescimento.

Desenvolvimento de Liderança: Oferecer programas de desenvolvimento de liderança específicos para mulheres negras, incluindo treinamentos, workshops e cursos que abordem tanto habilidades técnicas quanto competências de liderança.

Cultura Organizacional Inclusiva: Trabalhar ativamente para criar uma cultura organizacional que valorize a diversidade e a inclusão, promovendo um ambiente de trabalho onde todos se sintam valorizados e capazes de contribuir plenamente.

Redes de Apoio: Fomentar a criação de redes de apoio internas para mulheres negras, proporcionando espaços seguros para compartilhamento de experiências, apoio mútuo e desenvolvimento profissional.

Implementando essas e outras medidas, as organizações podem não apenas aumentar a representatividade de mulheres negras em cargos de alta liderança, mas também criar um ambiente de trabalho mais justo, inclusivo e produtivo.

Trabalhar pela transformação social e na cultura das empresas é uma missão diária e muitas vezes cansativa, mas é nosso dever como líderes negros influenciar, inspirar e cuidar dos que virão depois de nós, pois quando um de nós vence, todos vencemos.

*Kelly Baptista, Mãe, Diretora executiva da Fundação 1Bi, Gestora Pública, membro da Rede de Líderes Fundação Lemann e Linkedin Top Voice.

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