Neste ano, a executiva e Vice-presidente de Impacto Social do iFood, Luana Ozemela será a embaixadora da segunda edição do Fórum Pacto das Pretas, o evento acontece no dia 25 de julho, em São Paulo, no Teatro Sesi. O Fórum representa uma oportunidade para mulheres negras se unirem, trocarem experiências e aprenderem estratégias para superar obstáculos no mundo corporativo em relação a ESG, diversidade, inclusão e sustentabilidade.
O tema deste ano é “Investimento Privado: Uma estratégia de Transformação Social da Mulher Negra” e busca reunir também lideranças e aliados do setor privado, sociedade civil e demais agentes interessados na pauta racial com intersecção de gênero.
Outra novidade que acontecerá durante o evento é a cerimônia de premiação da segunda edição da “Powerlist Mulheres Negras transformando histórias”, realizada pelo Mundo Negro e que reconhece o trabalho de 10 mulheres que conquistaram relevância e geraram impacto social em suas comunidades através da atuação em diferentes segmentos.
A embaixadora do Fórum Pacto das Pretas também encabeça diversas iniciativas bem-sucedidas, sendo co-fundadora da DIMA, PreCapLab, GryndTech e Blackwin. Com mais de duas décadas de experiência em 20 países, ela é uma economista e investidora reconhecida, responsável pela estruturação de investimentos de impacto social que totalizam $500 milhões de dólares. Além dos títulos que acumula pelo trabalho de mais de 20 anos no setor corporativo, em 2023, Luana Ozemela foi reconhecida como uma das 100 mulheres da Inovação pela Revista Época.
Ao Mundo Negro, Luana destacou a importância do diálogo com os aliados para criar acesso igualitário a oportunidades e tornar a inclusão efetiva uma realidade no mercado brasileiro. Além de ressaltar que “a diversidade na liderança corporativa é uma questão urgente”.
Acompanhe a entrevista completa:
Mundo Negro – Como embaixadora do Fórum Pacto das Pretas, o que espera do evento deste ano?
Luana Ozemela – O Fórum Pacto das Pretas é mais que um encontro liderado por mulheres negras, ele é um programa para mulheres negras se unirem, compartilharem experiências e aprenderem estratégias para superar obstáculos, obter uma riqueza de conhecimentos e se inspirarem com outras mulheres negras e líderes não negros à frente dos seus pares em matéria de ESG (environmental, social and Governance), diversidade, inclusão e sustentabilidade.
O Pacto das Pretas é uma iniciativa extremamente necessária que escancara a falta de diversidade no mundo corporativo, mas que também discute ações concretas para criar acesso para todas, por isso dialogar com os aliados é uma necessidade elementar e urgente. Me sinto extremamente honrada de me tornar embaixadora em 2023 e espero que avancemos no diálogo sobre os investimentos necessários para tornar a inclusão efetiva uma realidade no mundo corporativo brasileiro.
MN – Como você vê a contribuição de empresas privadas atualmente para mudança no cenário social ligado às mulheres negras?
LO – No Brasil, como em muitos outros países, temos observado esforços para aumentar a diversidade e inclusão, mas ainda é irrisório o percentual de mulheres negras em cargos de alta liderança corporativa.
Algumas empresas, como o próprio iFood, assumiram compromissos públicos e estão implementando iniciativas e programas de diversidade para acelerar a transformação. Entre eles, o compromisso de chegar a 30% de pessoas negras em cargos de liderança. Na minha vice-presidência ultrapassamos essa meta de largada com mais de 40% de pessoas negras e mais de 50% de mulheres. Os dois cargos mais altos da VP são ocupados por mulheres negras. Mas não é somente sobre representatividade, nós colocamos a meta de 100% dos colaboradores concluírem a trilha de letramento racial. Também eliminamos os gaps salariais de gênero e raça olhando para os dados a cada ciclo de méritos e promoções e não toleramos micro agressões.
No entanto, desafios e preconceitos sistêmicos ainda existem sem sombras de dúvidas, dificultando o progresso das mulheres negras na conquista de cargos de liderança. É fundamental continuar medindo, promovendo a inclusão e quebrando barreiras para que todas tenham oportunidades iguais no mundo corporativo.
MN – Para você, as empresas estão preparadas para trabalhar com líderes negras? Existe abertura?
LO – Em primeiro lugar, é importante observar que a diversidade na liderança corporativa é uma questão urgente, mas que infelizmente enfrenta volatilidade no seu interesse pela sociedade e empresas. A questão ganha mais ou menos visibilidade conforme vários fatores, como atitudes da sociedade, eventos como o assassinato de George Floyd, reformas na cultura da empresa e políticas governamentais.
Além disso, as empresas e, em particular, os líderes e colaboradores nessas empresas precisam se questionar sobre seus vieses e aprender sobre a história da população negra e as dinâmicas do racismo nas relações no dia a dia. Não são as pessoas brancas que devem ser os que determinam se as mulheres negras estão prontas para posições de poder e liderança. Mas ainda se escuta esse tipo de questionamento. As mulheres negras já assumiram o controle de seu próprio destino e tem historicamente trabalhado para se fortalecer, sem precisar da aprovação ou dúvida de ninguém sobre suas capacidades. O que quero enfatizar é a importância da autoconfiança e da autodeterminação das mulheres negras e quanto isso repele dúvidas e abre caminhos nas empresas certas e onde elas conseguirão se destacar. As empresas mais preparadas conseguirão reter essas mulheres e acelerar talentos criando uma vantagem competitiva no mercado onde atuam.
MN – De que maneira eventos semelhantes ao Pacto das Pretas podem contribuir com a transformação social da mulher negra?
LO – No Brasil corporativo, a executiva negra frequentemente trabalha em equipes onde são as únicas representantes da população negra do país. No momento, em que você vem para eventos como o do Pacto e vê outras centenas se preparando, investindo e confiantes para assumir cargos cada vez mais seniores, superamos o pensamento arcaico de que só há espaço para uma, mostrando que há espaço para todas.