Com o sonho de fazer uma graduação no exterior desde a infância, Victor Balbino, 23, descobriu por meio de um programa, a possibilidade de tornar esse desejo uma realidade. Com uma bolsas de estudos, hoje ele cursa Economia na Dartmouth College, uma das universidades mais prestigiadas dos Estados Unidos.
O jovem que morou grande parte da vida em Lavras, Minas Gerais, explicou em entrevista ao Site Mundo Negro, que as universidades dos Estados Unidos levam em consideração diversos fatores para a matrícula do estudante, não apenas uma prova, similar ao Enem. “Eu tive a oportunidade de me envolver com atividades extracurriculares desde os meus 10 anos porque meus pais me incentivaram e depois eu percebi que eu não somente gostava de participar delas, mas que elas também eram valorizadas no processo de candidatura”, disse.
Junto com o amigo Artur Barbosa, o estudante de Economia decidiu então criar o SuperMentor (https://supermentor.com.br/), uma iniciativa para apoiar gratuitamente, outras pessoas que desejam fazer a graduação nos Estados Unidos. “O caminho para estudar fora não é fácil, mas é a partir do momento que a pessoa tem informação que as chances dela chances se tornam maiores e é um prazer ajudar com isso”.
Leia a entrevista completa no nosso site e saiba mais sobre o SuperMentor: Victor, ter acesso a informação de bolsas de estudos, especialmente no exterior, é muito difícil para jovens negros e de baixa renda. Como você descobriu que havia essa possibilidade de estudar em outro país?
Eu tinha o sonho de estudar fora desde criança. No entanto, eu apenas descobri que esse sonho poderia se tornar uma realidade no meu segundo ano do Ensino Médio, que foi quando eu participei do English Immersion Program, um dos programas da Embaixada dos EUA no Brasil. Essa foi uma das melhores experiências que tive na minha vida até hoje, pois ela, literalmente, me ajudou a me conhecer mais e abriu portas para o mundo das oportunidades.
Coincidentemente, uma delas foi o Oportunidades Acadêmicas, programa oferecido pelo Departamento de Estado dos EUA por meio do EducationUSA no Brasil. Com o suporte que recebi deles, eu cheguei a me inscrever em algumas universidades e fiquei na lista de espera de uma delas. No entanto, ao perceber que eu não tinha conseguido compartilhar a minha história do jeito que eu gostaria, eu decidi tirar mais um ano sabático para entender melhor essa parte da minha vida.
2. Como foi o processo de estudos e preparativos para o vestibular? Você precisou se abdicar de algo para realizar este sonho?
Ao contrário do Brasil, que considera apenas a nota que você consegue no ENEM e/ou outros vestibulares, o processo para fazer graduação nos EUA engloba diversos pré-requisitos: o envolvimento do estudante em atividades extracurriculares, notas em testes padronizados (o SAT e/ou ACT, também conhecidos como os “ENEMs americanos”) e de proficiência no inglês, notas do seu histórico escolar, cartas de recomendação, dentre outros.
Nesse sentido, um aspecto interessante que costuma acontecer com jovens que acabam estudando fora é que eles já estavam se preparando indiretamente para o processo antes de conhecê-lo. No meu caso, por exemplo, eu tive a oportunidade de me envolver com atividades extracurriculares desde os meus 10 anos porque meus pais me incentivaram e depois eu percebi que eu não somente gostava de participar delas, mas que elas também eram valorizadas no processo de candidatura.
Logo, foi mais uma questão de continuar fazendo o que eu já gostava do que ter que me abdicar de algo na minha vida. Este, inclusive, é um dos motivos pelos quais nós criamos o SuperMentor: queremos que os jovens conheçam essa oportunidade com antecedência, para que eles possam aprender sobre o processo e, assim, se preparem melhor para passar por ele antes de iniciá-lo.
3. Como tem sido a transição na vida de iniciar uma faculdade nos Estados Unidos?
Como é esperado de uma nova experiência, demorou um certo tempo para eu me acostumar com o nível das aulas (eu sou de escola estadual) e a vida em um novo país no geral. No entanto, eu me senti bastante acolhido por todos principalmente porque Dartmouth tem um programa muito interessante para estudantes de primeira geração chamado First Year Student Enrichment Program (FYSEP). Tal iniciativa simula a rotina acadêmica de um trimestre de 10 semanas na faculdade (nós temos este calendário acadêmico ao invés de um semestre) e, então, nós tivemos aulas por um período de 4 semanas e elas foram bem benéficas para auxiliar na transição.
O projeto da SuperMentor tem um recorte para apoiar exclusivamente pessoas negras e/ou de baixa renda, ou vocês acolhem todas as pessoas interessadas em estudar no exterior?
Embora as nossas iniciativas estejam abertas para todas as pessoas, sabemos que os jovens de baixa renda são os que mais precisam de suporte no processo justamente porque as informações geralmente não são acessíveis para eles. Nesse sentido, é por isso que trabalhamos com o objetivo de democratizar o acesso à informação, pois desejamos que mais pessoas possam conhecer tal oportunidade e tenham todos os mecanismos para seguir os sonhos delas, se desejarem.
Desde que iniciaram o projeto, como as pessoas tiveram suas vidas transformadas com o projeto?
O SuperMentor nasceu da nossa vontade de facilitar a jornada dos estudantes para fazer graduação aqui nos EUA. Nesse sentido, uma das formas principais que auxiliamos o nosso público é por meio do nosso Guia do Application, o qual cobre todos os passos do processo de candidatura gratuitamente.
Uma curiosidade interessante sobre os artigos do nosso guia é que eles foram escritos por pessoas (ou baseado nas histórias de pessoas) que estudam em mais de 25 universidades de ponta dos EUA (Stanford University, Harvard University, Columbia University, Dartmouth College, dentre outras) e já obtiveram mais de 500.000 acessos.
Além disso, é válido comentar também que o suporte que oferecemos é bem dinâmico, pois auxiliamos os estudantes com todo o processo ou em partes específicas da candidatura deles, como a do preenchimento de documentos financeiros. Independente da forma, é gratificante receber o feedback positivo das pessoas após os resultados, pois elas comentam como o nosso conteúdo foi benéfico para elas.
Logo, agora que nos formalizamos formalmente como Organização sem fins lucrativos, estamos super animados para continuar auxiliando os estudantes–sempre voluntariamente. O caminho para estudar fora não é fácil, mas é a partir do momento que a pessoa tem informação que as chances dela chances se tornam maiores e é um prazer ajudar com isso.
Para você, como é a experiência de ser um jovem negro e de baixa renda em uma prestigiada universidade?
Como brasileiro, eu tenho ciência que sou um dos primeiros jovens negros a estudar em Dartmouth College. E essa conquista foi somente possível por conta do apoio de todas as pessoas que passaram pela minha vida até hoje e que tiveram um impacto em mim: a minha família, meus professores, amigos, orientadores… a lista continua!
Dito isso, eu e todos nós do SuperMentor lutamos para que mais jovens de realidades semelhantes também possam ocupar espaços como este. Logo, eu (bem como outros estudantes) posso ter sido um dos primeiros a estar aqui, mas com certeza não serei o último.