“Não dá mais para falar de racismo nas empresas apenas no mês de novembro”, diz André Mendes, gerente de diversidade na Kraft Heinz

A trajetória de André Mendes, um jovem negro que nasceu e cresceu na periferia de São Paulo, é marcada por sua paixão pela comunicação. Ele conseguiu contornar todas as adversidades que a vida lhe apresentou, se tornando um ponto fora da curva em sua comunidade e alcançando posições de destaque como gerente de comunicação externa Latam, Brand PR e diversidade na Kraft Heinz. “Com 14 anos, comecei a trabalhar em um jornal comunitário do meu bairro de forma voluntária, e só fui me apaixonando cada vez mais pela comunicação. Aquele jornal comunitário de um bairro da periferia me mostrou que existe um caminho para fazer comunicação de forma diferente“, diz ele em entrevista ao MUNDO NEGRO.

Formado em Comunicação Social com ênfase no Jornalismo, hoje, André trabalha como um verdadeiro ativista racial dentro das empresas, garantido oportunidades e abrindo portas para outras pessoas. Com 18 anos de carreira, ele já trabalhou liderando o atendimento de contas como Umbro, Fila, Mead Johnson, Pepsico e IBM. “Falar sobre o ativismo racial dentro das empresas é garantir que a gente continue vivo, tal como o Racionais já nos ensinou, eu estou aqui há 33 anos contrariando as estatísticas“, diz o profissional. “Mas, além de estar vivo, a gente precisa estar empregado e garantir o pão na mesa e qualidade de vida para os nossos. Por isso, falar sobre ativismo racial dentro das empresas é garantir o nosso futuro, e esse é um papel no qual eu me coloco e me esforço muito para falar e para fazer”.

André Mendes. Foto: Divulgação.

Hoje eu ocupo um espaço que ao mesmo tempo em que é uma grande conquista, é também um local de privilégio”, relata André, ao comentar que sempre busca se lembrar de onde veio e do seu propósito profissional. “Eu busco sempre me compreender enquanto pertencente ao mundo que eu vim, e não ao mundo em que estou, considerando que a grande maioria dos meus amigos e das pessoas com quem eu convivi ao longo da vida não chegaram no mesmo lugar – muito pela falta de oportunidade e pelo direito que foi tirado de ter acesso ao estudo e as melhores oportunidades“.

A representatividade corporativa, que vemos com destaque em tantos veículos, ainda é muito restrita dentro dos grandes campos de liderança, afirma André. “Quando me encontro em eventos com pessoas ativistas do movimento negro, eu vejo muitos de mim. Mas no dia a dia corporativo, quando a gente vai para uma mesa para fechar negócios ou algo do tipo, eu me vejo sozinho. Me perceber sozinho é um desafio gigantesco, que me mostra que tem muito a ser feito para que na nossa sociedade a diversidade não seja só um discurso, não seja só uma fala. Não dá mais para a gente falar de racismo nas empresas ou da importância da ativismo negro no Brasil nas empresas só em novembro. A gente precisa evoluir e trazer cada vez mais as conversas para a mesa“.

Podcast Pluralidade em Pauta

Além de seu trabalho como gerente de comunicação e diversidade, André também criou o próprio podcsat, chamado de  Pluralidade em Pauta, um projeto que que nasceu após ele ouvir falas racistas de uma pessoa do mundo corporativo. “Eu transformei minha raiva e revolta em algo concreto. Esse podcast surge como uma resposta, pois ali eu converso com várias pessoas negras de vários setores diferentes, tanto da música, quanto dos esportes e do mundo corporativo, mostrando o quanto nós somos capazes, potentes e podemos sim jogar qualquer jogo de igual para igual. Eu quis mostrar que existem pessoas negras qualificadas entregando em alto nível de qualidade em vários lugares e a gente precisa exaltar isso“, diz ele.

André Mendes. Foto: Divulgação.

Com uma jornada de sucesso, André diz ainda que tem dicficuldade de enxergar sua própria história como uma referência para outras pessoas negras. “Procuro contar minha trajetória e ter muitas trocas com as pessoas, pois sou apaixonado por conexões e por ouvir boas histórias. Acho muito ricas essas trocas e espero que de alguma forma minha trajetória possa facilitar a vida de outras pessoas, não sei como, se talvez como uma inspiração, mas espero que eu possa contribuir com a vida das outras pessoas“, conclui ele.

 

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