Maternidades plurais: mães negras e o mercado de trabalho

A maternidade é uma experiência única e complexa para todas as mulheres. No entanto, as experiências de maternidade podem variar amplamente, dependendo de fatores como cultura, raça, classe social, orientação sexual e identidade de gênero. Na proposta de construir um mundo cada vez mais diverso e inclusivo, é importante reconhecer e valorizar as maternidades plurais, que incluem as experiências de mães de todas as origens e identidades.

Partindo de um olhar interseccional, os desafios enfrentados por mulheres negras no mercado de trabalho é um problema social, que se intensifica com a chegada da maternidade e de responsabilidade coletiva quando vislumbramos um mundo mais equitativo, igualitário e regenerativo. É importante que as empresas reconheçam as necessidades das mulheres que são mães e promovam um ambiente de trabalho digno e sustentável para elas. Isso é especialmente importante para as mães negras, que muitas vezes enfrentam desafios adicionais devido a discriminação racial e desigualdades socioeconômicas.

Numa escuta promovida pelo Coletivo Pretas B, espaço de aquilombamento do Sistema B Brasil para mapear, acolher e orientar mulheres negras da rede, foram levantados os principais desafios enfrentados pelas mães negras no mercado de trabalho.

Falta de representatividade, a falta de representatividade de mulheres negras em cargos de liderança e em posições de destaque no mercado de trabalho faz com que muitas vezes elas se sintam invisíveis e sem oportunidades de crescimento na carreira. Um levantamento feito em 2022, pela consultoria Gestão Kairós, especializada em diversidade, aponta que, entre 900 líderes entrevistados (nível de gerência para cima), apenas 25% são mulheres – e, entre elas, apenas 3% são negras. Dificuldade em conciliar trabalho e cuidado dos filhos, as mães negras enfrentam desafios extras na hora de conciliar, muitas vezes tendo que lidar com a falta de acesso a creches, escolas de qualidade e outros recursos que poderiam facilitar sua vida. Salários mais baixos, as mulheres negras são frequentemente remuneradas de forma desigual em comparação com homens brancos e mulheres brancas, recebendo salários mais baixos por trabalhos equivalentes. Assédio e discriminação no ambiente de trabalho, as mães negras muitas vezes enfrentam assédio moral, discriminação racial e de gênero no ambiente de trabalho, o que pode ter um impacto negativo em sua saúde mental e emocional. E, principalmente, insegurança profissional, o receio de não voltar a ocupar a posição de trabalho que tinha antes da licença maternidade foi unânime nesse processo de escuta e acolhimento.

E, de forma prática e efetiva, como as empresas podem e devem contribuir para reduzir os impactos negativos do racismo estrutural e institucional para promover um ambiente mais inclusivo e sustentável para todas as mães?

Reconhecer a pluralidade na maternidade é um passo fundamental para um processo de mudança. Uma maternidade plural é aquela que abrange todas as experiências de maternidade, incluindo as de mães solteiras, mães adotivas, mães LGBTQIA+, mães transgênero, mães com deficiência, mães de diferentes etnias e culturas, e muitas outras. Em uma sociedade que tende a homogeneizar a maternidade, as maternidades plurais são frequentemente marginalizadas ou invisibilizadas, devem ser consideradas pelas empresas. Diferentes mulheres vivem a maternidade de maneiras distintas, seja por diferenças biológicas, culturais, socioeconômicas ou outras. Por isso, é importante que as empresas criem um ambiente inclusivo que permita que todas as mulheres possam se sentir acolhidas e respeitadas.

Promover um ambiente de trabalho digno e sustentável para as mulheres que são mães é fundamental para a garantia dos direitos humanos e para a promoção da igualdade de gênero. O impacto da responsabilidade corporativa na vida das mães negras é ainda mais significativo, uma vez que essas mulheres são frequentemente marginalizadas e sub-representadas no mercado de trabalho.

As empresas podem adotar diversas medidas para colaborar com a promoção de um ambiente de trabalho digno e sustentável para as mães. Uma delas é a adoção de políticas de maternidade e paternidade responsáveis, que incluem licenças remuneradas para os pais e flexibilidade nos horários de trabalho. Além disso, as empresas podem criar redes de apoio, como grupos de mães e programas de mentoria, para ajudar as mulheres a lidar com os desafios da maternidade e a desenvolver suas habilidades profissionais.

Um ambiente saudável para as crianças também é importante para garantir a saúde e o bem-estar das mães. As empresas podem oferecer serviços de creche e assistência à infância, bem como espaços adequados para a amamentação e a troca de fraldas. Além disso, é importante que as empresas promovam uma cultura organizacional que respeite e valorize as mães, evitando práticas discriminatórias e assédio moral ou sexual.

A saúde mental das mães também deve ser considerada pelas empresas. É comum que as mulheres enfrentem estresse e ansiedade durante a gravidez e após o parto, e a falta de apoio adequado pode agravar esses problemas. As empresas podem oferecer programas de apoio psicológico e emocional, como aconselhamento e terapia, para ajudar as mães a lidar com o estresse e a ansiedade.

Algumas empresas já estão tomando medidas para promover um ambiente de trabalho digno e sustentável para as mães. Por exemplo, a Patagônia e o Sistema B Brasil oferecem licença parental igualitária e flexibilidade de horário para acomodar as necessidades dos pais e mães. A Ben & Jerry’s oferece licenças remuneradas para saúde mental e assistência. A Natura é um exemplo de empresa que tem trabalhado na promoção de um ambiente de trabalho digno e sustentável para as mães. A empresa também oferece licença parental estendida, creches para as crianças das funcionárias, horários flexíveis e outros benefícios que visam conciliar trabalho e maternidade de forma saudável.

Mais do que serem B, o que destaca essas empresas é que em algum momento começaram a colocar em prática. Nem todas as mães vão trabalhar em grandes empresas, por isso que todas as organizações precisam ter um olhar atento para as diferentes necessidades dos membros da equipe. É possível implementar políticas internas direcionadas. A ferramenta de medição de impacto, B Impact Assessment (BIA), é uma forte aliada para essa mudança sistêmica corporativa e pode ajudar as empresas a avaliar seu desempenho em áreas importantes para um posicionamento sustentável. Além disso, serve para identificar melhorias que promovam um ambiente de trabalho sustentável e inclusivo para todas as mães, especialmente para maternidades plurais que enfrentam desafios adicionais. Nesse mês das mães é o momento para ir além das homenagens, ouvir as demandas e implementar políticas internas que dão conta da compreensão de que cada família é única e tem suas próprias necessidades e desafios. O Dia das Mães precisa ser inclusivo e representativo dessas diversas realidades.

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