A participação das mulheres no mercado de trabalho tem crescido significativamente nas últimas décadas, impulsionada por conquistas sociais e mudanças culturais. No entanto, a análise desse avanço revela um cenário complexo e desigual, marcado por interseccionalidades que impactam diretamente a trajetória profissional de determinados grupos. Neste artigo vamos abordar questões que impactam mulheres negras seniores.
A interseccionalidade, conceito que se refere à interação entre diferentes formas de discriminação, evidencia como as mulheres negras seniores vivenciam uma sobreposição de desigualdades.
A exclusão de mulheres negras seniores do mercado de trabalho e, sobretudo, de posições de liderança, reflete as barreiras estruturais impostas pela interseção de racismo, sexismo e etarismo. Embora representem aproximadamente 28% da população brasileira – cerca de 60 milhões de pessoas –, essas mulheres permanecem amplamente sub-representadas em cargos estratégicos. A discrepância é evidente: enquanto elas compõem o maior grupo étnico do país, sua presença nos níveis mais altos de poder corporativo é praticamente inexistente. Gênero, raça e idade se entrelaçam, criando barreiras que dificultam o acesso e a permanência no mercado de trabalho, limitando oportunidades de crescimento e desenvolvimento profissional.
De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), no primeiro trimestre de 2023, a taxa de desemprego entre mulheres negras era de 16,9%, enquanto a média nacional era de 8,8%. Essa disparidade se acentua entre as mulheres negras seniores, que enfrentam maior dificuldade de recolocação após períodos de desemprego.
A PNAD Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) de 2023 revela que as mulheres negras estão concentradas em ocupações de menor remuneração e prestígio, como o trabalho doméstico e o setor de serviços. Essa realidade impacta diretamente a renda e a qualidade de vida dessas mulheres, especialmente na terceira idade.
A sub-representação em cargos de liderança e a ocupação de postos de trabalho de menor remuneração contribuem para a desigualdade salarial. Menos de 1% de homens brancos ganham mais do que 28% de mulheres negras, evidenciando a profunda assimetria na distribuição de renda e oportunidades no mercado de trabalho brasileiro.
Desafios específicos enfrentados:
Mulheres negras seniores frequentemente enfrentam estereótipos e preconceitos relacionados à idade, raça e gênero, que afetam sua autoestima e suas oportunidades no mercado de trabalho.
O racismo estrutural nas organizações continua sendo um dos maiores entraves. Políticas internas de contratação e promoção muitas vezes ignoram a importância da diversidade, resultando na exclusão de mulheres negras, especialmente as mais velhas, de cargos estratégicos.
Ou seja, além das barreiras relacionadas à raça e ao gênero, o etarismo agrava ainda mais a situação. A discriminação por idade é marcada por estereótipos que desvalorizam a experiência e a competência das profissionais mais velhas, especialmente no que se refere à sua adaptabilidade às novas tecnologias e ao ritmo acelerado das mudanças organizacionais. No caso das mulheres negras seniores, essa desvalorização é ainda mais severa, resultando em um ciclo de exclusão e marginalização.
A falta de acesso à educação e à qualificação profissional ao longo da vida limita as possibilidades de ascensão e recolocação das mulheres negras seniores. E muitas vezes isso também está relacionado à dupla ou tripla jornada de trabalho, em que as mulheres assumem responsabilidades familiares e domésticas, como o cuidado de netos e parentes idosos, o que, aliado à falta de políticas de apoio como horários flexíveis, torna mais difícil sua permanência e progresso no mercado de trabalho.
E por consequência, afetando não apenas a estabilidade financeira dessas mulheres, mas também sua saúde física e mental. Estudos indicam que o estresse crônico causado por um ambiente de trabalho hostil e excludente pode levar a problemas de saúde mental, como ansiedade e depressão, além de agravar condições preexistentes, como hipertensão e diabetes.
A inclusão das mulheres negras seniores no mercado de trabalho é um desafio que exige ações conjuntas do Estado, das empresas e da sociedade. É preciso reconhecer e valorizar a contribuição dessas mulheres, garantindo que suas trajetórias profissionais sejam marcadas pela equidade e pelo respeito. A quebra do teto de vidro racial e a promoção da diversidade nos cargos de liderança são passos essenciais para a construção de um futuro mais justo e igualitário. A intencionalidade é a ação do futuro.