Há dois anos, o ator e produtor Jonathan Haagensen, em sociedade com a produtora e roteirista Mariana Veil, fundou a Black Pen Filmes, uma produtora audiovisual com o objetivo de valorizar a representatividade negra na televisão, construir novos imaginários e contar histórias inspiradoras. Hoje, eles celebram o lançamento da primeira criação e produção como sócios: a série “Toda Família Tem“, que estreou na última sexta-feira, 12 de julho, no Prime Video.
“A criação da Black Pen tem a ver com o processo criativo do audiovisual brasileiro do qual eu fiz parte a vida toda. Percebi que os universos criados eram sempre representando o corpo preto pelo ponto de vista estereotipado e estigmatizado, sempre numa situação de vulnerabilidade. Eu era o objeto que representava esse corpo nas grandes obras que participei”, afirma Jonathan Haagensen, sócio-fundador da produtora.
“Percebendo essa dinâmica, entendi que, para mudar esse contexto, eu precisava construir o meu próprio universo. Aí surge a Black Pen Filmes, com o propósito de desenvolver histórias solares, com dramas comuns sempre com um olhar positivo, aspiracional e vocacionado para histórias cotidianas, promovendo entretenimento com responsabilidade e excelência”, acrescenta.
A série “Toda Família Tem”, também é co-criada com o ator Pedro Ottoni, protagonista da comédia. Na trama, Pê, um jovem de 19 anos, vê sua vida mudar quando retorna com a família para a casa da avó Geni no Rio de Janeiro, deixando para trás seu estilo de vida confortável. Enquanto se adapta às confusões da Família Silva, ele enfrenta seus próprios dilemas e inquietações de jovem mimado em busca de autoconhecimento.
Jonathan também revela suas inspirações para criação da série. “A ideia era ocupar uma prateleira do entretenimento brasileiro na referência de séries americanas que a gente consumiu a vida inteira. Eu cresci assistindo ‘Todo Mundo Odeio o Chris’, ‘Um Maluco no Pedaço’, ‘Eu, a Patroa e as Crianças’, então era uma necessidade ter algo parecido com isso, só que brasileiro”, diz.
“A camada por trás desse desejo era humanizar os personagens com camadas e subjetividades, com problemas universais e comuns, com direito de errar, de ser mimado, de lutar pelos próprios sonhos. O objetivo era ter uma família bem brasileira, uma Família Silva, com diversas gerações representadas e organizadas através do afeto”, conta.
Além de representar o Brasil na frente das telas, a Black Pen Filmes também conta uma equipe diversa e de diferentes regiões do Brasil, que ocupam cargos de liderança nas equipes, atuam nas tomadas de decisões, além de trazer um olhar crítico e atento para contar uma história.
A comédia é dirigida pelas diretoras Cris D’Amato e Yasmin Thayná. A sala de roteiro foi chefiada por Renata Di Carmo, e composta pelos roteiristas Pedro Ottoni, Guilherme Temponi, Maria Shu, Junior Figueiredo e Vinnicius Morais. Mariana Veil, Jonathan Haagensen e Pedro Ottoni também são os produtores executivos.
Em entrevista ao Mundo Negro, Yasmin falou sobre a experiência de se inspirar em séries norte-americanas para dirigir uma série sobre uma família negra brasileira. “Com certeza [pensar] os almoços de família, as festas de Natal, os nossos modos de organização e de fazer com que a gente esteja junto, é uma das grandes referências também para esse trabalho de direção”, diz.
No entanto, ela vê mudanças de tradições ao observar para trazer à realidade brasileira. “Esses desdobramentos, a família tradicional brasileira não é bem essa família que a gente está acostumada a pensar quando fala de família tradicional. É uma família que traz o matriarcado, que tem uma herança africana embutida. A chefe de família é a avó. Então, o mais velho [está] num lugar de força, não de vulnerabilidade”, afirma.
Enquanto diretora, Yasmin revela que seu maior desejo é oferecer um produto com mais leveza para a vida das pessoas, mostrando para a indústria do audiovisual que existem profissionais capacitados para a realização destes projetos.
“Eu espero que isso também chegue nas autoridades brasileiras, para as secretarias que pensam políticas de audiovisual, para que a gente tenha mais investimento para esse tipo de conteúdo, para novos diretores e diretoras que estão vindo aí, atores, terem capacidade financeira para poder produzir coisas que possam fortalecer as nossas vidas e os nossos cotidianos de uma forma mais positiva”, pontua.
Mariana Veil, sócia da Black Pen Filmes, conta que ela e Jonathan foram muitos presentes em cada etapa para realização da série. “São muitos desafios e tivemos uma equipe de máxima excelência em todos os departamentos para que a série existisse com muita qualidade. Nós fomos cuidadosos e generosos uns com os outros, respeitando muito o processo, trabalhando no afeto, sendo propositivo, com muita escuta e muita troca”, diz.
“Em uma primeira série produzida pela Black Pen, nós conseguimos promover um set produtivo, saudável e muito divertido, para que o propósito da série, principalmente no humor, fluísse da melhor forma, e é o que vemos transmitido no ‘Toda Família Tem’”, celebra.
Sobre o futuro, a Black Pen Filmes está em desenvolvimento de uma livre adaptação da obra “Desde que o Samba é Samba”, do escritor Paulo Lins, em parceria com a Ventre Studios, além de novos projetos originais de filmes criados pela produtora e também o licenciamento de outras duas propriedades intelectuais de 9escritores negros.