Mães negras e carreira: quando decidi contratar uma mulher grávida

Meu negócio nasceu no digital. Nunca vi muito sentido em ter um escritório, um endereço físico fazendo o que eu faço. Mesmo antes do Mundo Negro crescer como empresa, sempre imaginei uma equipe remota e diversa. Para mim, pelo o que o meu negócio representa, sempre me pareceu mais coerente investir em pessoas, do que em aluguel, com todos outras despesas que vem nesse pacote.

Quando se é mãe, poder trabalhar perto dos filhos pequenos é um privilégio. Gerenciar meu trabalho como jornalista, empresária e mãe me fez desenvolver skills que dificilmente teria trabalhando em outro cenário. Não estou romantizando o estresse de ter que equilibrar tantos pratinhos ao mesmo tempo, eu ainda sofro alguns gaps de memória de uma época muito exaustiva de quando meu negócio crescia junto com as minhas três filhas.

Tendo em mente as premissas anteriores, ainda no cenário pandêmico, surgiu a oportunidade de contratar uma nova redatora para o Mundo Negro. Uma pretendente a vaga se destacou por ter experiência em mídia negra, ótima formação acadêmica, além de ser uma mulher negra, minha preferência para aquela posição.

A entrevista se desenrolou como esperava, até que quase ao final da nossa conversa, ela me conta que está nos primeiros meses de gestação. Isso era algo inesperado. Minha equipe é eficiente, mas bem enxuta. Fiquei insegura por conta da nossa demanda de conteúdo que já estava deixando meu time sobrecarregado. Não a contratei, porém a chamei para alguns freelas.

O texto dela era excelente, como já se era esperado por sua experiência. Ela fez entrevistas incríveis, conversando com as fontes presencialmente e entregando as demandas dentro do prazo. E foi quase na metade da sua gravidez que eu decidi contratá-la em uma função acima do cargo que conversamos originalmente. Se antes ela seria redatora, agora entra para o time como editora.

Sua gestação não influenciou em nada seu rendimento no trabalho e ainda humanizou a relação da nossa equipe. Ter uma gestante traz um senso de carinho e cuidado de forma orgânica ao ambiente de trabalho, o que já existia de certa forma, visto que todas mulheres do time, eram mães, mas com uma gravidinha era diferente.

Minha agora editora, teve que se afastar um pouco antes do esperado, por conta de problemas de saúde. Fato que ele nos comunicou de forma que conseguimos nos organizar. Quando ela retornou, seu trabalho continuou sendo eficiente e consistente. Tem horas que até esqueço que ela tem um bebê de poucos meses pertinho dela, mas ela sabe que eu como gestora e mãe, prezo pelo bem-estar da minha equipe e por isso pouquíssimas vezes ela se ausentou. O tempo que ela precisa focar no bebê, dentro do horário de trabalho, jamais é questionado.

Quando se tem uma equipe pequena, cada contratação tem grande impacto, por isso hesitei em um primeiro momento em tê-la de forma fixa. Como gestora, aprendi que ao final do dia o que importa são os resultados. Precisamos de vez destruir a mentalidade que gestantes e mães não entregam. Seja pelos soft skills que adquirimos tentando encontrar um equilíbrio na carreira e vida pessoal, seja pela nossa energia em agarrar oportunidades raras nesta fase da vida, é inegável que mães e gestantes conseguem trabalhar de forma eficiente em ambientes que acolhem o seu perfil.

Todas as mulheres da redação do Mundo Negro são mães negras, assim como a maioria das nossas colunistas. Os resultados estão aí em alcance e relevância. Há quem pense que somos dezenas de funcionários em algum prédio badalado em São Paulo, mas não. Eu tenho um dream time de jornalistas que trabalham de onde eles quiserem e ter mães negras dentro da minha equipe, é sem dúvida, um dos segredos do Mundo Negro ser líder do seu segmento há duas décadas.

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