Educação antirracista é um importante mecanismo para enfrentar o racismo estrutural

Pesquisa mostra que 21% dos docentes autodeclarados brancos dizem não saber como lidar com situações de discriminação racial

Em janeiro de 2003, tornava-se obrigatória a inclusão de História e Cultura Afro-Brasileira no currículo escolar do Ensino Fundamental e Médio, em escolas públicas e particulares do país. A Lei 10.639 alterava a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) ao entender a necessidade de incorporar a contribuição do povo negro na formação da sociedade brasileira. 

Diferentemente da ênfase eurocêntrica que sempre dominou os livros didáticos – nos quais, por anos, a história de mulheres e homens negros pareceu ter seu prefácio escrito apenas durante o período colonial, com a escravização do povo africano – a determinação de 2003 se somou a outras políticas públicas voltadas à valorização da África, de seus descendentes, cultura e feitos.

Segundo, a Folha de S. Paulo, uma pesquisa feita pelo Equidade.Info, iniciativa do Lemann Center da Stanford Graduate School of Education, mostra que 54% dos professores de educação básica reconhecem casos de discriminação racial entre estudantes.

A investigação foi realizada nos meses de abril e maio deste ano em 160 escolas públicas e privadas de todas as regiões do país, entrevistando 2.889 alunos, 373 professores e 222 gestores. O estudo é resultado de uma colaboração com a Fundação Itaú.

Os dados revelam uma diferença na percepção dos professores sobre a ocorrência de racismo no ambiente escolar. Entre os docentes que se autodeclaram brancos, 48% relataram ter presenciado casos de discriminação racial. Já entre os professores negros, esse número aumenta para 56%.

Essa diferença também é observada entre os estudantes. Enquanto 8% dos alunos brancos afirmam que colegas negros não são respeitados em relação ao fenótipo, entre os estudantes negros essa percepção aumenta para 13%.

Outro dado do estudo mostra que 21% dos professores brancos disseram não saber o que fazer em casos de racismo dentro da escola. Entre os docentes negros, esse número cai para 9%.

Este tema é extremamente importante dentro dos ambientes de ensino, já que este está no topo da lista de locais onde os brasileiros afirmam sofrer violência racial. 

Só em São Paulo, por exemplo no ano de 2023, as denúncias de discriminação em escolas estaduais registradas somente neste ano passaram de 3 mil e incluem relatos de crianças sendo chamadas de “escravo”, “macaco” e “urubu”.

Muitos jovens em especial negros e periféricos, abandonam a escola por não se sentirem pertencentes a ela, se pensarmos em uma educação que enfrente este racismo estrutural, a escola ajuda a criar narrativas e valorização.

O que podemos fazer?
O envolvimento das famílias com as rotinas da escola é muito importante para o fortalecimento de um ensino antirracista. Quando se fala de educação, os ambientes escolar e doméstico se complementam e, por isso, quanto mais envolvidos com o dia a dia dos jovens, mais benefícios todos colhem, para além de criarmos agendas que antirracistas que questionem o racismo estrutural, o privilégio branco, precisamos ter agendas efetivas públicas, obrigatórias e acompanhadas de enfrentamento ao racismo.

Fonte Folha de São Paulo

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