“Não estamos habituados a olhar o continente africano com o viés de oportunidades”, diz empresário Luciano Machado

“As oportunidades são imensas”, descreve o engenheiro civil Luciano Machado, sobre os negócios que podem ser fechados com pequenos e médios empresários do continente africano, em entrevista ao Mundo Negro. Ele acaba de voltar de Cabo Verde após uma agenda de compromissos, que o fez analisar muito sobre muitas possibilidades de lá. “O problema é que não estamos habituados a olhar o continente africano com o viés de oportunidades”.

Sócio Fundador da MMF Projetos, Luciano Machado revela que a empresa agora é signatária do Pacto Global das Nações Unidas, um movimento de sustentabilidade corporativa. “Pensando nesse compromisso, faz total sentido levarmos nosso conhecimento e acesso a tecnologia de ponta a todos os países que têm essa necessidade”, diz.

Junto com a esposa e jornalista Joyce Ribeiro, eles foram convidados pela embaixada de Guiné Bissau, em Cabo Verde, para participar dos festejos do cinquentenário da independência de Guiné Bissau, celebrado em 24 de setembro. Na entrevista, Luciano explica a relação que une os dois países como irmãos, a experiência de ir ao continente africano pela primeira vez, além de compartilhar as possibilidades de negócios destes países com o Brasil.

Quadro e camisa, feitos por guinenses (Foto: Arquivo pessoal)

Leia a entrevista completa abaixo:

Luciano, recentemente você esteve em Cabo Verde. Pode nos contar o que motivou a ida para o país e como foram as experiências de trocas culturais? 

Nós fomos convidados pela embaixada de Guiné Bissau, em Cabo Verde, na pessoa da Embaixadora Basiliana Tavares, para participar dos festejos do cinquentenário da independência de Guiné Bissau. Chegando no país, a comemoração da independência em conjunto fez total sentido. Por diversas vezes ouvimos de Guineenses e Cabo-Verdianos, que são irmãos de sangue, e essa união se dá principalmente por terem em comum o Revolucionário Amílcar Cabral, que é o grande líder da revolução e independência, que nasceu em Guiné Bissau, mas viveu, casou-se pela segunda vez em Cabo Verde e lutou pelos dois países.

Uma ideia ficou na mente. Penso que existem muitos brasileiros, que não aceitariam ouvir que são irmãos de outros brasileiros, que são diferentes deles na aparência. Me senti em casa. A sensação era de reencontro com o passado, acharam que eu era de lá. Engraçado que 3 pessoas diferentes iniciaram a conversa comigo em crioulo, depois passamos a falar em português. É difícil explicar essa sensação, você ser apenas mais um entre tantos outros negros em espaços tão importantes como os que estivemos, normalmente no Brasil, nesses mesmos espaços, somos negros únicos.

Entre as diversas pessoas que conversamos, uma frase que ouvi algumas vezes ficou gravada: “aqui em Cabo Verde, ninguém é estranho”. Fomos recebidos de uma forma única e incrível. Para se ter uma ideia, no evento de apresentação do livro (Chica da Silva, Romance de uma vida) da Joyce Ribeiro (minha esposa), estavam diversos presidentes das câmaras (que são equivalentes aos nossos prefeitos), embaixadores de diversos países, incluindo o embaixador do Brasil em Cabo Verde (Colbert Soares Pinto), que teve uma linda fala no evento. E o que mais nos surpreendeu foi a presença, durante todo evento do Presidente da República de Cabo Verde – Sr. José Maria Neves, que foi muito gentil e receptivo, inclusive abrindo sua casa para um jantar tradicional da culinária Guineense.

Evento de apresentação do livro Chica da Silva, Romance de uma vida, da Joyce Ribeiro (Foto: Arquivo pessoal)

Hoje você é uma grande referência no mundo por construir uma empresa de sucesso. Como você avalia a potência das pequenas e médias empresas no continente africano? 

No último dia 06 de outubro de 2023, eu recebi a carta de boas-vindas da ONU (Organização das Nações Unidas) e agora a MMF Projetos de Infraestrutura é signatária do Pacto Global das Nações Unidas. Pensando nesse compromisso, faz total sentido levarmos nosso conhecimento e acesso a tecnologia de ponta a todos os países que têm essa necessidade! Do ponto de vista de negócios, muitos dos países africanos possuem possibilidades enormes, sobretudo para pequenas e médias empresas. O problema é que não estamos habituados a olhar o continente africano com o viés de oportunidades, porém estando lá e vendo os enormes investimentos feitos por empresários de outros países, principalmente os chineses, é nítido que as oportunidades são imensas. Essa foi minha primeira vez em terras africanas, mas com certeza não será a última. Voltarei em breve, possivelmente ainda em 2023, para tratar de alguns assuntos que ficaram em aberto.

Luciano Machado e o da República de Cabo Verde, José Maria Neves (Foto: Arquivo pessoal)

Hoje, você considera que o Brasil e os países do continente africano tem uma boa relação para negócios? Qual ramo é ou pode se tornar mais promissor?

Os africanos, principalmente os da lusofonia, que são os que estou em contato, não olham para o Brasil com o olhar de país colonizador, uma vez que também fomos colonizados. Esse olhar já possibilita uma relação mais colaborativa e eles amam o Brasil, principalmente pelo que chega através da televisão. Diversas áreas podem se destacar nos trabalhos com os países do continente africano, tecnologia, infraestrutura e as pequenas e médias indústrias em diversos segmentos, com certeza possuem espaço para atuar. Quando estive no mercado, comprei um biscoito que não conhecia a marca, chegando no apartamento que estávamos, fui olhar onde era fabricado e foi surpreendente saber que vinha do Rio Grande do Sul, Só esse fator já confirma essa oportunidade que estamos enxergando.

Evento cultural em comunidade guinense com a Embaixadora Basiliana Tavares (Foto: Arquivo pessoal)

 

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